quinta-feira, 26 de agosto de 2010

VIAGEM

DIÁRIO DE VIAGEM
I
Penedo/RJ – Sábado, 21/08/2010 - 08,30 horas.
Com o nosso EcoSport preto, hidramático, Jussara e eu fomos a Minas Gerais visitar nossos amigos, os irmãos Roberto Amin e Vânia Amin, que moram em Visconde do Rio Branco (creio que a cidade recebeu esse nome quando o barão ainda era visconde) e nossa amiga Stella, que mora em Ubá. Dias ensolarados, com poucas nuvens. Noites enluaradas, céu límpido e estrelado. A viagem de ida foi demorada: Resende – Volta Redonda – Juiz de Fora - Ubá. A estrada passava por dentro de algumas cidades e tínhamos de atravessá-las de ponta a ponta. Lentidão no trânsito devido aos semáforos, às lombadas, à travessia de gente e de outros bichos. Em Volta Redonda havia obras nas ruas que impediam o livre trânsito de veículos. Em município que não lembro o nome, chegamos a um entroncamento em que havia duas placas: uma indicava Juiz de Fora e outra, Três Rios, Salvador e Belo Horizonte. Enveredamos pela primeira, pista única, estreita, mal pavimentada e sem acostamento. Se fosse escolhida a segunda, possivelmente entraríamos logo na BR-040 (Rio de Janeiro-Belo Horizonte) com duas pistas e chegaríamos mais rápido a Ubá. Durante todo o percurso, a partir de Volta Redonda até a BR-040, passamos por muitos bairros pobres, casebres, gente mal alimentada, descalça e mal vestida. Creio que esse itinerário foi projetado para mostrar ao turista o lado miserável da população do interior do Brasil. Finalmente atingimos a rodovia federal, a 30 minutos de Juiz de Fora. No trajeto de Juiz a Visconde, o cenário melhorou um pouco. Na travessia de Juiz, passamos pelo centro da cidade e testemunhamos a sua modernidade e aparente riqueza, o intenso movimento de veículos e de pedestres nas ruas e lojas. Em Ubá e Visconde também notamos, em momentânea e proporcional avaliação, trânsito intenso de carros, motocicletas e pedestres. Chegamos à conclusão de que mineiro gosta não só de política, queijo e marmelada, mas também de movimento. O mineiro sossegado, picando fumo para enrolar na palha ao mesmo tempo de um dedinho de prosa com o compadre, restou no folclore. O cotidiano é outro. O fumo já vem enrolado em papel dentro de carteiras de cigarros adquiridas na banca da esquina. O cigarro não é aceso no tição retirado do fogão a lenha e sim na chama do fogão a gás ou com ajuda do isqueiro e do palito de fósforo. O dedinho de prosa é muita conversa animada em que se misturam assuntos religiosos e profanos, alegres e tristes, coisas da cozinha, da sala e do quarto, da família, da cidade e do mundo. Os produtos da mais recente tecnologia, de uso doméstico, coletivo e individual estão nas vitrines das lojas, nas mãos, nas bolsas e nas casas da classe média do interior do Estado.
Ubá/MG – Sábado, 21/08/2010 - 15,00 horas.
No posto Uirapuru, na entrada de Ubá, aguardamos Vânia que lá nos foi encontrar acompanhada de Kênya, sua amiga. Feita a apresentação e abraços trocados ali mesmo no posto de gasolina, rumamos para a casa de Stella. Todos já tinham almoçado. Eu calculara o tempo da viagem em 4 horas e gastei mais de 6 horas (trajeto ingrato!). Chegamos na hora do café da tarde. Lá se encontravam Stella, sua amiga Ângela, seus hóspedes e amigos residentes na Europa, Gracinha e Francisco (ela brasileira e ele espanhol), a cozinheira com suas filhas e netos, e o jardineiro. A todos fomos apresentados: muito prazer daqui, muito prazer dali e sorriso autêntico e simpático em todos os rostos. Havia duas cadelinhas que não estranharam a nossa presença, quiçá porque sentiram que também mimávamos Pretinho, Bóris, Brigitte e Laika, os cachorros e cachorras da nossa casa. Por volta das 10,00 horas desse dia, na lanchonete de um posto de gasolina onde paramos para abastecer o automóvel, Jussara e eu tomamos café com leite; ela comeu roscas de polvilho e eu coxinha de galinha. Quer por esse desjejum, quer pelo cansaço da viagem, estávamos sem disposição para almoçar quando chegamos a Ubá. Para não fazer desfeita à gentil anfitriã, enganamos o estômago com um bife delicioso regado com uma taça de vinho tinto. A sobremesa aprontada por Stella (cocada) e Kênya (pudim) estava divina; o estômago aceitou-a com satisfação. Passamos uma tarde agradabilíssima. Vistoriamos o bem cuidado quintal da casa de Stella. Hóspedes e anfitriã combinaram que todos almoçariam no dia seguinte em Visconde.
