Em torno dos escândalos “Cachoeira”
e “Mensalão” e nas reuniões com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o
ex-presidente Luiz Inácio da Silva faz o que melhor sabe fazer desde os tempos
em que era líder sindical: negociar. Graças
a essa habilidade, ele se tornou o presidente mais poderoso em períodos
democráticos da história republicana do Brasil. As emissoras particulares de TV
refrearam o ímpeto oposicionista para não perder a concessão outorgada pelo
governo federal (CR 223 + 49, XII). Em jogo: milhões de dólares e dívidas com o
banco estatal. Jornalista de credibilidade nacional foi demitido de emissora de
TV privada por crítica sistemática ao governo. O pessoal do ramo entendeu o
recado: ou a empresa demite jornalista inconveniente ou perde a concessão. A
liberdade de imprensa ficou reservada ao jornalismo impresso e à rede de
computadores. No século XX, evidenciou-se o domínio dos meios de comunicação
social pelos detentores do poder econômico. O direito de propriedade assumiu a
primazia. A liberdade de imprensa desvinculou-se da verdade e da honestidade. A
informação é manipulada segundo os interesses do dono do veículo.
Luiz Inácio agregou partidos
grandes, médios e pequenos ao seu grupo político e sindical, ampliou o número
de ministérios para atender a essa clientela e a manteve nutrida de benesses
durante todo o mandato. Obteve folgada maioria no Congresso Nacional. Isto lhe
garantiu blindagem contra eventuais processos por crime de responsabilidade
política. Permitiu-lhe, ainda, controlar comissões parlamentares e executar o
seu programa de governo. Conseguiu se reeleger e eleger a sucessora, mulher sem
carisma e sem experiência pessoal em disputa por cargos eletivos. Coube à companheira
a tarefa de guardar o cargo para o companheiro. Daí a insistência de Luiz Inácio
junto ao partido para lançá-la candidata. Desse modo, ele deu seqüência ao
projeto de permanência da sua facção no governo por 20 anos.
Luiz Inácio nomeou 6 e a
sucessora nomeou 2 ministros para o Supremo Tribunal Federal. A facção lulista soma
8 ministros entre os 11 daquele tribunal. Isto garante ao grupo governista
apoio judicial em questões relevantes. Luiz Inácio conversou com os ministros
Dias Tóffoli, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. A presidente
Dilma Rousseff conversou com Ayres Britto, presidente do STF. De todas essas
conversas, vazou a mantida com Gilmar. Soube-se, então, que em todas essas
conversas entrava o próximo julgamento do processo apelidado de “Mensalão”.
Entendimento entre parlamento,
chefia de governo e tribunal ocorre também em outros países. Serve de exemplo a
crise entre o presidente e o congresso dos EUA de um lado e a corte suprema de
outro, nos anos 30, do século XX. Depois de duradoura queda de braço com o
presidente Roosevelt e com o congresso e de declarar inconstitucionais dezenas
de leis, a corte suprema recuou e apoiou o programa de desenvolvimento social e
econômico do governo (New Deal) ao decidir,
após 1937, pela constitucionalidade das leis federais impugnadas por representantes
das altas finanças e da indústria. (Conferir: A Corte Suprema e o Direito Constitucional Americano. Leda Boechat
Rodrigues. Rio, Forense, 1958, p.118).
Luiz Inácio superou Fernando Henrique em dimensão
histórica e prestígio pessoal. Fernando Henrique favoreceu a classe rica e o
capital financeiro. Zombou da classe média, ofendeu os aposentados e
menosprezou a classe pobre. O projeto de manter o seu grupo no poder por longos
anos gorou, enquanto o de Luiz Inácio progride. A política deste, voltada para
as classes desfavorecidas, torna difícil o retorno do grupo tucano ao poder
pela via democrática. Só um golpe de Estado tornará isto possível. O grupo tucano
terá de fazer o que a UDN e os militares da aeronáutica fizeram como Getúlio
Vargas. Pelo voto, ninguém o venceria. Então, mataram-no (Virgínia Lane dixit). Pelo voto, ninguém vencerá Luiz
Inácio.
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