sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

VIAGEM2

Sábado (01/01/2011). Pela manhã, através da TV, acompanhamos a cerimônia de posse do Beto Richa no cargo de governador do Estado do Paraná realizada na Assembléia Legislativa. O pai dele, senador José Richa, enviou-me, logo após a conclusão dos trabalhos da assembléia nacional constituinte de 1988, exemplar da Constituição autografado. A gentileza certamente foi provocada pelas propostas de normas constitucionais que enviei a ele e ao deputado Bernardo Cabral por ocasião da citada assembléia. Algumas das propostas foram incluídas no texto da Constituição. À tarde, acompanhamos a posse da Presidente da República, Dilma Rousseff, realizada perante o Congresso Nacional e a transmissão do cargo no palácio do governo com a simbólica passagem da faixa presidencial.

A presidenta desfilou de vestido. Dispensou a calça comprida e o terninho. Ponto a favor das mulheres. Pessoalmente, ela estava muito bem. A sua entrada no Congresso Nacional foi um desastre. O comportamento dos parlamentares era de tietes; ao invés de tomarem seus assentos no plenário de modo educado e civilizado, ocuparam a passarela de tapete vermelho e obstruíram o caminho da presidenta. Maculando a austeridade do cargo, a caterva tocava, abraçava, beijava a presidenta. Deplorável cena de adulação explícita e de assédio indecoroso. Esses vira-latas (royalties para Nelson Rodrigues) a quem Luis Inácio modestamente apelidou de picaretas, são legisladores! Embora sem autoridade moral, esses energúmenos têm autoridade jurídica para ditar regras aos brasileiros.

Nas diferentes etapas da solenidade (posse, revista da tropa, transmissão do cargo) o hino nacional era repetido cansativamente. Bastava tocá-lo no Congresso Nacional. Agentes da segurança pessoal, indiscretamente e por mero exibicionismo, atravessavam o caminho da presidenta. Houve demora exagerada na execução de cada etapa da solenidade que não se deve exclusivamente à visita da presidenta ao banheiro. Conhecendo os costumes brasileiros, inclusive a leviandade dos políticos e assessores, o governo dos EUA limitou a presença da sua representante (Hilary Clinton) ao cumprimento protocolar no palácio do governo. Hilary se livrou da bagunça no Congresso Nacional (vista e ouvida por vários povos do mundo através dos meios de comunicação de massa).

Na ocasião do cumprimento da representante dos EUA, Dilma esboçou um sorriso quase imperceptível; seu olhar expressava indiferença, quiçá pela ausência do presidente daquele país। Hilary não é Chefe de Estado nem de Governo e sim auxiliar do presidente. Ministro e Secretário de Estado são auxiliares do governante. Hilary compareceu à etapa final da solenidade no Palácio Itamaraty (comemoração); retirou-se antes da chegada da presidenta porque não suportou o atraso. O histórico e juvenil ativismo político de Dilma incomoda o governo dos EUA. A presidenta tem personalidade forte e dignidade para manter a altivez enquanto permanecer no cargo. O povo brasileiro não necessita tolerar a arrogância daquele governo. A prosperidade, a liderança na América Latina e as boas relações do Brasil com países africanos e asiáticos também incomodam o governo estadunidense. O mundo ficou sabendo que os EUA não são a América, mas tão somente um dos países da América; que há outros países e governos americanos no centro e no sul do continente; ir para a América, doravante, também significa ir para Nicarágua, Costa Rica, Venezuela, Brasil. Apesar do excesso (et pour cause) as viagens internacionais de Fernando Henrique e Luiz Inácio contribuíram para essa tomada de consciência das nações localizadas em outros continentes.

Convém à boa imagem do Brasil, que a presidenta simplifique o cerimonial; imponha o estilo sóbrio e a objetividade que caracterizam os seus atos। Nas cerimônias a que deva comparecer, o ingresso nos órgãos dos poderes legislativo e judiciário há de ser por caminho privativo a fim de resguardá-la do assédio de políticos, jornalistas e funcionários. Não custa lembrar: Dilma é Chefe de Estado e Chefe de Governo. Há de ser tratada como governante da nação brasileira e não como vedete de agremiação política. Qualquer tropeço significativo abrirá espaço para o impeachment sem as facilidades que permitiram a Fernando Henrique e a Luiz Inácio escaparem ilesos apesar das falcatruas e do lamaçal. O quadro mudou: um partido forte, corrupto, guloso por cargos e sedento de poder ocupa a vice-presidência da república.

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