sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

COSTUMES

SAQUEADORES.

2008. Tragédia no Estado de Santa Catarina: chuvas, inundações, desmoronamentos, perdas de vidas e de bens materiais em novembro e dezembro. Como ajuda e a fundo perdido (dispensa prestação de contas) a União Federal destinou 1 bilhão e 49 milhões de reais ao Estado de Santa Catarina. Em programa de TV, um experiente engenheiro, especialista nesse tipo de catástrofe, questionado sobre a falta de medidas preventivas, incluiu na resposta a probabilidade de omissão intencional dos governantes. O propósito da omissão seria obter polpuda receita extra para os municípios e para o Estado, a cada catástrofe. Do ser humano, tudo se espera, de bom e de ruim, tendo em vista a sua mista natureza angelical e demoníaca. Prevenção e visão de futuro nacional e internacional são moedas raras na administração pública brasileira: favelas cada vez mais numerosas, excesso de veículos e falta de vias de trânsito para suportá-lo, calçadas obstruídas, excesso de população em algumas cidades, poluição ambiental em todas as modalidades, perda de recursos naturais, falta de recursos artificiais, fronteiras ameaçadas, governantes politiqueiros, governados lenientes e assim por diante. Evitar calamidades previsíveis de maneira plena e definitiva reclama gente honesta, inteligente, solidária, operosa, com senso de responsabilidade e espírito público.

2011. Nova tragédia gerada pelos mesmos fatores naturais no Estado de Santa Catarina atingindo mais a camada pobre da população. Aqueles bilhão e milhões de reais não resolveram o problema social, mas é bem provável que tenham resolvido o problema dos espertalhões. Governantes e políticos catarinenses querem mais dinheiro este ano.

2011. Na região serrana do Estado do Rio de Janeiro outros ingredientes foram adicionados à falta de vergonha dos aproveitadores do infortúnio alheio, conforme notícia circulada na rede de computadores, no jornal Estado de São Paulo e no jornal O Globo. Na Granja Florestal, localizada no bairro Posse, na cidade de Teresópolis, eram recolhidos donativos endereçados à Cruz Vermelha. Médicos e outros voluntários ali trabalhavam para distribuí-los aos flagelados. Conforme relato do médico Martius de Oliveira, cedido à Cruz Vermelha pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro, o local foi invadido por funcionários da prefeitura de Teresópolis com cobertura de soldados armados de fuzis. Todos que ali trabalhavam foram expulsos e os donativos removidos. Afirma-se que o prefeito é evangélico e pretende que a distribuição dos donativos se faça através das igrejas evangélicas. Disputa por prestígio político e rivalidade entre católicos e protestantes ativaram a violência.

1822/2011. Pessoas naturais e jurídicas enviam ajuda em dinheiro, jóias, metais preciosos e outras coisas (artigos de higiene, remédios, água potável, mobiliário, eletrodomésticos, alimentos, roupas, calçados, brinquedos) em períodos de crise financeira nacional ou de calamidade pública. Esses bens não são contabilizados; ficam sujeitos a entesouramento e armazenamento para uso futuro e inescrupuloso de políticos e de lideranças comunitárias e religiosas. Monta-se a indústria da desgraça coletiva. Isto explica a existência de problemas crônicos nas diversas regiões do país, cujos dirigentes solicitam verbas públicas e ajuda humanitária da população. Por diversas vezes, parcela do povo brasileiro se mostrou generosa, sensível ao sofrimento dos seus irmãos de pátria. Casais doaram até as alianças de casamento para abastecer de ouro o Brasil. Milhares de brasileiros prestam serviços gratuitamente e enviam dinheiro e bens materiais para socorrer flagelados. Campanhas por jornais, rádio e TV solicitam auxílio e arrecadam dinheiro e bens. Missas e cultos são realizados pedindo ajuda a Deus e aos fiéis. Em todas essas ocasiões agiram os oportunistas e aproveitadores. O direito penal considera circunstância agravante o fato de o agente praticar crimes aproveitando-se da ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública.

Em outros países também há saques e desvios quando pessoas liberam instintos e afrouxam os freios éticos. Isto acontece em movimentos de protesto nas ruas, ou durante calamidades públicas. Recursos obtidos em campanhas humanitárias também são desviados. Milhões de dólares arrecadados por organismo internacional para o combate à AIDS foram desviados para cofres particulares, como noticiado na imprensa recentemente. A crise financeira mundial de 2008, fruto da desonestidade, também serviu à safadeza posterior. O capitalismo moderado adotado nos EUA, a partir de 1930, camuflou o capitalismo amoral e o capitalista imoral. O governo dos EUA se comprometia a atenuar os efeitos das flutuações econômicas e a manter a economia em expansão com o máximo de emprego, de produção e de poder de compra (Employment Act/1946). Se houvesse turbulência, retirar-se-iam recursos do tesouro dos EUA. Os donos do capital privado e do crédito foram se soltando, paulatinamente, criaram uma bolha e a inflaram até estourar em 2008. Os agentes financeiros foram prontamente atendidos pelo governo estadunidense. O mesmo ocorreu na Europa. Os trabalhadores amargaram demissões em massa e férias coletivas. As empresas usam os trabalhadores como aríete contra o Estado, a fim de obterem bilhões de dólares de ajuda. No Brasil, alguns se aproveitaram do pessimismo, ansiedade e insegurança gerados pela crise, para forjar situação semelhante à das empresas e estabelecimentos bancários do hemisfério norte. Alegaram queda na produção e despediram empregados para coagir o governo. Desse modo, arrancaram dinheiro dos cofres públicos (bancos estatais e caixa econômica). Na véspera, os balanços das empresas e dos bancos privados apresentavam lucros extraordinários. Lá e cá, a democracia continua a ser um regime de proprietários e de vigaristas.

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