quinta-feira, 15 de julho de 2010

VIAGEM

DIÁRIO DE VIAGEM II

Aeroporto de Barajas. 15,35. Madri, 28 de junho de 2010.
Jussara, eu e Rafael nos apresentamos para o check-in. Bagagem só de mão. Rafael portava mala com as mesmas dimensões das nossas, o que poupou tempo nos desembarques. As malas providas de duas pequenas rodas, uma em cada lado, funcionavam como carrinhos. O puxador era móvel e o embutíamos quando conveniente (ao colocá-las no bagageiro interno do avião, acima dos assentos, por exemplo). Embarcamos para a Noruega. Três horas de viagem tranqüila. Do alto, vimos um quadro natural animador. Grande extensão de florestas na região da Escandinávia sobrevoada pela aeronave em que viajávamos. Rios serpenteando entre árvores e ilhas. Na vasta região não se notava atividades antrópicas, tampouco áreas desmatadas, pelo menos até onde nossas vistas alcançaram. Confirmou-se em terra o que imaginei no ar: os povos dos países escandinavos têm consciência ecológica. Há séria preocupação com o meio ambiente e a preservação da natureza. A relação entre economia e qualidade de vida parece estar bem equacionada naqueles rincões.

Aeroporto de Rygge. 18,40. Noruega, 28 de junho de 2010.
Passaportes examinados. Inspeção policial sem entrave. A cidade fica distante do aeroporto. Alugamos um taxi. Tal como em Madri, automóveis novos e limpos prestam esse tipo de serviço. Corrida de 1.200 corôas norueguesas (cerca de 170 euros = 390 reais). Notamos os altos custos no transporte, nos hotéis, bares, restaurantes e lojas, não só em Oslo, como também em Paris e Madri. Noite ensolarada. A claridade perdura até as 23,00 horas, aproximadamente; só, então, escurece. Estrada bem pavimentada, com quatro pistas, paisagem rural, fazendas bem cuidadas e extensas plantações distribuídas pelas glebas. Temperatura moderada, apesar do verão. Decorridos 40 minutos, chegamos à cidade. Na entrada, notamos área ocupada por alguns moradores de rua. O motorista nos informou que aquelas pessoas recusavam o auxílio do governo e preferiam a liberdade das ruas, principalmente no verão. Hospedamo-nos no Thon Hotel Oslo Panorama. Vista panorâmica: porto, mar, ilhas, navios, barcos, edifícios antigos e modernos, ruas, viadutos, veículos circulando. Nem todos vêem com bons olhos a modernização da cidade e do país. Tomamos banho e no próprio quarto assistimos ao jogo de futebol Brasil x Chile. Depois, saímos a passear pela cidade. Resolvemos jantar. Surpresa: passava das 23,00 horas e os restaurantes fecham por volta das 22,00. Recorremos a uma lanchonete da rede Burger King: consumimos sanduíches e refrigerantes. Meia noite. A lanchonete fechou. Pessoas circulando pelas ruas animadas. As pessoas andam apressadas, tanto em Oslo como em Paris e Madri. Rafael, também, tinha passo ligeiro como aquelas pessoas. Jussara o acompanhava. Eu comecei a ficar para trás, propositalmente, a fim de reduzir a velocidade. Eles aderiram ao passo mais cadenciado. Afinal, estávamos passeando! Manhã ensolarada. Poucas nuvens. Sopra suave brisa. Da sacada do quarto, contemplo o panorama. Lembro quando, escoteiro, nos idos de 1952/3, acampava com a tropa numa clareira na mata de Santa Felicidade (colônia italiana, hoje famoso bairro de Curitiba, capital do Estado do Paraná) próxima ao Rio Bariguí, em cujas águas lavávamos nossos talheres, canecos e pratos. Ao anoitecer, cantávamos em torno da fogueira. Uma das canções falava da Noruega e despertou em mim a vontade e a esperança de um dia conhecê-la. Passados 57 anos, aqui estou “na Noruega distante” como dizia a letra da canção. Aquela Noruega, coberta por um lençol branco durante oito meses do ano e por um tapete verde durante os quatro meses restantes ainda existe e conserva um pouco do bucolismo da canção. A escassez de alimentos no período branco decorrente da insuficiente produção agrícola no curto período verde não mais expulsa os noruegueses para outros países. Com a descoberta do petróleo, em 1968, veio a riqueza e a importação de alimentos no período crítico. A escassez do passado contribuiu para a socialização da abundância no presente. Os noruegueses de Oslo estampam tranqüilidade nos rostos, vestem-se bem e se mostram satisfeitos com o seu padrão de vida. Bares muito freqüentados à tarde e à noite por homens e mulheres a conversar e beber cerveja. O comportamento geral denota simplicidade e honestidade. O governo reflete essas qualidades. Seus agentes, inclusive os da mais alta hierarquia, não dispõem de cartão corporativo, moderam os gastos, prestam contas até das pequenas e miúdas despesas, andam a pé ou de bicicleta, sem veículos oficiais. Não é de estranhar, pois, que o governo da Noruega seja considerado o mais honesto do planeta. No passeio matinal, após o câmbio da moeda, fomos à estação dos barcos para o que eles chamam de mini cruzeiro pela baía e ilhas (29/06/2010). Saltamos em uma das ilhas onde transpira calma, há belas residências e se localiza o museu viking (The Viking Ship Museum). Após a visita e breve espera no píer, regressamos ao continente. Circulamos pela cidade e almoçamos em uma das praças principais. Havia grande movimento de pessoas e veículos. Na rua central, preferencial para pedestres, que desemboca na estação ferroviária, surpreendemo-nos com uma pessoa que parecia mulher, imóvel, toda coberta com roupa semelhante à burca muçulmana, cor marrom, ocultando o cabelo, o rosto, sem mostrar parte alguma do corpo, ajoelhada, tronco levemente inclinado. À sua frente, caixinha para moedas e notas. Até aquele momento, não havíamos encontrado pedintes nas ruas. Tive a impressão de que se tratava de uma postura artística, tal como as inúmeras que vimos ali mesmo em Oslo, em Madri e veríamos em Paris. Homens e mulheres com os corpos e as roupas pintados em cores prateadas ou douradas, imóveis durante longo tempo, simulando estátua, encima de um caixote tendo à sua frente o recipiente para as contribuições em dinheiro. Vemos esses artistas também nos logradouros do Rio de Janeiro. Caminhamos pelas avenidas largas e pelas vias secundárias estreitas, pavimentadas com pedras, semelhantes às de Madri e Paris. Entramos em centros comerciais e lojas. Jussara comprou relógio de pulso, roupas para o nosso neto e enfeites para colar na porta da geladeira como lembrança da Noruega, tal qual fizera nas cidades espanholas e faria na capital francesa.

Aeroporto de Oslo-Gardermoen. 17, 25. Noruega, 30 de junho de 2010.
O terceiro dia amanheceu chuvoso e frio. Arrumamos as malas, fizemos o check-out no hotel, passamos pela agência de câmbio, convertemos as coroas norueguesas em euros e, de taxi, rumamos para o aeroporto. Seguiu-se a rotina: check-in, exibição dos passaportes e inspeção policial. Circulamos pelas dependências do aeroporto e almoçamos (Kon Tiki Restaurant). Depois, apresentamo-nos para o embarque. Os funcionários da empresa de viação aérea (Norwegian.no) receberam os passageiros e os encaminharam à aeronave. Partimos no horário previsto. Decorridas duas horas e meia, o avião aterrissava em Paris.

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