segunda-feira, 2 de agosto de 2010

POESIA

Meu Senhor tende piedade dos que andam de bonde / e sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos / mas tende piedade também dos que andam de automóvel / quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos na direção. / Tende piedade das pequenas famílias suburbanas / e em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos / mas tende mais piedade de dois elegantes que passam / e sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina./ (...) / Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres / que ninguém mais merece tanto amor e amizade / que ninguém mais deseja tanta poesia e sinceridade / que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade. / (...) / Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas / a vida fere mais fundo e mais fecundo / e o sexo está nelas, e o mundo está nelas / e a loucura reside nesse mundo. / Tende piedade, Senhor, das santas mulheres / dos meninos velhos, dos homens humilhados – sede enfim / piedoso com todos, que tudo merece piedade / e se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim! (“O Desespero da Piedade” – Vinicius de Moraes).
“O homem que diz sou – não é, porque quem é mesmo – não diz...” (canção popular – Vinicius de Moraes).
Ai! A lua que no céu surgiu / não é a mesma que te viu / nascer dos braços meus./ Cai a noite sobre o nosso amor / e agora só restou a dor / de uma palavra: adeus! / Oh! Mulher, estrela a refulgir / parte, mas antes de partir/ rasga o meu coração. / Crava as garras no meu peito em dor / e esvai em sangue todo o amor / toda desilusão. / Ai! Vontade de ficar / mas, tenho de ir embora. / Ai! Se amar / é ir morrendo pelo mundo afora / é ver na lágrima um momento breve / de uma estrela pura / cuja luz morreu / numa noite escura / triste como eu. (“Canção do adeus” – Vinicius de Moraes).

Tenho nesta vida um só desejo / é encontrar uma razão de ser / procuro em tudo porém em nada vejo / e não acho um motivo de viver. / Não sei se sou desiludida / não sei se sou muito exigente / sei porém que não me atrai a vida / sei e estou disso bem consciente. / Busco na música e na natureza / nas pequeninas coisas que acontece / não nego vejo da criação toda beleza / porém nada disso o coração me aquece. / Caminho indiferente pela vida afora / sentindo em meu ser um turbilhão / às vezes em desalento minh´alma chora / por não saber aplacar essa paixão. / Só uma certeza me mantém feliz / é saber que tudo passa nesta vida / são coisas que sentimos e ninguém diz / coisas que a nossa alma traz guarida. (“Desalento” – Terezinha de Jesus Fonseca).
Colhe-se hoje aqui amanhã acolá / pequenos flocos de amor / pequenos flocos de dor / com o tempo nenhum deles ficará. / Os sonhos são sempre assim / às vezes lindos e coloridos / às vezes negros e doridos / com o tempo eles terão um fim. / Sonhos coloridos flocos de amor / na roda da vida só trazem a dor / o tempo célere sempre continuará / sem fim a roda girará. / Cada volta da roda negra ou colorida / cada sonho bom ou pesadelo / é sinal de alerta é apelo / para acordarmos e sentirmos a vida. (“Flocos” – Terezinha de Jesus Fonseca).
Quanta ternura no ar / quanta ventura a sonhar / é a paz que sempre quis / hoje em mim vejo habitar. / Nas manhãs de sol eu canto / um canto para louvar / e vejo a Terra florir / e quero a tudo amar. / Neste imenso amor que sinto / comungo com todo meu ser / caminhando da Terra ao infinito / sou feliz nada mais posso querer. (“Realização” – Terezinha de Jesus Fonseca).

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