terça-feira, 31 de agosto de 2010

POLÍTICA

PESQUISA E MÍDIA: AS DUAS PROSTITUTAS.

Com o título acima, publiquei artigo no jornal Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, no ano eleitoral de 1998. Durante vinte anos, aproximadamente, até o seu fechamento em 2008, eu enviei a esse jornal artigos sobre política, direito, misticismo, esporte, costumes, todos publicados sem cortes, porque Hélio Fernandes, dono do jornal, tinha ojeriza à censura. Como simples colaborador, eu enviava os artigos semanal, quinzenal ou mensalmente. No referido artigo abordei matéria sobre a qual pairava silêncio absoluto: a credibilidade das pesquisas. Os jornais e as emissoras de TV não a questionavam. Tabu superado, a Justiça Eleitoral regulamenta a matéria, porém a margem de manobra continuou enorme. Isto vem confirmado por recente mensagem que circula na rede de computadores. Eu acreditava na seriedade e na ética do Partido dos Trabalhadores – PT, na sinceridade e na honestidade dos seus membros e diretores. Daí a simpatia que lhe devotei no citado artigo adiante reproduzido. A partir das eleições de 2006 inclusive, deixei de votar em candidatos do PT. No período do seu governo em nível federal (2003/2006), os intestinos do PT foram expostos e verteram podridão cujo fedor espalhou-se pelo país. Luis Inácio saiu do casulo. Lula, o metalúrgico, deixou de existir. Entrou em cena Luis Inácio, o mentiroso, o corrupto, o chefe da quadrilha que atuou com a mesma ilicitude que criticava no governo Fernando Henrique. Houve rodízio de quadrilhas: saiu a do PSDB e entrou a do PT. A bandalheira prosseguiu com maior furor e impunidade. A caterva petista, sedenta de benesses, ocupou todos os espaços, estratégicos ou não, da administração pública direta e indireta. Aí vai o texto que, mutatis mutandi, mostra-se bem atual, para infelicidade da nação.

O dinheiro e o interesse econômico não prostituíram apenas os esportes, mas, também, a mídia e os institutos de pesquisa. O método científico é desvirtuado para servir aos que pagam pelas pesquisas. A indução apressada e insuficiente introduz no mercado remédios que colocam em perigo a saúde e a vida dos consumidores; ou apresenta conclusões científicas sensacionalistas para depois serem desmentidas. No processo eleitoral, o método indutivo é utilizado com essa mesma leviandade. O objeto da pesquisa (opinião dos eleitores) é inconstante, incerto e facilmente manipulável. Não se presta, pois, ao rigor científico. Os eleitores nem sempre revelam o seu voto com sinceridade. A pesquisa, inobstante seu tratamento legal, atenta contra o sigilo do voto, pilar da democracia brasileira; é um meio para a propaganda subliminar. Os agentes da pesquisa podem escolher setores que favoreçam o cliente. Na região do ABC paulista, por exemplo, a pesquisa favorecerá Luis Inácio; na região dos Jardins, Fernando Henrique. A revista Época, de 21.09.1998, Editora Globo, por exemplo, enaltece a figura de FH e exibe, à página 74, uma pesquisa que agride a inteligência do leitor. Em todos os itens, o vencedor é FH, obviamente; Lula, Ciro e Enéas são os perdedores. FH é considerado: (1) o mais leal ao partido (só se for ao PFL); (2) personalidade forte que não se sujeita a controle (exceto ao de Sérgio Mota, Antonio Carlos Magalhães, Mendonça de Barros, FMI, etc.); (3) firme nos seus pontos de vista (de hoje, porque de ontem, ele pede que esqueçam); (4) pessoalmente honesto (apenas muda de idéia de acordo com os seus interesses e propósitos pessoais, utiliza propaganda enganosa, favorece os interesses de banqueiros, usineiros, empreiteiros, mega empresários, aproveita-se do cargo para se promover politicamente mudando as normas constitucionais e legais em seu benefício, vende o patrimônio público sem ouvir o povo); (5) leal aos interesses daqueles que o apóiam (sem comentário); (6) melhor serviu no passado aos interesses do povo brasileiro (sim, baixando o porrete nos sem-terra e nos flagelados do Nordeste, criando o maior contingente de desempregados e de miseráveis e a maior dívida externa de todos os tempos e liderando o governo mais corrupto e plutocrático da história do Brasil, como se vê do ranking publicado pela organização alemã citada na “Folha de São Paulo”, além da notoriedade internacional desse fato); (7) capaz de prestar no futuro bons serviços ao Brasil (com esse passado?); (8) mais agrada às massas populares brasileiras (à macarronada e à pizza, certamente); (9) mais merece o apoio dos nacionalistas (dos EUA, com certeza). A pesquisa em tela, publicada na citada revista, foi realizada provavelmente nos Jardins e no Palácio do Planalto e o agente que colheu as informações deve ser o maior bajulador do planeta. Basta ter mediana inteligência, psicologia comum (resultante da experiência de vida) e estar bem informado sobre os assuntos brasileiros, para perceber que a situação verdadeira e correta é a seguinte: (1) com exceção do item 5, nos demais Lula deixa FH na rabeira; (2) com exceção dos itens 5 e 8, nos demais Enéas bate FH de 10 a 0; (3) com exceção dos itens 5, 8 e 9, nos demais Ciro é bem superior a FH. Apesar dessa evidência, a pesquisa pode surtir efeito tendo em vista o aspecto irracional de uma eleição. Nota-se, efetivamente, que uma parcela do eleitorado brasileiro move-se pelo preconceito, pela aparência, pela simpatia, pela gratidão, pela ajuda financeira, pela promessa de benefícios pessoais ou locais e pelo volume de informação (e não pelo seu conteúdo, cuja análise dispensa). Além disso, existem eleitores que votam visando assegurar as vantagens e os privilégios de que desfrutam sob o atual governo. A mídia brasileira apóia o governo e a reeleição de forma escancarada e debochada, porque recebe muito bem para isso. A diferença de tempo nas emissoras de rádio e de televisão entre os candidatos é um acinte que se não compadece com a isonomia própria do regime democrático. O tempo há de ser distribuído de modo equitativo em razão da importância e da relevância do cargo em disputa e não proporcionalmente às cadeiras dos partidos no Congresso Nacional, como disciplinado na lei em vigor. Urge adequar a legislação eleitoral à democracia declarada na vigente Constituição.

Doze anos depois da publicação desse artigo, a legislação eleitoral mudou, mas os costumes continuam os mesmos. Os institutos de pesquisas continuam a escolher as cidades e os redutos da sua clientela e a manipular os dados obtidos junto a um público minúsculo. Depois, enviam relatório à Justiça Eleitoral para satisfazer formalidade burocrática. Na esfera federal, os partidos inverteram as posições: o PT passou para a situação; o PSDB para a oposição. Ambos com o rabo preso. Nenhum apura a roubalheira do outro. O problema da corrupção na administração pública resta intocável. Os corruptos eleitos recebem o aval do eleitorado. O voto popular os absolve e os libera para novo ciclo de ladroagem.

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