sábado, 25 de setembro de 2010

ROSACRUZES6

Sétima parte.

Na tarde do dia 06/09, realizou-se a 4ª e última mesa redonda do Congresso da URCI, tendo por tema “transcendência & desenvolvimento humano: a questão da consciência na AMORC” e como expositores: José Eliézer Mikosz, doutor em ciências humanas, artista plástico, professor da Escola de Música e Belas Artes de Curitiba, e Luiz Eduardo Valiengo Berni, professor, doutor em psicologia, membros da Ordem R+C.

Na sua palestra, o professor Mikosz, louro, alto, magro, cabelos longos e presos no estilo rabo de cavalo, indumentária simples, solto no palco, dispensando a tribuna, empreende uma viagem artística e cultural desde as pinturas rupestres de 40.000 anos até os movimentos na poesia, literatura, pintura, música, do século XX, salientando o primado ora do exterior (objetivo), ora do interior (subjetivo). Traça o paralelo entre esses movimentos e a marcha da ciência, da religião e do misticismo. Mostra a oscilação das expressões artísticas entre o material e o espiritual, o racional e o emocional. Relata a sucessão das diversas escolas que surgem por oposição aos padrões estabelecidos, num jogo dialético que admite a lógica do terceiro incluído no lugar da lógica aristotélica do terceiro excluído. Além dos expoentes nas artes, o professor arrola escolas como, entre outras, o maneirismo (oposição à perspectiva e à proporcionalidade da arte renascentista), o romantismo (características visionárias e irracionais), o simbolismo (esteticamente subjetivo, imaginativo, fincado nas emoções), o surrealismo (ênfase no irracional e no inconsciente), o realismo fantástico (base realista na clareza e no detalhamento, acrescida do simbolismo místico e religioso), psicodelismo (associado aos movimentos hippie e beatnik). O digno expositor fala de uma perene arte visionária de representação das visões de mundos subjetivos. Sublinha as concessões mútuas entre religião e ciência: a religião aceitando proposições da ciência; a ciência aceitando a espiritualidade sem confundi-la com fantasia ou ilusão.

Ao mencionar os três graus da consciência e seus estados ordinários e extraordinários, estribado principalmente no livro de Richard Maurice Bucke (“Consciência Cósmica”), o digno expositor introduz o tema da transdisciplinaridade, referindo-se aos diferentes níveis da realidade (físico e espiritual), à arquitetura como ambiência propícia à experiência mística e religiosa (pirâmides, catedrais), aos símbolos e representações artísticas como portas para se penetrar nos mistérios. Ao conceituar transdisciplinaridade como método, o expositor a coloca no âmbito procedimental. De fato, transdisciplina significa passagem de uma disciplina a outra e prolongamento além das disciplinas. Transdisciplinaridade significa qualidade do que é transdisciplinar. No campo do conhecimento, trata-se de uma visão sintética dos saberes fracionados: a unidade no múltiplo. Aqui tem lugar a prudente advertência de Fritjof Capra: a mecânica newtoniana, a relatividade e a mecânica quântica são modelos aproximados, válidos para determinada faixa de fenômenos fora da qual deixam de fornecer descrição satisfatória da natureza (O Tao da Física. SP, Cultrix, 1984). No que concerne aos níveis, penso que a realidade é um todo material e espiritual ao mesmo tempo. Os níveis são da percepção humana: graus de consciência e de compreensão dessa realidade dual. Para ampliar a capacidade dos sentidos e da função cognitiva, os seres humanos utilizam aparelhos (telescópio, microscópio, lentes, reatores nucleares), drogas, beberagens, rituais e técnicas mentais.

Quanto aos símbolos e mistérios, incide a máxima de Protágoras: o homem é a medida de todas as coisas. Há místico e há mistificador. A linguagem dos símbolos e mitos serve aos dois. Verdade espiritual, ilusão e fantasia são companheiras no mistério. A mente humana cria e hospeda o mistério. Fruto da ignorância (trevas), o mistério dissolve-se diante da luz do conhecimento. A escola de mistérios tem por finalidade desvendá-los, reduzir a ignorância e aumentar o conhecimento (luz). Os procedimentos irracionais (intuitivos, simbólicos, ritualísticos) incluem ilusão e realidade. Cabe ao buscador da luz separar o joio do trigo. Nesse terreno há esperteza enganosa, desvios éticos, intenção de explorar os incautos e as pessoas de boa fé. O lado espiritual da realidade não é reino da certeza racional e sim da fé religiosa e mística, da experiência extática pessoal e intransmissível. Por isso mesmo, esse terreno espiritual enseja a multiplicação de profetas, gurus, feiticeiros, crenças, seitas e religiões que, na ausência de entendimento ecumênico, guerreiam entre si, disputam o mercado da fé, buscam aumentar o seu rebanho para crescer a arrecadação. A evolução espiritual da humanidade fica em plano secundário. A espiritualidade funciona como isca para atrair os crentes e fortalecer o poder econômico e político do grupo, da instituição e do chefe.

