quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ROSACRUZES2

Terceira parte.

Abertura do Congresso.
No dia 05/09/2010, às 8,00 horas, iniciaram-se os trabalhos. A abertura cerimonial foi precedida em duas horas pela exposição de mais de uma dezena de pôsteres no saguão do auditório. Os pôsteres versavam medicina e saúde, psicologia e análise do comportamento, música e literatura, ciências exatas (matemática, física, química, astronomia) e educação. Textos bem elaborados e ilustrados em material de boa qualidade seguiam a um padrão: palavras chaves, introdução, objetivos, justificativa, metodologia e resultados. Os autores permaneciam ao lado dos seus pôsteres para eventuais esclarecimentos solicitados pelo público. A esse aperitivo, sucedeu a cerimônia de abertura, por volta das 11,00 horas. Ao ser executado o Hino Nacional, as pessoas, em pé, mantiveram atitude séria. Exibiram educação cívica. Apesar da índole internacional da organização, os rosacruzes mostram respeito aos símbolos nacionais. O reitor da Universidade Rosacruz Internacional – URCI (Grande Mestre da Ordem R+C, Jurisdição de Língua Portuguesa) saudou os congressistas. O frater Raul Passos proporcionou momento de sublime enlevo ao executar peças clássicas ao piano. O emocionado auditório o aplaudiu de pé por vários minutos. Nesse dia (05/09) e no seguinte (06/09) os trabalhos obedeceram à mesma seqüência: abertura, conferência, mesas redondas, com intervalos para café e almoço. O último dia (07/09) foi dedicado aos grupos de trabalho, cada qual com uma cor e um coordenador, tendo por tema “construindo a URCI”.
A primeira conferência coube ao professor Ubiratan D´Ambrósio, notável matemático, cujo valor é reconhecido internacionalmente. Idade avançada, alguma dificuldade de locomoção, porém com mente lúcida, em plena atividade intelectual. Expressando-se muito bem, o professor desenvolveu o tema da transdisciplinaridade e sua importância para o diálogo com as tradições e a sustentabilidade do planeta. Valeu-se das modernas técnicas expositivas, com recursos audiovisuais e irradiante simpatia. Foi muito aplaudido. Apesar de não ser filiado à Ordem R+C, o professor expôs conceitos compatíveis com os ensinamentos rosacruzes.
Em síntese, o ilustre conferencista afirmou que as tradições e a sustentabilidade dependem da relação entre o homem e a natureza; que a essência da vida está no processo físico/químico das substancias ingeridas pelo ser vivo; que as tradições tendem a manter modelos de conhecimento e comportamento; que a harmonia com a natureza (e não o domínio sobre ela) significa sustentabilidade; que a busca de compreensão do mundo na sua integralidade exige que sobrevivência e transcendência se complementem; que a complexidade dos fenômenos sociais e naturais exigiu tratamento multidisciplinar e interdisciplinar (transferência e combinação de resultados e de métodos de várias disciplinas); que a transdisciplinaridade leva o indivíduo a tomar consciência do outro e da sua inserção na realidade; que a grande transformação pela qual passa a humanidade é o encontro da ciência com a consciência; que os alicerces da busca pelo conhecimento transdisciplinar consistem no respeito, solidariedade, cooperação e integração; que os mitos, religiões e sistemas de conhecimento são bem-vindos; que agressividade desmesurada contra a natureza põe em risco a continuidade da espécie; que as violações à dignidade humana tornam duvidosa a viabilidade de uma sociedade equitativa. O nobre conferencista critica, ainda, a dicotomia entre saber e fazer, comum ao pensamento ocidental, responsável pelo processo de exclusão e hierarquização, onde se valoriza mais o saber e se interpreta o fazer como ato de obediência. Para ilustrar a sua concepção do fenômeno da vida, o professor apresenta o triângulo primordial: indivíduo, natureza e sociedade e suas interações. Segundo ele, o comportamento humano responde a pulsões de sobrevivência e de transcendência e obedece a um sistema de valores. O processo transdisciplinar supõe a evolução do conhecimento, a constante mudança do saber e da certeza convencional, o ajuste dos valores a essa mudança, a exigir humildade do buscador.
Findo o intervalo do almoço, seguiram-se duas mesas redondas. O tema da primeira foi Tradição & Inovação: interfaces possíveis; o da segunda foi Assumindo um Posicionamento: a URCI e o voluntariado, contribuições para o presente e o futuro. Os expositores da primeira mesa redonda foram dois médicos paulistas, membros da AMORC: ela nissei, agitada; ele tranqüilo, parecia indiano pela tez e pela fisionomia; ambos mais fortes no conhecimento do que na exposição. Salientaram a importância da medicina silvícola, da medicina popular e da medicina oriental, do tratamento sem medicamentos, bem como, o caráter complementar dessas medicinas em relação à medicina ocidental e científica (convencional). Defendem a noção integral de saúde. Referiram-se especialmente: (i) à terapêutica rosacruz, à modalidade de cura presencial e à distância e ao seu caráter transdiciplinar; (ii) à compatibilidade entre a terapêutica científica e a terapêutica mística; (iii) aos rituais e seus efeitos positivos na saúde. O Dr. Moacir Fernandes de Godoy deu conotação específica ao vocábulo “caos”, advertindo que se refere aos processos de cura e manutenção da saúde do organismo humano, um sistema complexo supondo manifestações em vários níveis de realidade em permanente interação. Nesse contexto, entende por caos “o processo onde existe uma ordem altamente complexa e não-linear, com sensível dependência das condições iniciais e com baixa ou nula previsibilidade em longo prazo”. Isto lembra o que foi dito pelo professor Goffredo Telles Jr, no livro já citado (Direito Quântico): a aparente desordem no universo é certamente uma ordem que desconhecemos.

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