domingo, 15 de agosto de 2010

POLÍTICA

II
O eleitor deve ser informado da importância da política para a sua vida individual e social. A escola, o partido, o governo, devem esclarecer o cidadão sobre a dinâmica política que condiciona os mecanismos sociais. O cidadão deve perceber a extensão da influência do parlamentar e do chefe de governo no seu destino pessoal e coletivo. Não basta, pois, a Justiça Eleitoral informar as atribuições constitucionais dos parlamentares e dos chefes de governo, até porque a experiência mostra que o respectivo exercício deixa muito a desejar quanto à eficiência e à moralidade. Tampouco basta pedir ao eleitor para não vender o voto. A tentação é forte, as necessidades múltiplas e a miséria dramática.
Esperar do eleitor brasileiro médio, pobre e miserável, um voto racional e moralmente valioso é alimentar ilusão. Nas eleições funciona o aparelho digestivo do corpo eleitoral. O eleitor costuma escolher os piores candidatos. Basta olhar a escória humana com assento nas câmaras de vereadores, nas assembléias legislativas e no congresso nacional. Nas eleições de 2006, dos quatro mais representativos candidatos à presidência da república, havia dois excelentes (Cristovam Buarque e Heloisa Helena). O eleitorado escolheu o pior de todos, cujo mandato anterior fora inundado por um mar de ilicitudes administrativas e criminais.
Os fatos, portanto, desmentem a afirmação de que a voz do povo é a voz de Deus (“Vox populi, Vox Dei”). A sacrílega expressão serve ao propósito político de justificar a soberania popular e de retirar da Igreja o monopólio da interpretação da vontade divina. Da garganta do povo – e não da garganta de Deus – sai o grito de guerra e de ódio contra outro povo, a ordem de extermínio dos povos rivais, a determinação de explorar, pela força ou pela astúcia, as riquezas alheias, não só em solo estrangeiro como também no solo da própria comunidade nacional. O povo também tem a sua face demoníaca, tal qual a pessoa humana.
A “sabedoria popular” é um disparate. Servem-se dessa expressão os demagogos para bajular o povo. O avanço da civilização deve-se às elites formadas de técnicos, artistas, cientistas e filósofos. Contemplamos as pirâmides do Egito graças ao conhecimento técnico e matemático da elite egípcia. O faraó ordenou e a massa de operários assentou as pedras. Escutamos música graças aos compositores, à execução dos instrumentistas e à interpretação dos cantores. O trabalho dos inventores, arquitetos, engenheiros, matemáticos, físicos, químicos, biólogos, trouxe conhecimento e melhores condições de vida à humanidade. Filósofos, psicólogos, sociólogos, ajudam os seres humanos a se conhecerem e a compreenderem o mundo em que vivem. A massa beneficia-se da sabedoria das elites, segue lideranças, absorve mensagens, adota condutas padronizadas, decide intuitiva e emocionalmente, erra muito e acerta pouco. Embora a Igreja negue beatificação a certa pessoa, o povo a santifica, presta-lhe culto, faz romarias e súplicas. Exemplos dessa fé e credulidade são as venerações ao Padre Cícero, em Juazeiro/Ceará, e à milagrosa Maria Bueno, em Curitiba/Paraná.
No Brasil, os partidos contribuem para o atraso político ao apresentarem candidatos imorais e amorais, oportunistas cujo propósito é o de se apropriar do dinheiro público, fazer negociatas, construir ou aumentar o patrimônio próprio e do grupo que os apóia. Apetites, ambições, paixões, insatisfação, integram a dinâmica política. Todavia, do ponto de vista pedagógico, sempre é válido estimular a consciência e o senso de responsabilidade do eleitor pelos destinos da sua família e do seu país. O eleitor brasileiro há de perceber, algum dia, o seu papel de artífice do próprio destino e de como o seu voto é determinante.

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