sexta-feira, 30 de setembro de 2022

VIDA REPUBLICANA

No senado da Roma clássica, Cícero, grande orador, escritor, filósofo e político, ao descobrir a conspiração de Catilina, bradava indignado: O tempora! O mores! Senatus intellegit haec, consul videt; tamen hic vivit = “Ó tempos! Ó costumes! O senado sabe estas coisas, o cônsul as vê; contudo, este vive”. Cícero iniciara o discurso dirigindo-se ao conspirador nos seguintes termos: Quousque tandem, Catilina, abutere nostra patientia? Quandiu etiam iste tuus furor nos eludet? = “Até quando, enfim, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor nos enganará?” [96 a.C.].
Cícero defendia a integridade do estado romano que, naquela época, era considerado res pública, ou seja, coisa pública, patrimônio do povo destinado a realizar o bem comum. Aos melhores cidadãos, eleitos pelo povo, cabia governar a república, zelar pelo status rei publica, ou  seja, cuidar do estado da coisa pública. Na Europa medieval e moderna havia estados monárquicos e estados republicanos. A América, descoberta pelos europeus no século XV, esteve governada pelas monarquias inglesa, espanhola e portuguesa até a independência das colônias nos séculos XVIII e XIX. Esses estados americanos recém nascidos adotaram o tipo republicano, salvo o Brasil, que adotou o tipo monárquico (07/09/1822 a 15/11/1889).
Aos trancos e barrancos, entre uma ditadura e outra, a república brasileira vai se aguentando (1889-2022). O atual presidente conspira contra o processo eleitoral a fim de se perpetuar no poder. No entanto, o clima não lhe é propício. Além das suas deficiências pessoais, o presidente não tem o apoio (i) da maioria da população e da cúpula das forças armadas (ii) dos governos dos EUA e da China (iii) da maioria dos países europeus (iv) do Papa. Insuficiente para o golpe de estado, o apoio que ele tem dos numerosos grupos nazifascistas civis e militares distribuídos no território nacional.
Com a astúcia do avestruz e a inteligência do asno, o presidente condiciona a aceitação do resultado das eleições à limpeza. Entretanto, público e notório é o fato de que desde a implantação das urnas eletrônicas no último quartel do último ano do século XX, as eleições têm sido limpas. De conhecimento geral, também, é a comum opinião sobre a falta de autoridade moral daquele que vive na sujeira, para exigir limpeza aos outros. 
Saudável para o aprimoramento da cultura política do povo, afigura-se o interesse do eleitor em conhecer as candidatas e os candidatos ao senado e à câmara dos deputados. Somos 156 milhões de eleitores. Se a maioria desse eleitorado tivesse tal interesse, a nação brasileira não sofreria os dissabores de que tem padecido. Apesar de decorridos 133 anos de vida republicana, ainda é pequena a parcela do eleitorado interessada em conhecer bem os candidatos a cargos públicos eletivos. No que toca à Gabriela Lima, candidata a deputada federal 1331, posso informar que se trata de brasileira de 47 anos de idade, mãe de um jovem de 16 anos, mulher honesta, inteligente, culta, sensível aos problemas dos jovens, das mulheres, dos trabalhadores, da causa animal, atuante no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e nos movimentos sociais da região sul fluminense.
Em https://www.women.declaration.com /en/resources/wdi-newsletter, foi publicado artigo em inglês sobre enquete idealizada por um grupo de mulheres através da plataforma Instagram, página “elas.definem” (14/09/2022). Essa página foi montada com o propósito de indicar candidaturas de mulheres. A pergunta a ser respondida objetivamente era a seguinte: O que é uma mulher
De todas as respostas dadas, foram selecionadas apenas duas, ambas consideradas objetivas e adequadas: [1] a de uma candidata a deputada estadual por São Paulo (Cláudia Visoni) [2] a de uma candidata a deputada federal pelo Rio de Janeiro (Gabriela Lima). 
A resposta da candidata paulista foi sintética e de caráter biológico: mulher é a fêmea da espécie humana. A resposta da candidata fluminense foi analítica e de caráter sociológico: mulher é aquela pessoa que por ter nascido com o sexo feminino é desde seu nascimento socializada para apresentar determinados estereótipos de gênero e ocupa um lugar de subalternidade na sociedade patriarcal. É vítima de diversas formas de violência pelo simples fato de ser mulher.
As respostas das demais candidatas foram genéricas: “ser mulher é ser guerreira”, “ser mulher é não desistir nunca”, “ser mulher é qualquer pessoa que se identifique como mulher”, etc. 


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