sábado, 28 de outubro de 2017

DRÁGEAS

SENTIMENTO.  Paixão pelo outro, fogo ardente, abranda com o tempo, uma dia apaga. Amor pelo outro, enternece o coração, brisa suave e permanente que a distância não faz cessar. 

GELADEIRA.  Queijo fora da geladeira, mais fácil de fatiar. De uma irmã chorona se diz: manteiga derretida. Na geladeira, a manteiga endurece, difícil espalhá-la no pão. Gelada, a melancia perde o sabor. Gelados, conservam-se órgãos para transplante e material genético para inseminação.

INGRATIDÃO. Na sociedade civilizada somos todos, homens e mulheres, além de filhos da mãe, também filhos da puta. As autoridades públicas promovem as guerras e enviam homens e mulheres para a luta, a lesão e a morte. No retorno, os sobreviventes são abandonados e desvalorizados. [SVETLANA ALEKSIÉVITCH "in" A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, páginas 352/353].

VERÔNICA. Segundo a lenda, chamava-se Verônica a mulher que Jesus, o Cristo, teria curado de hemorragia que durava 12 anos. Hoje em dia, as hemorragias matam em algumas horas caso não estancadas. Essa mulher teria enxugado o rosto de Jesus quando, ao carregar a cruz, ele caiu diante dela. O episódio não consta dos evangelhos, mas há nele algo poético e simbólico: o homem, ainda que santo, ajoelha-se ante o encanto e a delicadeza da mulher. O episódio foi inventado na Idade Média, quando também foi pintado o véu com a imagem de Jesus que se acreditava verdadeira. Em latim: vera ícone Iesu. Daí, a corruptela após muita repetição: vera ícone = verônica. Ninguém sabe o nome da mulher que Jesus teria curado. Tampouco há evidência das curas e dos milagres. Tudo fica por conta da fé cega nos escritos de espertalhões considerados apóstolos, vigários, santos ou sábios.  

PRESUNÇÃO. Às vezes, presume-se longe o que perto está.

VERDADE. Na sessão plenária do dia 25/10/2017, a Câmara dos Deputados, por maioria de votos (251 x 233) decidiu não autorizar a instauração do processo referente à segunda ação penal proposta contra o presidente da república. No dia seguinte, contribuindo para o seu cabedal de asneiras, Michel Temer publica vídeo na rede de computadores dizendo que “a verdade venceu”. Parece que não só as vias urinárias de Michel necessitam de desobstrução. Na Câmara, a verdade e a falsidade não estavam em jogo e sim a moralidade, a conveniência e a oportunidade. No que concerne à verdade, a única que surgiu com evidência dos debates entre os deputados foi a do cálculo, já antigo, feito por Luiz Inácio Lula da Silva: há no parlamento brasileiro cerca de 300 (trezentos) picaretas.

PICARETA. Nome de ferramenta que se dá, no sentido figurado, a pessoa de má índole que se aproveita de qualquer situação para obter vantagem. Salvo engano, foi no final dos anos 80 que o então deputado Luiz Inácio Lula da Silva denunciou a existência de aproximadamente 300 picaretas no Congresso Nacional. No segundo semestre de 2017, esse número aproximou-se da exatidão: 297 picaretas, sendo 46 senadores e 251 deputados. Esse número poderá ser reduzido se for adotado o critério majoritário para eleição de deputados: será eleito o candidato que obtiver mais votos, independente do partido a que esteja filiado. Desse modo, o voto popular será respeitado. Com isto, ganham a democracia e a autoridade moral dos legisladores.

INDECÊNCIA. O critério proporcional para eleição de parlamentares talvez sirva para os países europeus, mas não para o Brasil. A recente história social e política do Brasil mostra que os grandes partidos são redutos de quadrilheiros, de gente desonesta e criminosa (PMDB, PSDB, DEM, PTB, PDT, PT). Essas quadrilhas ocupam os poderes legislativos municipais, estaduais e federal. Graças ao critério proporcional e aos puxadores de votos, candidatos desses partidos são eleitos com poucos votos. A representação popular torna-se uma ficção e as câmaras dos vereadores, as assembleias legislativas e a câmara dos deputados, antros de criminosos.

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