terça-feira, 19 de maio de 2015

POESIA



A aldeia escuta desolada / o canto da ave maltratada / É o único pássaro da aldeia / e foi o único gato da aldeia / que o devorou pela metade/ A ave deixa de cantar / o gato deixa de roncar / e de lamber o próprio focinho / A aldeia faz ao passarinho / maravilhosos funerais / e o gato, que foi convidado / segue o caixãozinho de palha / onde o pássaro se amortalha / conduzido por uma menina / que não para nunca de chorar.

- Se soubesse que isso te faria sofrer tanto / diz-lhe o bichano / eu o teria comido todo / e te contaria, depois / que ele havia batido asas / batido asas para o fim do mundo / para um lugar tão longe / que ninguém nunca voltou de lá / Tu sofrerias muito menos / só um pouquinho de tristeza / e outro pouquinho de saudade / Nunca devemos fazer / as coisas pela metade.

(“A Aldeia Escuta”. Jacques PRÉVERT. Traduzido por Carlos Drummond de Andrade).

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