domingo, 7 de março de 2021

PODER

De suma importância nas relações humanas, ora usado como verbo, ora como substantivo, no sentido estático e no sentido dinâmico, poder significa força física, vigor do corpo e/ou da alma, influxo moral, domínio, capacidade, possibilidade, faculdade, autoridade, competência, jurisdição.  
Na origem do universo está o poder de criar, organizar, transformar e destruir. Explicar a fonte desse poder tem sido árduo trabalho para o entendimento humano. Considerá-lo divino é a explicação mais cômoda e simples: consta das escrituras sagradas e dos registros históricos da cultura humana desde as antigas civilizações egípcia e mesopotâmica. A ciência moderna dispensa o divino: objetivamente, poder existe por si mesmo, não tem começo nem fim, gerou o universo mediante máxima concentração de energia seguida de explosão e expansão. A matéria do universo é energia atomicamente estruturada. 
À fonte divina do poder, basta a fé; à fonte natural do poder, basta a explicação racional; à fonte humana do poder são necessárias explicação e justificação. “O poder não é simples dominação material, mas energia de uma ideia de ordem social que tende a prevalecer e na qual encontra, a uma só vez, o seu fim e a sua justificação”. [Georges Burdeau. Traité de Science Politique. Vol. 1. Paris. Píchon et Durand-Auzias. 1966, p. 11]. 
O poder humano consiste na força física, mental e espiritual guiada pela inteligência e impulsionada pela vontade de alguém capaz de dominar a si próprio, a outrem e ao entorno e atingir com êxito os fins a que se determinou. No autodomínio, o indivíduo controla os seus impulsos, emprega a sua inteligência e a sua vontade para moldar o seu caráter e expandir a sua consciência para as dimensões material e espiritual do universo (força biopsíquica volitiva do indivíduo direcionada à submissão dos seus instintos, desejos, sentimentos e pensamentos)Os humanos criam, conservam, modificam e extinguem coisas, tais como: usos e costumes, bens móveis e imóveis, modo de produção econômica, instrumentos e técnicas de trabalho, obras de arte, conhecimento vulgar, científico e filosófico, doutrinas místicas e religiosas, instituições. No seio da natureza, os humanos geram o seu próprio universo, organizam a convivência social mediante regras por eles estabelecidas (consuetudinárias, convencionais, éticas, jurídicas). Nesse universo, mundo da cultura, o poder localiza-se no centro da vida relacional humana; atua de modo difuso e de modo concentrado; tem sido classificado (i) segundo o seu objeto, em temporal e espiritual (ii) segundo o seu titular, em monocrático, aristocrático e democrático (iii) segundo os seus fins, em político, econômico e social. 
No curso da história, o convívio social apresenta-se hierarquizado e em crescente complexidade. O poder monocrático prevaleceu na família, na tribo, na cidade, no reino, desde a idade antiga até a idade moderna. No governo da cidade, do reino, do império, o poder monocrático carece da pureza que lhe empresta a teoria, pois, fatores influentes, eminências pardas, sempre cercaram e orientaram as decisões e ações do governante. Na idade contemporânea, esses fatores estão mais visíveis e organizados: burocracia civil e militar, bancos, corporações privadas nacionais e multinacionais, sindicatos, associações civis e religiosas, elite intelectual, universidade, imprensa, empresas privadas de comunicação social. 
A partir das revoluções americana e francesa do século XVIII, a titularidade do poder político passou para o povo (conjunto dos cidadãos aptos a escolher os governantes). Por intermédio dos representantes eleitos, reunidos em assembleia constituinte, o povo exerce o seu poder político no mais alto grau: a elaboração da lei fundamental do estado. Geralmente, para exercer o poder do estado por eles constituído, os representantes do povo colocam três órgãos na cúpula da organização política da nação: legislativo, executivo e judiciário, independentes e harmônicos entre si. A experiência de países europeus e americanos mostra o difícil equilíbrio entre esses órgãos. Na América Latina, o predomínio tem sido do executivo. A essa regra, o Brasil abriu exceção: nas duas décadas deste século XXI, o judiciário predominou apesar do esperneio do nazifascista que atualmente ocupa o órgão executivo (2021). 

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