quinta-feira, 8 de julho de 2010

FUTEBOL

HORA DA VERDADE II
O mau agouro vingou. A passagem prévia por Brasília impregnou a seleção brasileira da vibração negativa do presidente Luiz Inácio. O desconforto do técnico e dos jogadores notado na ocasião espelhava, provavelmente, o temor aos maus fluídos presidenciais. Verificada tal hipótese no plano dos fatos, a seleção venceu obstáculos exotéricos, mas sucumbiu na arena esotérica. A comissão técnica desempenhou bem a sua função. O treinador mostrou-se competente no seu ofício. Dedicou-se com afinco à seleção brasileira durante os últimos quatro anos. Enfrentou a súcia da mídia esportiva que o detratava. Respondeu bravamente as críticas infundadas e até ofensivas que lhe foram dirigidas por jornalistas e outras pessoas.
A dissolução da comissão técnica não se deve à derrota da seleção brasileira e sim ao encerramento da sua participação na copa, consoante política da Confederação Brasileira de Futebol - CBF, também adotada em outros países. Não houve demissão punitiva alguma. Nada impede que membros da comissão técnica dissolvida participem da nova comissão para a próxima copa. No Brasil, o presidente da CBF escolhe o técnico e este os jogadores visando ao êxito nas competições e não apenas aos interesses dos patrocinadores e da imprensa.
O ex-técnico acertou: (1) na convocação dos jogadores, em geral; (2) no trabalho e na disciplina da equipe; (3) no modo sério e proveitoso de dirigir a seleção; (4) na proteção à privacidade dos treinos e da concentração; (5) na reação às atitudes pejorativas de jornalistas mequetrefes. O ex-técnico errou: (1) ao convocar KK fora de forma e não convocar Ronaldo Gaúcho que recuperara a forma; (2) no jogo contra a Holanda (i) ao deixar de substituir Felipe Melo a tempo de evitar a previsível expulsão (ii) ao demorar para substituir Luis Fabiano (iii) ao manter KK em campo apesar da má atuação desse jogador em todos os jogos.
Durante as partidas, os jogadores brasileiros se esforçaram. Como sempre, o mais esforçado foi Robinho, embora estranhamente nervoso. Elano, Juan, Lúcio e Maicon destacaram-se pela técnica e eficiência. Os demais atuaram em nível ordinário. Na sua última partida, a seleção brasileira dominou a holandesa no primeiro tempo e foi por ela dominada no segundo. A seleção holandesa voltou com novo esquema de jogo e derrotou os brasileiros. Vitória tática do técnico holandês, roborada pela bactéria urucubaciae lulaensis que infectou a comitiva brasileira em Brasília. Seleções melhores do que a brasileira se apresentaram não só nesta de 2010, como também em outras copas. Em compensação, a seleção brasileira apresentou-se melhor do que as outras nas copas de 1950, 1958, 1962, 1970 e 1982 (embora sem vencer as de 1950 e 1982). Em 1994 e 2002, a seleção canarinho venceu, mas não convenceu.
Salvo alguma raridade, semelhante a Djalma Santos, a próxima equipe provavelmente será de jogadores que em 2014 terão idade máxima igual ou inferior a 35 anos. A CBF é uma organização profissional de caráter privado que projeta as atividades da seleção. Haverá de reduzir o peso da intervenção dos patrocinadores, inobstante a indiscutível importância do lado financeiro. Evitar-se-ão episódios prejudiciais à seleção brasileira, como o de KK e Ronaldo Gaucho na copa de 2010 e outros ocorridos na copa de 2006. A seleção encarna a nação brasileira na área esportiva. O sacrifício dos valores nacionais em prol de interesses econômicos privados tipifica violação a princípios éticos e jurídicos. O técnico a ser escolhido certamente executará o projeto elaborado pela CBF.

Em todas as partidas da copa houve falhas individuais no controle da bola, nos passes, cruzamentos e finalizações, cujo excesso não pode ser atribuído exclusivamente à deficiência técnica dos jogadores. A bola adotada pela FIFA (jabulani) contribuiu para o excesso de erros. O que era piada aconteceu de fato: a bola atrapalhou os jogadores. Cristiano Ronaldo, Fernando Torres, KK, Messi, Rooney, jogadores endeusados pela imprensa cativa, atuaram em nível ordinário. Já os holandeses Robben e Sneijder, os alemães Schweinsteiger e Özil, os espanhóis Villa e Iniesta, os uruguaios Forlán e Suarez, atuaram acima da média, embora distante da genialidade.
A lógica prevaleceu. As seleções que melhor se apresentaram em campo chegaram ao fim do certame: Alemanha, Espanha, Holanda e Uruguai. Em dramáticos finais de partidas, a seleção holandesa venceu a uruguaia e a seleção espanhola venceu a alemã. Holanda e Espanha enfrentar-se-ão na partida final desta copa do mundo de futebol. Alemanha e Uruguai disputarão o terceiro lugar. Japão e Gana representaram bem a Ásia e a África, considerada a ausência de conquista de copas no histórico das suas equipes. No curso desta copa (2010) se viu rostos pintados com as bandeiras dos diversos países, cujas expressões de alegria, às vezes, não se repetiam após as partidas. Os vencidos prostravam-se e vertiam lágrimas. Os vencedores sorriam e trocavam beijos e abraços efusivamente. Aleluia! Vivas ao esporte e à fraternidade universal!

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