sábado, 22 de janeiro de 2011

COSTUMES

EXPLORAÇÃO DO INFORTÚNIO.

Os danos provocados por fatores naturais são constantes no planeta. Organismos internacionais intercedem nos casos calamitosos e ajudam as pessoas e as regiões afetadas, como aconteceu recentemente no Haiti. Montam esquemas de fiscalização e controle para que chegue ao destino a ajuda em dinheiro, remédio, material de higiene, alimento, roupa, calçado, material de construção, obras e serviços de saneamento. Sempre há pessoas que desviam os donativos. Baby Doc, o milionário e corrupto ex-ditador do Haiti, voltou ao país para “ajudar” a reconstrução; ele conhece o caminho das pedras; sabe como canalizar para contas particulares em bancos de países estrangeiros os milhões de dólares destinados a socorrer o país mais pobre da América.

No Brasil, a seca da região nordeste foi um sumidouro de recursos públicos por dezenas de anos sem que o problema fosse resolvido. Políticos e coronéis enriqueceram enquanto os flagelados permaneceram na miséria. A chuva é outro sumidouro. As torrentes e os estragos são periódicos: mortes, ferimentos, casas destruídas, bens perdidos ou inutilizados, desespero e sofrimento das pessoas atingidas. Geralmente, essas pessoas moram na periferia das cidades e pertencem à camada pobre da população. Governadores, prefeitos, vereadores, deputados, senadores, correm ao presidente da república suplicando por verbas: centenas de milhões de reais. Todos melhoram de vida, menos os flagelados. A solução do problema não interessa a essa oligarquia porque acabaria com o ilícito enriquecimento. Aguarda-se a repetição da estiagem ou das chuvas para engordar a poupança dos estelionatários. Não há o cuidado de apresentar dados concretos e fidedignos sobre os danos pessoais e materiais honestamente avaliados e incluídos em planos de viável execução. Sob argumento de urgência, a cautela necessária e moralizadora é dispensada. O argumento favorece aos espertalhões.

Os trágicos acontecimentos na região serrana fluminense (Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo) em janeiro de 2011, motivaram os mais diversos comentários em jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Aqui mesmo no blog, abordei essa matéria no final do relato da viagem a Curitiba. Alguns daqueles comentários referiam-se à negligência do poder público, à imprudência da população ao construir e morar em área de risco, ao oportunismo de pessoas do setor público e do setor privado para aumentar o seu particular patrimônio. Como noticiado na imprensa, o governador do Rio de Janeiro passou para os cofres da Rede Globo, no ano passado, cerca de 24 milhões de reais retirados da verba destinada às catástrofes. Não há notícia, até o momento, de providência alguma para apurar a responsabilidade política e criminal do governador. A emissora de TV alardeia a tragédia, aumenta artificialmente a gravidade dos fatos; desse modo, ajuda o governador a obter mais verbas da União Federal. Ao invés de resolver o repetitivo problema, o governo federal reserva bilhões de reais para distribuir no momento das tragédias.

Ilustre engenheiro repassou-me artigo de Aurélio Paiva, publicado na rede de computadores em 14.01.2011. O articulista cita catástrofes acontecidas no país maiores do que a da região serrana fluminense. A imprensa falseou a verdade ao qualificar a tragédia de janeiro de 2011, como a maior de todos os tempos no Brasil. Segundo informa o digno articulista, o infortúnio maior ocorreu na Serra das Araras, Rodovia Dutra, em janeiro de 1967. Morreram cerca de 1.700 pessoas. Na região serrana fluminense, somadas todas as cidades atingidas neste ano, ainda que desconsiderada eventual manipulação da imprensa, informa-se que o número de mortos não chega a 800. Nota-se ansiosa expectativa nos jornais da TV para que esse número cresça. A imprensa sentir-se-ia gratificada. Colossal volume de águas no episódio da Serra da Araras (275 mm em 03 horas; enquanto em Teresópolis foi de 145 mm em 24 horas) provocou deslizamento de terras e pedras, abrindo enorme cratera, engolindo ônibus, caminhões, automóveis. O artigo vem ilustrado com depoimentos de uma sobrevivente e de um advogado que providenciou socorro naquela ocasião. O artigo menciona, ainda, a catástrofe de Caraguatatuba, em março de 1967, com 400 mortos, aproximadamente. O balneário turístico de 17 mil habitantes foi arrasado por uma avalanche de lama, árvores, troncos, pedras, provocada por fortes chuvas (580 mm em 02 dias, enquanto em Teresópolis foi de 366 mm em 12 dias). Sensacionalismo e interesses de duvidosa legitimidade possivelmente motivaram o silêncio da imprensa sobre os episódios de 1967. O importante era realçar a tragédia atual, exagerar as suas dimensões, fazer alarde, tirar o maior proveito possível da catástrofe, principalmente em verbas públicas, em vendas dos produtos dos patrocinadores de programas de TV e em renda às emissoras derivada dos patrocínios. Aliás, programa noticioso é utilidade pública, por isso mesmo, o intervalo é indevido. A propaganda há de vir antes e/ou depois do programa. Emissoras de TV, concessionárias do serviço público, abusam da propaganda, inserindo-a nos noticiosos.

No setor privado, a exploração do infortúnio não se limita às empresas de comunicação de massa. Comerciantes e prestadores de serviços também a praticam. Circulou pela rede de computadores artigo de um economista denunciando a esperteza de um apresentador de programa de TV que, para aumentar a venda de cupons da empresa da qual é sócio, afirmava pela mídia que a compra ajudaria as vítimas da tragédia. Se a intenção fosse realmente a de ajudar sem interesse algum, bastaria indicar a conta do Banco do Brasil já existente para esse fim, ou fornecer o telefone de entidades oficiais prestadoras de socorro. Afirmou-se que a safadeza explicava-se por ser judeu o apresentador. O povo judeu tem fama de colocar o dinheiro acima de tudo, sem travas morais. Enquanto a pobreza é exaltada por Jesus e pela igreja católica e os ricos censurados, a riqueza é considerada bênção divina pelos judeus e pelos protestantes cristãos. Na primeira metade do século XX, durante a crise econômica da Alemanha, judeus se aproveitaram da desgraça nacional para enriquecer. Parcela do povo alemão, especialmente o grupo nazista, reagiu e generalizou: atribuiu a todos os judeus a censurável conduta de alguns ambiciosos. Isto aliado ao ódio aos judeus decorrente da perseguição e crucificação de Jesus, contribuiu para o holocausto. Essa repulsa aos judeus vem reforçada por outra generalização. Segundo consta da Bíblia (Antigo Testamento, Gênesis, capítulos 12 e 20), Abraão, patriarca dos hebreus (israelitas + judeus) cedia a sua formosa esposa, Sara, à lascívia de monarcas de diferentes reinos por onde passava, em troca de segurança, amizade e bens materiais. Estéril, Sara não engravidava. Graças ao proxenetismo, Abraão enriqueceu. Isto não significa que todos os judeus sejam proxenetas e usem esposas e filhas para ganhar dinheiro intermediando relações sexuais com gente rica e poderosa. Assim também, a falta de bom caráter do judeu da TV não quer dizer que todo judeu seja mau caráter. A prática de ilícitos jurídicos, morais e religiosos não é apanágio dos judeus, nem dos protestantes cristãos. A conduta contrária aos códigos jurídicos, éticos e religiosos, no mundo civilizado, ocorre em todas as épocas, no seio de todos os povos e em todas as camadas sociais.

Nenhum comentário: