A aldeia escuta desolada / o
canto da ave maltratada / É o único pássaro da aldeia / e foi o único gato da
aldeia / que o devorou pela metade/ A ave deixa de cantar / o gato deixa de
roncar / e de lamber o próprio focinho / A aldeia faz ao passarinho /
maravilhosos funerais / e o gato, que foi convidado / segue o caixãozinho de
palha / onde o pássaro se amortalha / conduzido por uma menina / que não para
nunca de chorar.
- Se soubesse que isso te faria
sofrer tanto / diz-lhe o bichano / eu o teria comido todo / e te contaria,
depois / que ele havia batido asas / batido asas para o fim do mundo / para um
lugar tão longe / que ninguém nunca voltou de lá / Tu sofrerias muito menos /
só um pouquinho de tristeza / e outro pouquinho de saudade / Nunca devemos
fazer / as coisas pela metade.
(“A Aldeia Escuta”. Jacques
PRÉVERT. Traduzido por Carlos Drummond de Andrade).
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