Visconde do Rio Branco/MG – Sábado, 21/08/2010 – 18,00 horas.
Antes do anoitecer, fomos para Visconde. Há muitos anos deixei de dirigir automóvel à noite por causa da minha vista. Apesar dos óculos com lentes de graus adequados, a minha visão ofusca-se com a luz dos faróis dos outros veículos; também sinto dificuldade em distinguir as margens da pista. Por medida de segurança, prefiro dirigir com a claridade do dia. Vânia seguiu à frente com o seu EcoSport preto. Trajeto de 17 km. Escurecia quando chegamos. Fomos direto ao hotel, na Praça 28 de Setembro, centro da cidade. A meu pedido, Roberto reservara apartamento para um pernoite. Na portaria preenchemos as fichas, vistoriamos o apartamento 210, deixamos a nossa bagagem e fomos para o prédio onde eles moram. O apartamento do Roberto fica acima ao da Vânia. Trocamos forte e saudoso abraço. Vânia aproveitou o vão de luminosidade e ventilação do prédio para ali colocar mesa de tampo circular de vidro, com quatro cadeiras, como permite o térreo apartamento. Disse-me que aquele ambiente era próprio para tomar cerveja e conversar, pois ficava ao lado da cozinha e os petiscos podiam ser passados pela janela interna. Manifestei a vontade de experimentá-lo. Ali tomei cerveja e degustei pedacinhos de queijo. O Roberto me acompanhou. Por causa da sua dieta, tomou refrigerante. Conversamos muito e múltiplas piadas foram contadas. Lembramos muito da alegria e da vivacidade do Mauro, irmão deles já falecido. Eles sugeriram que ficássemos mais um dia em Visconde e ocupássemos o aposento preparado pela Vânia. Aceitamos a sugestão. No telefonema do dia anterior, entendi que Vânia hospedava um casal que veio da Europa. Destarte, incomodaríamos menos se nos hospedássemos no hotel. No entanto, o casal hospedara-se em Ubá, na casa da Stella. Constatado o equívoco, mudamos então, no dia seguinte, de mala e cuia para o apartamento da Vânia.
Visconde do Rio Branco/MG – Domingo, 22/08/2010.
Na manhã de domingo, tomamos café no hotel e saímos a passear pela cidade. Começamos pela igreja matriz e caminhamos pelas ruas do centro até a periferia e voltamos. Como a cidade é grande, gastamos bem uns 15 ou 20 minutos para conhecê-la. Depois, sentamos em um banco de madeira, na praça em frente à igreja matriz, à sombra de uma árvore e jogamos conversa fora por meia hora, aproximadamente, enquanto apreciávamos o movimento. No banco ao lado sentou-se um casal de idosos. Cumprimentamo-nos e trocamos sorrisos de simpatia. Em torno da praça, empertigada, peito estufado, nádegas empinadas, caminhava uma senhora de 78 anos e 6 meses de idade. Percorria o mesmo trajeto várias vezes a passos curtos e rápidos, de tênis e roupa esportiva colada ao corpo. Mais desfilava do que se exercitava. Pela postura, deve ter sido Miss Visconde em 1950. Fui à agência do Banco Itaú ali perto. Tentei retirar dinheiro, mas não consegui, porque a máquina teimava em informar que a minha senha estava errada, quando na verdade estava certa. Acho que banco mineiro não reconhece cartão de banco fluminense.
Quando acondicionávamos nossas coisas nas bolsas, toca o telefone do apartamento. Era o Roberto na portaria do hotel. Viera nos buscar enquanto Vânia fazia compras no supermercado localizado logo acima, na mesma rua. Como um bom menino de 59 anos de idade, amigo jovial, ele nos ajudou a descer com a bagagem e a colocá-la no automóvel estacionado na garagem do hotel. Paguei as despesas com o cartão de crédito. Na rua, em frente ao hotel, aguardamos o regresso da Vânia com as compras. Depois, seguimos em direção ao apartamento dela. Pouco antes de lá chegar, paramos em frente à casa do patriarca da família Amin, onde Roberto e Vânia nasceram e se criaram. Paredes altas, cômodos espaçosos, alguns com teto de madeira artisticamente trabalhada, bonito assoalho de boa madeira, havia na casa vibração que lembrava o encanto das antigas fazendas agropecuárias. Deixamos o carro estacionado na garagem da casa e seguimos andando até o apartamento. Ficamos inteiramente à vontade, graças aos cuidados e à fina educação de Vânia e Roberto. Jussara, eu e Roberto subimos para conhecer o apartamento dele, onde há um canário belga tratado com carinho. O passarinho imita o assobio de Roberto e passa a cantar maravilhosamente. Tanto no apartamento de Vânia como no de Roberto haviam bem cuidadas e decorativas relíquias da família.

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