quinta-feira, 9 de novembro de 2023

SEMITISMO

A imprensa nacional e internacional, de modo tendencioso e com imagens selecionadas, informa e comenta o conflito bélico entre o estado de Israel e a comunidade árabe da Palestina. Há notícias de recentes ataques aos judeus, às suas casas, lojas e sinagogas, ocorridos em diversos países americanos e europeus. Trata-se de reação popular aos crimes praticados por Israel contra a comunidade árabe, principalmente, o genocídio em Gaza. Milhões de judeus vivem nos Estados Unidos da América (EUA), na Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Rússia, Argentina, Brasil e outros países. As comunidades judias desses países reclamam das agressões contra elas e alegam antissemitismo. Servem-se dos meios de comunicação social para, às vezes com arrogância, afirmar inocência do que acontece em Israel e Gaza. 
Desde o holocausto de ciganos, de homossexuais, de comunistas e de pessoas de “raça inferior”, ocorrido na segunda guerra mundial, os judeus colocam-se como eternas vítimas, fazem chantagem emocional e usam argumentos falaciosos a fim de obter vantagens políticas e econômicas. Assim, desse modo: I. Eles conseguiram um estado próprio, depois da choradeira na ONU, em 1948. II. Obtiveram apoio e proteção dos EUA para: (i) violar fronteiras e invadir o território do povo palestino (ii) oprimir a comunidade árabe da Palestina (iii) atacar e exterminar a população de Gaza (iv) destruir casas, prédios, escolas, hospitais, vias públicas (v) impedir a saída de civis de ambos os sexos e de todas as idades, daquela faixa conflagrada.  
Nesse conflito não há paridade de forças. O poderio bélico de Israel é superior. O exercício do direito de defesa de Israel no episódio Sete de Outubro foi desproporcional e abusivo. Os nazistas judeus aproveitaram a ocasião para executar o projeto de extermínio dos árabes. Portanto, afigura-se legítima a reação popular nos diversos países contra a ação criminosa de Israel. A justa reação popular brota do senso humanitário das pessoas naturais civilizadas, o que não se confunde com antissemitismo. Cuida-se de (i) ação contrária ao nazismo judeu (ii) protesto contra o sofrimento imposto aos palestinos. Os judeus residentes em outros países também são responsáveis pelos atos praticados pelo governo da sua pátria comum: Israel. O governo nazista desse estado foi eleito pelo povo judeu. Destarte, se as comunidades judias no estrangeiro pretendem livrar-se da culpa, deverão se manifestar publicamente, de modo oficial, organizado e inequívoco. Mediante declarações coletivas autênticas, exigirão do governo israelense: I. Que cesse imediatamente as hostilidades contra Gaza e liberte os reféns. II. Que devolva aos palestinos as terras invadidas desde a segunda metade do século passado. III. Que cumpra sem subterfúgios as recomendações da ONU e as decisões do Tribunal Internacional. IV. Que respeite o direito internacional. V. Que indenize Gaza por perdas e danos. 
Sem essa concreta manifestação coletiva, objetiva e válida, os judeus de qualquer país serão vistos como cúmplices das atrocidades praticadas por Israel e ficarão sujeitos às represálias como aquelas noticiadas. A omissão ensejará contra eles a radical opinião de um policial brasileiro: “bandido bom é bandido morto”, ou, parafraseando, “judeu bom é judeu morto”. 
Há judeus liberais – e não são poucos – todavia, são os judeus ortodoxos os que governam Israel em nome do povo. Logo, ao povo judeu cabe se levantar contra essa política assassina praticada pelos atuais governantes.  
O apelo à semântica ajuda a esclarecer o assunto. Entende-se por semitismo a cultura dos povos semitas, o respeito a essa cultura, a experiência histórica, o estudo e a expansão dessa cultura. Segundo a lenda bíblica do dilúvio e da arca, esses povos descendem do filho de Noé chamado Sem. De acordo com a História, os povos semitas eram assim chamados em virtude da sua língua comum. Falavam-na árabes, arameus, assírios, babilônios, cananeus, etíopes, fenícios, hebreus, sírios. Originários da Arábia, os semitas migraram para a Mesopotâmia e outras regiões da Ásia morena (+ ou – 3000 a.C.).
Antissemitismo ou semitofobia significa: (i) aversão à cultura semita (ii) antipatia, inimizade ou ódio aos povos semitas. No sentido estrito, significa antipatia, inimizade ou ódio aos árabes e aos judeus, dois povos semitas da atualidade, cultores de duas grandes religiões: o islamismo e o judaísmo. 
Tal como no Irã, em Israel não há separação entre política e religião. Nesse tipo de estado, a lei religiosa ("divina") é suprema, bússola da validade da lei votada no parlamento. No Irã, prevalecem os preceitos ditados por Maomé. Em Israel, prevalecem os preceitos ditados por Moisés. Destarte, o combate à política de Israel pode ser visto pelos judeus ortodoxos como ataque à sua religião. Entretanto, esse modo de ver desvia o foco da questão central. Vista sem malícia, a reação popular tem por alvo a política israelense e não a religião judaica. O noticiado movimento popular em outros países é contra o terrorismo de estado praticado por Israel. A violenta e mortal ação dos judeus ortodoxos estriba-se no Pentateuco (Torá). O citado movimento popular não se deixou impressionar com a propaganda enganosa que qualifica o Hamas e o Hezbollah de “terroristas” quando, na verdade, são duas instituições políticas responsáveis pela liberdade, segurança, desenvolvimento e bem-estar dos seus povos. A resistência à opressão hebraica é uma das formas de exercer essa resposabilidade. 
Bauman, Zygmunt – Retrotopia. Rio. Zahar. 2017. 
Burns, Edward McNall – História da Civilização Ocidental. P.Alegre. Globo. 1955.
Finkelstein, Norman G. – A Indústria do Holocausto. Rio. Record. 2001.
Velasco, Francisco Diez. Breve Historia de las Religiones. Madrid. Alianza. 2008.
Bíblia Sagrada.  Centro Bíblico Católico. SP. Ave Maria. 1987.
Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Caldas Aulete/Santos Valente. Rio. Delta. 1958. 

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