terça-feira, 14 de setembro de 2010

ROSACRUZES

Segunda parte.

Atividades acadêmicas.
No dia 04/09/2010, das 14,30 às 18,30 horas, participei do curso intensivo sobre mecânica quântica promovido pela URCI, ministrado de modo competente e descontraído pelo cientista e professor Carlos Alberto Ferrari. No curso científico do Colégio Estadual do Paraná, nos anos 50, entrei em contacto com a Física, cujo professor era excelente, entusiasmado pela disciplina que lecionava (1955). Na década seguinte tornei a estudar a estrutura da matéria através das monografias da Ordem Rosacruz, agora com enfoque místico (1965). Concluído o estudo das monografias de todos os graus da Ordem R+C, voltei à Física, assistindo aos filmes documentários de Carl Sagan, astrofísico da Cornell University Ithaca NY, e lendo alguns livros como “O Direito Quântico” (São Paulo, Max Limonad, 1980), de Goffredo Telles Junior, professor catedrático da Universidade de São Paulo, que me colocou novamente face a face com a mecânica quântica e sua influência no campo jurídico, “Uma Breve História do Tempo” (Rio de Janeiro, Rocco, 1988) e “O Universo em uma Casca de Noz” (São Paulo, Arx, 2001) do cientista inglês Stephen Hawking, “O Universo Elegante” (São Paulo, Companhia das Letras, 2001) do cientista estadunidense Brian Greene. Apesar dessa bibliografia, eu estava curioso para ouvir, de corpo presente, a exposição de um cientista sobre a mecânica quântica. O ensejo me foi aberto pela URCI neste Congresso do mês de setembro de 2010. O professor Ferrari exibiu conhecimento profundo da matéria e demonstrou apreço pela Física e pela Ordem R+C, da qual é membro ativo. Mencionou a forma intuitiva pela qual foi apreendido o modelo do átomo pelos cientistas, semelhante ao sistema solar com as ondulatórias órbitas dos elétrons. Isto me lembrou o estado contemplativo que possibilitou a alguns cientistas o acesso a novo conhecimento. Ao imprevisto deve ser creditada a descoberta de algumas leis da natureza (admitida a crença na existência dessas leis e de que elas não são produtos da imaginação de filósofos e cientistas). A descoberta da lei dos líquidos, por exemplo, deve-se ao mergulho de Arquimedes na banheira (Eureka! Exclamou eufórico). A da lei da gravidade deve-se às urgentes necessidades fisiológicas de Isaac Newton; enquanto as satisfazia sob a macieira, o fruto lhe cai sobre a cabeça; o notável cientista associou as duas coisas. Nota: episódio interpretado por este narrador, pois Newton, pudicamente, afirmou apenas que estava sentado em estado contemplativo quando a maçã caiu.

Houve questionamentos. Manifestei-me em alguns. Sobre a transposição dos princípios da Física para a Ética, por exemplo, expressei as minhas reservas, pois as duas disciplinas obedecem a lógicas distintas: aquela, à lógica do ser e esta à lógica do dever-ser; as leis físicas, ditadas pela natureza, são neutras ao valor; as leis morais, ditadas pelos seres humanos, vêm informadas em valores eleitos pela inteligência (justiça, verdade, bondade). A relatividade no âmbito do universo macroscópico e a incerteza no âmbito do universo microscópico quando transpostas para o mundo moral geram o relativismo aniquilador dos valores e abre caminho à libertinagem que assistimos nos dias atuais. As decisões e atitudes das autoridades saltam em qualquer direção; não há freios nem regularidade; os interesses individuais e de ocasião dirigem os negócios públicos; a honestidade e a desonestidade, o lícito e o ilícito, passam a ter o mesmo peso. A artificiosa e cerebrina distinção entre Moral e Ética (para justificar a inoportuna transposição) é insubsistente. As duas palavras referem-se ao mesmo fenômeno axiológico: o regramento da conduta humana segundo determinados valores. A única diferença está no idioma de origem: ética, do grego ethos, moral, do latim mores. Quer provenham do DNA dos seres vivos, da experiência social, da consciência coletiva ou da alma, as exigências morais são formalizadas pela inteligência humana em princípios e regras que visam a uma convivência digna e pacífica. Por isso mesmo, o debate sobre o caráter absoluto ou relativo dessa normatividade não tem cabimento. As normas éticas são necessárias à vida em sociedade, visam ao interesse coletivo e exercem coerção sobre a conduta humana, declarando direitos e impondo deveres. As normas éticas valem – não por serem absolutas ou relativas – e sim por serem fundamentais ao convívio humano.

