sábado, 8 de janeiro de 2011

POESIA

Pois que a beber me deste em taça transbordante / e a fronte no teu colo eu tenho reclinado / e respirei da tua alma o hálito inebriante / misterioso perfume à sombra derramado; / visto que te escutei tanto segredo, tanto! / que vem do coração, dos íntimos refolhos / e tive o teu sorriso e enxuguei o teu pranto / a boca em minha boca e os olhos nos meus olhos; / pois que um raio senti do teu astro, querida / dissipar-me da fronte as densas brumas frias / desde que vi cair na onda da minha vida / a pétala de rosa arrancada aos teus dias... / Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores: / Não envelheço, não! Podeis correr, sem calma / levando na torrente as vossas murchas flores / ninguém há de colher a flor que eu tenho na alma! / Podeis com a asa bater, tentando, sem efeito / a taça derramar em que me dessedento: / do que cinzas em vós há mais fogo em meu peito; / e, em mim, há mais amor que em vós esquecimento! (“Amor” – Victor Hugo).

Com doze canhões por banda / vento em popa, a todo pano / voa, não corre, no oceano / um veleiro bergantim; / baixel pirata, que chamam / por seus feitos “o temido” / em todo o mar conhecido / de Marselha a Bombaim. / Treme a lua sobre as águas; / nos rinzes suspira o vento / e ergue em brando movimento / orlas de prata e de azul. / Ei-lo, o capitão pirata / que vai cantando na popa / Ásia a um bordo, a outro a Europa / e pela proa Istambul: / “Voga, meu barco, navega sem temor / nem forte nau na refrega / nem procela ou calmaria / do teu rumo te desvia / ou sujeita o teu valor.” / “O meu barco é meu tesouro / a liberdade o meu Deus / é-me o pego única pátria / lei a força, o vento e os céus! (Trechos de “A canção pirata” – José de Espronceda y Delgado).

Disse a meu peito, a meu pobre peito: / Não te contentas com uma só amante? / Pois tu não vês que este mudar constante / gasta em desejos o prazer do amor? / Ele respondeu: Não! Não me contento; / não me contento com uma só amante. / Pois tu não vês que este mudar constante / empresta aos gozos um melhor sabor? / Disse a meu peito, a meu pobre peito: / Não te contentas desta dor errante? / Pois tu não vês que este mudar constante / a cada passo só nos traz a dor? / Ele respondeu: Não! Não me contento / não me contento desta dor errante / Pois tu não vês que este mudar constante empresta às mágoas um melhor sabor? (“Chanson” – Louis Charles Alfred de Musset).

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