sábado, 17 de julho de 2010

VIAGEM

DIÁRIO DE VIAGEM III

Aeroporto de Orly. 19,50. Paris, 30 de junho de 2010.
Desembarcamos e seguimos a rotina dos aeroportos internacionais. Tomamos um taxi que nos deixou no hotel Les Jardins d´Eiffel, onde havia dois quartos reservados para nós três (Jussara, eu e Rafael). Acomodados, banho tomado, saímos a passeio em direção ao Rio Sena. No caminho, atravessamos uma ponte sobre aquele rio situada em larga e movimentada avenida. Nas extremidades da ponte, sobre os bordos, há esculturas douradas, volumosas, reluzentes, altas e belas. Deparamo-nos com os Bateaux-Mouches. Embarcamos em um deles e fizemos o fluvial itinerário vendo as atrações turísticas apontadas e explicadas por uma voz feminina. Do barco, presenciamos o crepúsculo por volta das 21,30 horas. O sol próximo à linha do horizonte. A profusão de cores no céu extasiou mulheres, homens, jovens e adultos. Havia brasileiros na embarcação. Alegraram-se com a nossa presença. Jovem casal de gaúchos se prontificou a tirar fotografia de nós três com a máquina da Jussara. Aliás, encontramos brasileiros também em Oslo e Madri. Durante o passeio notei em ambas as margens do rio, centenas de pessoas em pé, sentadas ou deitadas sobre o cimento da parede de contenção, em alguns trechos, e sobre estreito espaço pavimentado, em outros, como se estivessem na praia. A cena lembrava ratos no esgoto, principalmente sob as pontes. Afastei essa imagem da minha mente, mas ainda sinto aquela desagradável impressão. Nada falei à Jussara e ao Rafael para não os perturbar. Sobre algumas pontes também havia dezenas de pessoas reunidas em piquenique ou em simples folguedo. Terminado o passeio de barco, escolhemos um restaurante ao acaso (Le Devez – Place de l´Alma), jantamos e retornamos ao hotel. No dia seguinte (01/07/2010), após o desjejum, iniciamos o circuito programado: Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Campos Elíseos, Museu do Louvre, Igreja de Nossa Senhora (Notre Dame), Montmatre + Igreja do Sagrado Coração (Sacré Coeur). Cumprimos, a pé, a primeira etapa do passeio, sem pressa, sorvendo a atmosfera parisiense. Multidão na Torre Eiffel. Imensas filas. Caravanas de turistas com reservas feitas por agências de turismo passavam à frente de todos. Fiquei indignado. Quase desisti. Em atenção à Jussara e ao Rafael, resignei-me. Havia pessoas idosas suportando a fila por mais de uma hora, como um casal ao nosso lado, tipo eslavo, baixa estatura, roupas e calçados de turista montanhês, que aparentava cerca de 80 anos de idade. Alegre, o varão tirava fotografia. Depois, no elevador, ele e a companheira mostravam cansaço. A administração da torre devia ter maior consideração para com essas pessoas e lhes dar prioridade. Selvageria na “cidade luz”. Aquele monte de ferro marrom avermelhado bordô (cor de burro quando foge) não estimulava o meu senso estético nem melhorava o meu humor. Vá lá: serei menos ranzinza. Vou condescender. Reconheço a admirável obra de engenharia em metal. Pronto. Não se fala mais nisso. Depois da enervante espera, compramos os bilhetes e entramos no elevador. Baldeação de um elevador a outro no primeiro patamar da torre. Lá estavam os velhinhos desanimados, dando mostras que queriam sossego e descanso. Subimos ao topo. Como o dia estava claro, bonito, sol a pino, vimos Paris de cima, em 360 graus, com seus pontos turísticos. Cidade cortada pelo Rio Sena, grande extensão territorial, asfalto, pedra, concreto, edifícios antigos e modernos, veículos e gente parecendo formiga. Descemos em elevadores tão cheios de gente como na subida. Passamos pelos insistentes vendedores ambulantes com suas pequenas réplicas da torre Eiffel e da igreja Notre Dame. Cabelos, rostos e expressões verbais revelam nacionalidades várias. Imigrantes, a maioria. De um modo geral, percebemos nas ruas de Paris uma febre das pessoas pelo pão de cada dia. Captamos vibrações de sofrimento, talvez de fundo econômico, emanadas da coletividade. Havia diferença