A consciência foi outro tema que entrou no debate. Algumas colocações partiam da concepção da consciência como um ser localizado no mundo material ou no mundo espiritual. Resolvi, então, colocar o meu ponto de vista que, salvo engano, coincide com o de Ralph M. Lewis, antigo Imperator da Ordem R+C: a consciência não é uma substância e sim uma função orgânica mediante a qual os seres vivos – desde a ameba até os organismos mais complexos – percebem o meio em que vivem e se comportam de acordo com essa percepção. No organismo humano essa função cognitiva é mais ampla do que nos animais irracionais. Além do ambiente exterior, o ser humano percebe a si próprio, as suas funções orgânicas (respiratória, cardíaca, digestiva, reprodutora, cognitiva), a sua estrutura física e mental, ou seja: o animal racional tem autoconsciência. Contudo, o que é percebido nem sempre é compreendido. A pessoa ao tomar consciência de um objeto pode não entender o seu significado. O alcance da consciência também não é o mesmo para todos os indivíduos. Há coisas das quais não estamos cônscios. A consciência humana adquire amplitude cósmica ao abarcar o mundo material e o mundo espiritual. Essa amplitude capacita a pessoa a aumentar o seu conhecimento (luz maior). O vocábulo consciência também é empregado para significar sensibilidade ética, capacidade do ser humano para perceber, compreender e seguir os preceitos morais. A alguém cruel, por exemplo, se diz que não tem consciência. Apela-se à consciência de alguém para se obter uma conduta desejada, e assim por diante. O termo consciência também é empregado para significar estado de vigília (estar consciente) ou ausência desse estado (perder a consciência).

Abordou-se a modificação de paradigma. Segundo o professor Ferrari, o salto quântico surpreendeu os cientistas pela ausência de causa. Para eles, o que ocorre no universo microscópico muda o paradigma do pensamento científico e revoga o princípio da causalidade e o determinismo. Creio que o entusiasmo dos cientistas conduz a esses extremos. A falta de explicação e de compreensão de um fenômeno não significa estarmos diante de um fenômeno sem causa ou sem motivo. Todo efeito tem sua causa. Ao ser humano falta ciência e poder para revogar essa e qualquer outra lei natural (uma vez aceito o postulado da existência de leis naturais). A probabilidade não é apanágio do espaço microscópico. Por ser instrumento operacional da inteligência humana (o cálculo é atividade mental comum) a probabilidade é aplicável tanto no universo microscópico quanto no universo macroscópico. Convive, pois, com o determinismo. Colherás o que plantares; com a medida que julgares, serás julgado; o homem é o artífice do seu destino; estes são preceitos da lei do carma e essa lei tem assento na causalidade e no determinismo. Por experiência própria e/ou alheia, os rosacruzes sabem que essa lei funciona e com base nela procedem a práticas de criação mental e operam com o mecanismo cósmico para obter determinados resultados. Na produção agrícola, nem sempre o lavrador colhe o que planta (probabilidade). As intempéries frustram a colheita. Caso nada frustre o plantio, se ele plantar arroz colherá arroz (determinismo). A probabilidade não afasta o determinismo. A incerteza e a ignorância não afastam a causalidade. Nos universos quânticos contidos em apenas um dos poros da pele do meu corpo, os elétrons podem saltar à vontade, pois em nada alteram o meu organismo, não intervêm na minha vida doméstica, social e profissional, tampouco perturbam a dinâmica da comunidade nacional e internacional.

Nenhum comentário: