terça-feira, 26 de maio de 2015

BANQUETE ANIMAL



Evocações das imagens de um programa naturalístico de televisão: os pássaros grandes e pequenos, as aves grandes e pequenas, disputando alimento. Em programa de televisão exibido no canal Discovery, sobre o comportamento dos animais selvagens, no primeiro semestre de 1997, mostrava algo que aparentemente violava as leis da natureza. Um bando de hienas atacou uma zebra agonizante. Mal a zebra tombou, as hienas começaram a banquetear-se, apressando a morte do animal. Nisto, aproximaram-se cautelosamente um leão, a leoa e os filhotes, com o visível propósito (se é que animal irracional tem intenções) de participar do banquete. As hienas ficaram apreensivas e arredias. Afastaram-se do local, porém, permaneceram nas proximidades, em atitude hostil. Os leões se acomodaram em uma das extremidades do corpo da zebra e começaram a comer. As hienas voltaram, ocuparam a outra extremidade e fizeram o mesmo. Quiçá, vencidos pela fome, os leões não se importaram com aquela companhia e nem exigiram exclusividade. As hienas, também, preferiram satisfazer a fome ao invés de pleitear prioridade sobre o alimento a que haviam chegado por primeiro. A ferocidade cedeu lugar ao armistício. Todos os componentes de ambos os lados se fartaram e se retiraram em paz. Bastou para isso que cada bando se limitasse ao seu hemisfério, sem invadir o do outro. Respeitou-se o acordo tácito a respeito da partilha do bem consumível.

As folhas das árvores que cercavam o parque começavam amarelar. Em frente ao parque, no bairro Etobicoke, da cidade de Toronto, no Canadá, onde passava as férias, em agosto de 1997, moravam minha cunhada, o marido e a filha da qual eu e minha esposa somos padrinhos. Nas manhãs ensolaradas eu atravessava a rua e sentava no banco do parque desfrutando daquela atmosfera repousante. Apanhei e guardei uma folha caída ao chão. A árvore é nativa daquele país e as suas folhas o simbolizam. Pássaros grandes e pequenos desciam das árvores e comiam em conjunto. Quando havia pouco alimento, os grandes afastavam os pequenos. Depois da revoada dos grandes, os pequenos disputavam entre si as sobras.

No quintal da casa de minha infância havia galos e galinhas. Todos comiam os grãos de milho lançados ao solo, cada qual buscando o seu lugar e o seu quinhão, na medida do seu apetite. Quando havia um só galo, o seu espaço era respeitado por todos. O galo, entretanto, não se atrevia a invadir o espaço da galinha choca e de seus pintinhos, porque a reação desta era imediata e violenta. Se havia mais de um galo, disputavam o domínio. O vencedor ocupava o lugar escolhido, distante do outro, comendo a sua porção de milho. Os frangos, na sua inexperiência, às vezes invadiam a área dos galos; saíam escorraçados perdendo penas pelo caminho. Tinham de se contentar com o que lhes era deixado pelos galos e galinhas. Aprendiam a aguardar a sua vez e a respeitar a hierarquia.

Êpa! Hora de parar! Já começo a falar dos animais irracionais como se fossem racionais.

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