domingo, 30 de janeiro de 2011

POESIAS

Olha amigo: este mar, que era tão manso / bateu, como um aríete, um dia, sem descanso / os promontórios; foi aos saltos em cachões / escalando, subindo as rochas e sobre elas / estendeu, a bramir, no fragor das procelas / o espumoso lençol dos negros vagalhões. (...) Meu coração é como esse mar que, tranqüilo / beija as praias agora em doce murmurilo. / Também chorou, rugiu como ele, sem descanso / contra as rochas lançou-se em tremendos embates / todo um dia cruel de insânia e de combates. / Vês, agora reflui apaziguado e manso / sem desejo ou temor de nova tempestade. / À carícia do sol a voz mal se lhe escuta / mas o gênio, a esperança, a força, a mocidade / ei-los mortos na espuma e no sangue da luta. (Trecho de “Sonhos Mortos” - Charles Marie René Leconte de Lisle).

Bem-vindo sejas, irmão brasileiro! – teu amplo lugar está pronto / um sorriso te enviamos do norte – mãos afetuosas – uma urgente saudação cheia de sol! / ( Que o futuro se haja sozinho, onde quer que surjam transtornos e obstáculos. / Nossas, nossas as agruras do presente, o fim democrático, a aceitação e a fé) / para ti, neste dia, nossos braços se estende, nosso rosto se volta / sobre ti nosso olhar paira esperançoso./ Tu, livre aglomerado de estrelas! Tu, constelação rutilante! / Tu que tão bem compreendeste / o exemplo verdadeiro de uma nação cuja luz fulgia no céu / (mais resplandecente do que a Cruz, mais do que a Coroa) / o vértice que é preciso atingir para chegar à suprema humanidade. (“Saudação de Natal” – Walt Whitmann).
OBS. Esse poeta estadunidense morreu em 1892. O Brasil tornara-se república democrática federativa em 1889 e adotara o modelo da Constituição dos EUA. O Brasil separou-se da religião (cruz) tornando-se um Estado laico e rejeitou a monarquia (coroa) tornando-se um Estado democrático.

Nunca vi um campo de urzes. / Também nunca vi o mar. / No entanto, sei a urze como é / posso a onda imaginar. / Nunca estive no céu / nem vi Deus, todavia / conheço o sítio como se / tivesse em mãos um guia. (“Nunca vi um campo de urzes”. – Emily Dickinson).

Às vezes, por prazer, os homens de equipagem / pegam um albatroz, enorme ave marinha / que segue, companheiro indolente de viagem / o navio que sobre os abismos caminha. / Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas / esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado / deixa doridamente as grandes e alvas asas / como remos a cair e arrastar-se a seu lado. / Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo! / Ave tão bela como está cômica e feia! / Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo / outro se põe a imitar o enfermo que coxeia! / O poeta é semelhante ao príncipe da altura / que busca a tempestade e ri da flecha no ar / exilado no chão, em meio à corja impura / as asas de gigante impedem-no de andar. (“O Albatroz” – Pierre Charles Baudelaire).

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