sábado, 7 de agosto de 2010

LAMENTO

AZARES DE UM DESCONHECIDO
Olhos castanhos sedutores / muitos foram seus amores / pousam sobre o seu rosto / com ternura e suave gosto / Mas, oh! Que amargura / Lívido, sou tomado de tontura / amigos dela de mãos dadas / a me quebrarem de pauladas.
Batatinha quando nasce / esparrama pelo chão /mãezinha quando dorme / põe a mão no coração / outra mão sob a coberta / se agita bem esperta. / Do trabalho bem cansado / papaizinho dorme ao lado / depois do meu olhar farto / me mandou sair do quarto.
Os belos versos são de autor desconhecido. O pouco que se sabe é que ele teria nascido na cidade de Ponta Grossa, no Estado do Paraná, no século passado, em casa vizinha a uma padaria. Chamava-se Antonio, tinha mancha de nascença no cotovelo direito. Já moço, 1,63 de altura, pesando 63 kg., começou a escrever poesias. Gostava muito da poesia. Respirava a poesia, dormia com a poesia, comia a poesia e teve filhos.
Acusaram-no de plagiar poetas como Camões, Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Vinicius de Morais. Muito aborrecido com essas calúnias, mas sem disposição de ânimo para processar os caluniadores, o poeta saiu pelo mundo sem deixar rastro. Há noticias vagas de que estivera pelas bandas do Rio de Janeiro, no Brasil. Ninguém soube explicar se eram bandas de música, bandas largas ou bandalhas.
Comenta-se que ele andava pelas areias da praia de Ipanema, às vezes entrava no mar, ficava poucas horas sob o sol, acabrunhado, censurando a exposição de corpos daquelas moças desavergonhadas, com pedacinhos de fazenda que mal cobriam a genitália, todas muito feias, até que um dia achou uma delas bonitinha e resolveu fazer os seguintes versos:
“Olhe, que coisa mais linda / mais cheia de graça/ é ela menina / que vem e que passa / ao ritmo do amor / Moça do corpo doirado / do sol de Ipanema / o seu rebolado / é mais que um poema / é a coisa mais linda / que já vi passar”.
Dizem que o poeta paranaense não publicou esses versos. Algum cretino poderia acusá-lo de plágio e ele estava cansado de sofrer injustiças. Dizem, também, as línguas indiscretas, que ele está compondo uma “Oração de São Francisco” e um poema intitulado “Se” que ainda nem foi publicado e já o acusam de plagiar Kypling! Sofrida essa vida de poeta!

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