sábado, 18 de setembro de 2010

ROSACRUZES3

Quarta parte.

Na tarde do dia 05/09, os expositores da 2ª mesa redonda foram dois professores universitários, membros da AMORC: um pernambucano, bacharel em letras, outro mineiro/carioca, bacharel em História, Direito e Museologia. Dividiram bem o tempo e deram o seu recado. Foi lembrada a fundação da URCI na jurisdição de língua portuguesa, no ano 2000, época em que o voluntariado se valorizava no mundo e se constituía em um dos pilares da AMORC. O professor Aluísio Ferreira Gomes parte da constatação de que os valores humanos como solidariedade, caridade e compaixão estão cada vez mais esquecidos. Entende que o trabalho voluntário contribui para o fomento de uma sociedade justa e igualitária; que voluntariado é toda atividade desempenhada no uso e gozo da autonomia do prestador de serviço, sem recebimento de qualquer contraprestação que importe remuneração ou lucro. Cita como exemplos históricos as casas católicas de misericórdia e os hospitais islâmicos. Informa que aproximadamente 1/5 da população brasileira é de voluntários. Menciona o ano 2001 eleito pela ONU ano internacional do voluntariado. Refere-se ao código rosacruz de vida estribado no dever de servir em silêncio e nos limites da capacidade do servidor, dentro e fora dos organismos afiliados. O professor Paulo Roberto Paranhos Silva desenvolve o tema “a URCI como agente de transformação”. Propugna o modelo corporativo de ensino, a integração e valorização do ser humano como “homem total” invocando o passado. Faz um relato da origem e evolução da universidade desde a Idade Clássica até a Idade Moderna. Diz que a proposta educacional da URCI é a de: (i) pesquisar novos conhecimentos e de ser campo fértil à sua disseminação; (ii) oferecer estudos para complementar a cultura e formação intelectual dos rosacruzes voluntários que desejam realizar ou aprofundar trabalhos sobre temas específicos relacionados com a filosofia, o misticismo e os ensinamentos da AMORC; (iii) diferenciar-se da universidade convencional, retornando ao modelo do século XII, abarcando as diversas áreas do conhecimento numa prática universal. O questionamento desta última proposta pelo auditório provocou em mim a lembrança da aula magna que proferi em março/2009, na Universidade Estácio de Sá, campus de Resende/RJ, porém, preferi não intervir. Transcrevo abaixo, trecho daquela aula, compatível com a douta exposição do professor Paranhos. Desse modo, acredito contribuir positivamente para o debate.

Universidade significa: (i) a qualidade daquilo que é universal (ii) o conjunto de pessoas ou coisas reunidas sob certa ordem para fins determinados. Expressa a idéia do múltiplo no uno, própria do vocábulo universo. Na área educacional, compreende-se por universidade a reunião, sob as mesmas regras e sob comando central, de várias escolas de ensino superior relativas a diferentes ramos do saber. Deve-se à Europa, a criação das universidades. Inicialmente, na Idade Média, a universidade tomou a forma de corporação organizada para preparar e licenciar professores. Posteriormente, concentrou escolas de artes e profissões tais como as de teologia, direito e medicina. As universidades mais antigas foram as de Salerno, Bolonha e Paris, fundadas, a primeira, no século X (anos 901 a 1000) e as duas outras, no século XII (anos 1101 a 1200). A essas três, seguiram-se as de Oxford, Cambridge, Montpellier, Salamanca, Roma e Nápoles. No final do século XIV (anos 1301 a 1400) criaram-se as universidades de Praga, Viena, Heidelberg e Colônia. A universidade de Bolonha serviu de padrão para as universidades do sul da Europa e a universidade de Paris serviu de padrão para as universidades do norte da Europa. O grau de bacharel era obtido após 4 ou 5 anos de estudos no trivium composto das seguintes disciplinas: gramática, retórica e lógica. O grau de mestre exigia de 3 a 4 anos de estudos no quadrivium composto de aritmética, geometria, astronomia e música. O grau de doutor era obtido após 4 ou 5 anos de estudos especializados em teologia, direito ou medicina. O doutorando devia ter a idade mínima de 35 anos. Mestre e doutor eram títulos exclusivos da docência. Doutor, por exemplo, era o professor de medicina e não o médico, embora as duas qualificações pudessem conviver na mesma pessoa. Todo professor de medicina era médico, mas nem todo médico era professor de medicina.

Na Idade Moderna, que se inicia em 1789, com a revolução francesa e termina em 1914, sob o troar dos canhões da primeira guerra mundial, a universidade, provida de pessoal e de recursos materiais para bem realizar as suas finalidades, concentra estudos e pesquisas diversificados e se compõe de várias faculdades segundo a área científica, artística, filosófica, religiosa, objeto do ensino e da aprendizagem. A estrutura e o funcionamento dessas faculdades estavam disciplinados em um ordenamento comum. Os três graus de formação acadêmica estabelecidos na Idade Média foram mantidos: bacharelado, mestrado e doutorado. Além disso, nos dias atuais, há cursos de especialização em níveis de pós-graduação e de pós-doutorado. Por seu relevante papel no desenvolvimento da nação, a universidade merece o apreço de todos, especialmente de quem ali trabalha e estuda. Dignificando a universidade, dignificaremos o diploma e o seu portador. Até o século XVII (anos 1601 a 1700) o conhecimento científico se abrigava sob o manto da filosofia natural. O título de filósofo natural representava autoridade intelectual no seu grau mais elevado. Galileu, Descartes, Newton, eram reconhecidos como filósofos naturais e não como cientistas, pois o termo ciência ainda não estava em uso. No século XVII houve mudanças decorrentes da introdução do método experimental e da análise matemática no estudo da natureza. O racionalismo cartesiano fez escola. Essas mudanças caracterizaram a revolução científica, que pode ser colocada no bojo da mais ampla revolução cultural que se inicia na segunda fase da Idade Média (801 a 1300) e se estende até a Renascença (1301 a 1700).
Com a crescente autonomia dos diferentes ramos do saber (matemática, física, química, biologia) o termo ciência entra em voga na Europa. Em 1666, foi criada em Paris, a Academia Real de Ciências. A ramificação do saber até o incrível número de especialidades que hoje testemunhamos, refletiu-se no ensino. Faculdades foram criadas para as áreas do conhecimento assim especializado. O reflexo dessa multiplicidade se fez sentir, inclusive, no planejamento educacional e curricular. No Brasil, o curso de direito do século XXI apresenta um número bem maior de disciplinas do que havia nos anos 50, do século XX. O currículo atual parece uma enciclopédia, o que pode gerar um aprendizado superficial. A quantidade está prejudicando a qualidade, o que exige um planejamento que redistribua disciplinas entre a graduação e a pós-graduação, visando a um ensino eficiente e a profissionais capacitados. Essa mudança dependerá da política governamental na área da educação.

Nenhum comentário: