terça-feira, 17 de agosto de 2010

POLÍTICA

III
Repercutiram no mundo, as mudanças no Leste europeu ocorridas nas últimas décadas do século XX. Mikhail Gorbachev iniciou a reestruturação política e econômica da URSS (perestroika, 1985) como semente da paz mundial. Encerrou a guerra fria (URSS x EUA) e ensejou a unificação da Alemanha (queda do muro de Berlim, 1989), a independência de várias nações da Europa Oriental (1989/1991) e a dissolução da federação soviética (1991). Na América Latina, a esquerda abandonou o propósito de implantar o socialismo à força e de substituir, num só golpe, o tipo capitalista pelo tipo comunista de sociedade. Decidiu implantá-lo paulatinamente, minando o modelo liberal de Estado com os mecanismos da democracia social e abusando do poder de emendar a Constituição. Pobreza e estratificação social continuam a motivar o projeto socialista fundado na igualdade e no nivelamento.
No Brasil, a esquerda afinou estratégia e discurso: ascensão dos pobres à classe média através da elaboração e execução de projetos sociais; elasticidade à função social da propriedade, organizando movimentos invasores na cidade e no campo; greve nos serviços essenciais à população como arma para o trabalhador obter melhoria salarial; pesada carga tributária como instrumento da justiça distributiva; acesso de todos à propriedade privada com crédito facilitado aos pobres e incremento da construção de casas populares providas de água encanada, energia elétrica, saneamento básico; distribuição gratuita de remédios genéricos, assistência médica domiciliar e hospitalar e acesso ao mercado e bens de consumo aos pobres e necessitados; pequenos produtores rurais organizados em cooperativas; apoio e incentivo à pequena empresa; extensa regulamentação da produção e circulação de bens e serviços; participação da sociedade civil nos órgãos da administração pública direta e indireta (simulacro de democracia onde prevalecem as decisões dos agentes do governo).
O eleitor brasileiro aguarda o período posterior à eleição: gestão da coisa pública. O candidato à presidência da república deve, então, indicar e explicar os procedimentos efetivos para evitar a corrupção e os delitos do colarinho branco, especialmente no que tange a: cartões corporativos, verbas para organizações civis, aparelhamento partidário da administração pública, funcionários fantasmas, excesso de viagens ao exterior, benefício a países devedores mediante renúncia a créditos brasileiros, licitações fraudulentas, desvio de verbas e de material, obras maquiadas, serviços mal prestados ou nem prestados apesar de pagos. Além disso, o candidato deve informar com clareza: (i) como reduzirá tarifas abusivas cobradas pelas concessionárias e autorizadas pelas agências reguladoras; (ii) as medidas preventivas e os recursos disponíveis em relação às estiagens e às inundações nas diferentes regiões do país; (iii) a percentagem da receita pública que caberá (1) à propaganda do governo, (2) à saúde, (3) à educação, (4) à ajuda a outros países e (5) à ajuda aos brasileiros flagelados.
Parcela dos eleitores espera honestidade e eficiência do gestor da coisa pública; outra parcela espera favores, indiferente à moralidade e à eficiência. Há candidato que coloca a máscara da honestidade para contentar a primeira parcela e abre a cornucópia à segunda. A hipocrisia é a alma da politicagem. Nas entrevistas com os candidatos à presidência da república realizadas pela rede Globo de TV, na semana de 09/08 a 14/08/2010, durante o Jornal Nacional, os jornalistas mostraram-se agressivos e inoportunos com Dilma e Marina. Reduziram o tempo das candidatas com interrupções impertinentes. Em elegante estilo e boa educação, sem sorrisos artificiais e enganosos, Marina expôs suas idéias com clareza, exibiu segurança e pensamento ancorado no estudo, na reflexão e na experiência de vida, inclusive como parlamentar e ministra de Estado. Serra e Dilma estavam mais preocupados com a receita dos marqueteiros. Faltou-lhes autenticidade e sinceridade, o que sobrou em Marina.

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