domingo, 17 de junho de 2012

FIBRA NO FUTEBOL


Habilidade às vezes não basta na atividade esportiva. Diante de certos adversários e em determinadas competições a habilidade individual necessita de complemento. No sumô japonês e na luta xavante, além da habilidade, aplica-se força máxima e violência mínima. Fibra, vontade inquebrantável de vencer, faro de gol, gana para golear (grana eles têm) são complementos de que carecem alguns jogadores brasileiros. Quando fazem um gol, acomodam-se: “fiz a minha parte”. Há gentilezas exageradas com as equipes estrangeiras durante o jogo, atitudes para se mostrar bom moço que, no fundo, revelam carência afetiva e subserviência (ternos abraços, afagos, entrega da bola nas mãos do adversário, mesuras excessivas no pedido de desculpa pela falta cometida). Sintomas de fragilidade mental, falta de têmpera e de virilidade. Jogadores com tais sintomas necessitam assistência psicológica de profissionais capacitados. A seleção brasileira deve ser integrada por gente que não tenha medo de assombração, comissão técnica e jogadores que não se intimidem com a boa fama dos adversários.

O jogo Brasil x Argentina (3x4), em 09/06/2012, foi um bom teste preparatório para os jogos olímpicos. No sistema ofensivo as duas seleções mostraram equivalência, o que se refletiu no placar. Neymar sofreu falta na área argentina ignorada pelo árbitro. Isto se deve à fama desse jogador de cair muito e cavar faltas. O pênalti poderia influir no resultado. A desonesta esperteza dá nisso. Os árbitros estrangeiros estão prevenidos e deixam de marcar até faltas que existem. Se permanecer na seleção brasileira, Neymar precisa deixar de fricotes, ser mais objetivo, não se meter no setor dos zagueiros e volantes da sua equipe, ficar de campana da linha intermediária para frente (como faz Messi, o seu ídolo), moderar a quantidade dos dribles (a qualidade é boa, repertório variado e bonito). Dele se espera mais eficácia nos passes e nas finalizações e menos quedas e reclamações de garotinho mimado.

A defesa argentina não deu sopa e desceu o sarrafo. Já a defesa brasileira assoprou a sopa até amornar e a deu de colher na boca do Messi, que a sorveu sem agradecer. Os gols do argentino resultaram da sua velocidade, simplicidade, objetividade, oportunismo e empenho na execução. Com essas características ele atua na seleção e no seu clube, carrega a bola nos pés com habilidade, corre em diagonal da direita para a esquerda, entra na área e chuta certeiro. Dois gols foram desse jeito na partida de sábado. Os defensores brasileiros apenas acompanharam a corrida do atacante. O seu terceiro gol saiu de fora da área. Depois de escapar de um adversário na linha intermediária ele conduziu a bola livremente até o semicírculo e chutou sem ser molestado.

Em beleza e grau de dificuldade, nenhum gol do argentino superou os gols de placa de Derley e Diego Souza feitos no dia seguinte, domingo, 10/06/2012, e o de Lucas feito na quinta feira, 14/06/201. No jogo Náutico x Botafogo (3x2) Vítor, do meio do campo, passa a bola com pouca força para o goleiro. O jogador do Náutico, Derley, sai em disparada, vence os adversários na corrida, alcança a bola um segundo antes do goleiro, aplica “meia lua” e faz o gol da vitória. Dedica a bela jogada ao seu filho Bernardo, recém nascido. No jogo Vasco x Bahia (2x1), Diego Souza também faz um gol espetacular. Na área, ele dribla os adversários e encobre o goleiro como um hábil e precioso toque na bola. No jogo São Paulo x Coritiba (1x0), Lucas aplica sensacionais dribles na entrada da grande área e chuta em diagonal marcando o gol.    

As jogadas de gol do Messi só se comparam com a jogada do Derley em velocidade, oportunismo e precisão. O argentino é do tipo goleador: insaciável, faz dez gols na mesma partida se a defesa adversária facilitar. Os seus chutes com a perna esquerda, na maioria, são precisos. Às vezes, falha na cobrança de pênalti. Ser goleador não significa ser gênio, nem o melhor jogador do mundo. Just Fontaine, o maior goleador de todas as copas (13 gols em uma só) não era gênio e nem o melhor jogador do mundo. O mesmo se diga de Sandor Kocsis, segundo maior artilheiro de todas as copas (média de 11 gols). Na seleção húngara de 1954, o gênio era Puskas; na brasileira de 1958, era Didi. Participando de 4 copas, Pelé obteve a média de 6 gols. Participando de 4 copas, Ronaldo Nazário obteve a média de 3,8 gols. Messi disputou copa sem fazer gol (2010). Atacante robótico, embora sofra desarmes, ele aproveita a fraqueza adversária para golear. Messi é deficiente na cobrança de faltas e escanteios, na maioria dos passes, na criação e no cabeceio. Comparado com Deco, Juninho Pernambucano, Marcos Assunção, Oscar, Pirlo e Riquelme, ele ainda é aprendiz. 

A FIFA e os fãs (fanatismo é cegueira) consideram Messi o melhor jogador do mundo. Esta admiração pelo argentino contribui para o fraco desempenho do fã em campo (caso de Neymar). Se aquela avaliação fosse correta, indicaria que o futebol mundial vai mal das pernas, postas as deficiências do eleito. No Brasil, pelo menos, há excelentes jogadores em equipes bem entrosadas. Na Europa (copa da UEFA, 2012) as seleções exibem bom entrosamento, futebol cibernético, mas as atuações individuais são sofríveis. As velhas estrelas já queimaram todo o combustível. Aguarda-se o surgimento de novas estrelas.

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