Sagrado significa algo que os humanos consideram santo, puro, venerável,
intocável ou inviolável. O vocábulo tem sido aplicado a: (1) deuses, cultos, ritos,
imagens; (2) idéias, princípios, números, palavras, ensinamentos, mandamentos,
relações; (3) mestres, profetas, sacerdotes, monges; (4) animais, como o escaravelho
e a vaca; (5) cidades, como Jerusalém e Meca; (6) objetos, como cálice, espada,
livro, totem, cristais; (7) relíquias cristãs da crucifixão, tais como:
fragmentos da cruz, cravo, espinho, sudário; (8) formas e lugares naturais como
astros, árvores, pedras, montanhas, grutas, lagos.
Sagrado é rótulo que os humanos colam em todas essas coisas. Exemplos:
(1) Vida sagrada, rótulo de um tipo
de existência implicado nas relações humanas com o mundo físico e espiritual.
(2) Templo sagrado, rótulo da
construção material e ideal dedicada a cultos e rituais religiosos e místicos.
(3) Bíblia sagrada, rótulo de uma
coleção de 73 livros distribuída em duas partes: a primeira, produzida pelos judeus
(antigo testamento) e a segunda, produzida pelos cristãos (novo testamento).
(4) Sagrada família, rótulo
reducionista e estereotipado que o sacerdócio católico colou na família de José
e Maria, sem mencionar os irmãos e as irmãs de Jesus. (5) Sagrado coração, rótulo católico ao sentimento de amor que havia em
Jesus. (6) Hora sagrada, rótulo do
momento do dia dedicado à prece e à meditação. (7) Palavra sagrada ou “palavra de Deus”, rótulo das mensagens contidas
na bíblia. (8) Número sagrado, rótulo
dos números com significado simbólico: 1 = unidade fundamental do universo:
Deus; 2 = dualidade: ângulo, esquadro, pólos positivo e negativo, matéria e
espírito; 3 = perfeição: tríade, trindade, triângulo; 4 = estabilidade: quadrado,
ar + água + fogo + terra; 7 = duração: dias da criação do mundo, ciclos da vida
humana, velas do candelabro; 10 = mandamentos, soma dos números perfeitos: 1 +
2 + 3 + 4; 12 = divisão: casas do zodíaco, meses do ano, tribos de Israel,
colégio apostólico original; 40 = infinito: possibilidades múltiplas.
Lideranças espirituais da
humanidade cobrem entes físicos e metafísicos com o manto da santidade, da
inviolabilidade, da pureza; desse modo, criam a esfera do sagrado, repositório
de temores, interesses, consolos e esperanças. O homem é a medida de todas as coisas afirmava Protágoras, filósofo
grego. Como há diferentes visões de mundo, cada indivíduo ou grupo humano mede e
valora as coisas segundo a sua própria visão e sagra o que lhe parece digno de cuidado
especial. Conseqüência: o sagrado de um grupo pode ser o profano de outro. Deus
não é sagrado nem profano; existe indiferente aos atributos com os quais os
humanos o qualificam. Os ateus não acreditam na sua existência. Os cientistas
dele prescindem quando estudam e explicam a origem, a estrutura e o funcionamento
do universo. Coisas sagradas para membros de uma religião não têm valor para
membros de outra religião. Templos sagrados de um povo são demolidos por outro.
Conquistadores europeus pisoteiam o solo sagrado (cemitério) dos indígenas americanos.
População assiste com reverencial respeito vacas sagradas transitarem e defecarem
nas ruas das cidades indianas, enquanto os gaúchos fazem churrasco da carne
bovina.
Infantilidades, fantasias,
falsidades e contradições contidas nas escrituras rotuladas de sagradas são vistas como “verdades
sagradas” por seus adeptos. A
cegueira dos crentes convém aos mercadores da fé. Numinoso, o sagrado viceja no terreno da ignorância,
imaginação, fragilidade, temor e esperança, genetrizes da crença religiosa. O ser
humano recorre à ilusão para atenuar vicissitudes da sua fugaz existência neste
planeta. Busca um sentido. Aspira eternidade. Disto se aproveitam os
estelionatários da fé.
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