Na palestra seguinte, o professor Berni, relata os passos da universidade rosacruz, desde os seus primórdios (1934) até os dias atuais (2010). Instalada no Parque Rosacruz, em São José, Califórnia, com os impulsos iniciais dados pelo frater Lewis, a universidade recebe o nome francês de Rose-Croix, em homenagem à universidade belga assim denominada, com a qual a AMORC mantinha ligações. Acredito que nessa escolha pesou o fato de o frater Lewis ter sido iniciado em templo rosacruz sediado na França (1909). Segundo o digno expositor, o propósito da universidade americana era consolidar e aprofundar o conhecimento rosacruz oferecendo palestras, cursos e demonstrações nas ciências e nas artes; os cursos de verão precediam a convenção anual rosacruz; foi criado o Instituto Rosa-Cruz de Pesquisa e Clínica que incluía terapêutica convencional e terapêutica rosacruz (1939); havia laboratórios de física, química, biologia e parapsicologia, este último criado na década de 70. Lembro que nessa década os governos dos EUA e da URSS intensificavam pesquisas nesse campo. O digno expositor informa que as pesquisas da universidade mantinham a conexão entre o mundo material e o mundo espiritual; que entre as matérias pesquisadas constavam: visualização, meditação, premonição, telepatia, clarividência, aura, fotografia Kirlian; que os resultados das pesquisas eram enviados aos membros em complemento às monografias; que os livros da série “O homem: alfa e ômega da criação” contêm pesquisas sobre métodos de cura e manutenção da saúde, cérebro, magnetismo, matéria e energia, cosmologia, psicologia, parapsicologia, metafísica e ciência. Além dos cursos, aos membros da AMORC eram oferecidas revisões das matérias contidas nas monografias. Havia alunos de várias partes do mundo. As mensalidades eram módicas. O corpo docente começou a viajar pelo orbe executando o projeto que recebeu o nome de “Desafio do Misticismo”, o que contribuiu para a expansão da AMORC.
O movimento expansionista prosseguiu com a fundação de universidades rosacruzes na Europa e criação de alguns campi nos EUA. Mantinha-se a perspectiva inspirada nas quatro faces da pirâmide: física, intelectual, emocional e espiritual. A partir de 1989, intensificou-se o intercâmbio com instituições americanas e européias. A universidade assumiu caráter internacional definitivo sob o nome “Rose-Croix University Internacional”. Foram criados o Conselho Internacional de Pesquisa e a revista científica “The Rose-Croix Journal”. Com o objetivo de reunir rosacruzes voluntários que desejassem aprofundar trabalhos sobre temas específicos relacionados com a filosofia, o misticismo e os ensinamentos da Ordem R+C, a universidade foi criada no Brasil no ano 2000, formalizada como órgão da AMORC, recebeu o nome “Universidade Rosacruz Internacional – URCI” cujas diretrizes foram lançadas na seção 230, do Manual Administrativo, com nove seções acadêmicas: medicina e saúde; psicologia e análise do comportamento; egiptologia e história universal; música; artes em geral; ciências exatas; biologia, ecologia e meio ambiente; tradições e filosofias místicas; educação e ensino. No ano 2008, o Grande Mestre determinou a inclusão de mais três seções: ciências sociais aplicadas; literatura; tecnologias e gestão de conhecimento; nomeou coordenadores para todas as seções. Na renovação, a URCI pretende assumir o modelo corporativo. O digno expositor cita o ditado chinês: “uma longa caminhada se inicia com o primeiro passo” e revela que, em 2009, recebeu a incumbência de organizar este I Congresso da URCI, cujo foco foi definido pelo reitor.

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