entre a gente norueguesa, mais feliz, e a gente francesa, menos feliz. Os espanhóis, também, nos pareceram mais felizes do que os franceses. A caminho do Arco do Triunfo, paramos em um trailer lanchonete. Comemos cachorro quente e tomamos suco de frutas. Sentamos na grama à sombra das árvores do bonito e largo jardim, como outras pessoas que ali se encontravam. Tomamos sorvete. Fazia muito calor. Em meia hora demos por encerrado o bivaque. Seguimos para o Arco do Triunfo, que fica no centro de um grande círculo, na confluência de largas e movimentadas avenidas simetricamente traçadas. Lá chegamos através de uma passagem subterrânea, pois não era possível caminhar pela superfície. Tiramos fotografias e seguimos para os Campos Elíseos, avenida larga, extensa e arborizada, com lojas, centros comerciais, bares e restaurantes de ambos os lados. Movimento intenso de pessoas e veículos. Cansados, pegamos um taxi e voltamos para o hotel. Resolvemos jantar no restaurante ao lado do hotel (Le Petit Nicois) após as 21,00 horas. No dia seguinte (02/07/2010), após o desjejum, iniciamos a segunda etapa do passeio. Utilizamos o Metrô. Esquecemos de duas coisas. Primeiro: que era início da semana. Segundo: a má fama do trem metropolitano de Paris. Além de balançar muito sobre os trilhos, os vagões estavam lotados. Alguém levou a carteira da Jussara com euros, cartões de crédito, cédula de identidade e carta de motorista. Felizmente, na bolsa ficaram o passaporte e outros objetos. Ela só percebeu o furto quando sentiu a bolsa mais leve ao descer na estação próxima ao museu do Louvre. Não pretendíamos entrar no museu. A nossa curiosidade limitava-se às pirâmides lá construídas: a maior, com vértice para cima e a menor com vértice para baixo mencionada no livro de Dan Brown “O Código Da Vinci”, vista no filme do mesmo nome. Satisfeita a curiosidade e fotografias tiradas, rumamos para a catedral, a pé, acompanhando o Rio Sena. Lá, também, borbulhavam turistas, certamente motivados, como nós, pelo romance de Victor Hugo, “O Corcunda de Notre Dame” e as peripécias do personagem Quasímodo que habitava o interior da catedral. As cidades se enriquecem cultural e economicamente com as obras de artistas nem sempre reconhecidos enquanto viveram. Alguns morreram na miséria. Outros tiveram melhor sorte. Tom Jobim e Vinicius de Moraes, com a sua música, tornaram Ipanema mundialmente famosa e dela fizeram uma nova atração turística para o Rio de Janeiro. Assim como Paris, Ipanema cresceu demais e perdeu o encanto de outrora. No interior da igreja (Notre Dame), escuro, lúgubre, depressivo, a sensação é de melancolia, apesar das altas colunas, dos belos vitrais e da abóboda majestosa. Jussara elevou sua prece a Deus. Regressamos ao hotel, providenciamos o cancelamento dos cartões de crédito da Jussara e tornamos a sair para almoçar no Boulevard de la Tour Maubourg (Restaurant La Source). Voltamos ao hotel para assistir, no sossego, ao jogo de futebol da seleção brasileira contra a holandesa. Terminado o jogo, saímos com o objetivo de comprar protetor/curativo para os pés da Jussara. As confortáveis sandálias por ela adquiridas não evitaram o incômodo. O problema não estava no calçado e sim na sensibilidade da pele. Reduzimos as caminhadas. Privilegiamos o automóvel e o trem metropolitano. Lanchamos no Le Seven´s Coffee. De taxi, voltamos aos Champs Elisées para passeio noturno (apesar da claridade). A pé, circularmos por algum tempo. Depois, escolhemos um restaurante e mesa na área externa a fim de apreciar o movimento na avenida. Jantamos. Na mesa ao lado, um alemão alto, gordo e idoso, resolveu fumar cigarrilha. Saiu para comprá-la. A companheira aguardou o alegre e vitorioso retorno do parceiro. Ele abriu o maço, retirou a primeira cigarrilha e passou a fumar. Seguiu-se uma segunda cigarrilha. Paciência. Área aberta e livre. Fumamos por tabela. Encerrada a noturna contemplação dos Elíseos, pagamos a conta, pegamos um taxi e retornamos ao hotel.

Nenhum comentário: