Morrem moços os amados dos
deuses. / Os deuses devem odiar quase todos os homens velhos de hoje / os
homens rançosos que não morrem. / Porque não os querem os deuses / porque não
os chamam os deuses / e os deixam criar ranço na terra?! / Todos esses velhos,
presos à recusa de viver / obedientes à letra da lei / os deuses, que são vida,
fluidez e movimento / deixam-nos entregues à engrenagem suja do egoísmo / que
gira sem parar sobre si mesma. / O inferno sobre a terra.
Não compreendo jamais quem se
queixa de solidão. / Estar só é uma das maiores alegrias da vida. / Pensar por
si, agir, olhar o mundo / não ser interrompido nas relações com o fundo das
coisas.
Nada resta por salvar, agora que
tudo se perdeu / a não ser um núcleo minúsculo de silêncio no coração / como um
olho de violeta.
Eu não sou um mecanismo / um
conjunto de peças isoladas / e não é porque a máquina não funciona que me sinto
doente. / Se estou enfermo, as feridas da alma são causa / as chagas do eu
emotivo mais profundo. / E as feridas da alma são lentas, lentas, somente o
tempo as cura / o tempo e a paciência, e um certo arrependimento difícil / um
longo, difícil arrependimento. / É preciso entender que a vida se engana e
libertar-se / da eterna repetição do erro / que a humanidade inteira resolveu
santificar.
Os que falam demais em lealdade /
são eles próprios desleais / e se arreceiam do contra golpe.
Será a vida uma luta? Será o
longo combate? / Assim é. Luto sem cessar / porque a isso sou forçado. / No
entanto, não me interesso pela guerra, pela luta / pelo combate sou levado de
roldão.
Vocês pensam que é fácil mudar? /
É muito difícil mudar, ser diferente. / Há que transpor o rio do esquecimento.
Há gente demais sobre a terra /
gente insípida, sem sal, proliferante. / E, sempre a saltitar / roem o rosto do
mundo / e dele fazem um deserto.
(“Pansies” – David Herbert Lawrence. Trad. Sérgio Milliet).
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