quinta-feira, 6 de outubro de 2022

POLÍTICA + RELIGIÃO + MAÇONARIA

Causou estranheza ao mundo cristão (protestante e católico) a presença, em loja maçônica, do presidente da república que se diz evangélico. O evento foi gravado. Nesta semana, o vídeo circulou nas redes sociais.  
Do ponto de vista das liberdades públicas e dos direitos políticos, não há motivo para estranheza, pois o presidente está em campanha eleitoral para a sua reeleição. Como qualquer candidato, ele buscará votos nos lugares que lhe permitirem acesso e discurso.
Do ponto de vista da religião, entretanto, a estranheza é compreensível e justificada. Nesse terreno, a incompatibilidade entre a religião e a maçonaria é histórica e evidente. A original doutrina maçônica é contrária ao clericalismo, à comercialização da fé, ao desvirtuamento dos ensinamentos de Jesus pelas igrejas cristãs (católica e protestante). 
A ordem maçônica, fundada na Europa do século XVIII, deita raízes nas escolas de mistérios das civilizações egípcia, cretense, judaica, grega e romana. Reproduz a filosofia perene. Acolhe, no mundo moderno, os avanços da arte e da ciência. Dedica-se ao aprimoramento individual e social dos seres humanos. Nesse mister, atua na política mediante ideias, sentimentos e ações. Suas lojas (locais físicos de reuniões privadas) são teatros de conspirações políticas. 
Maçons ilustres e representativos participaram da Revolução Francesa (1789) da qual resultou: 1. O domínio da classe burguesa sobre a nobreza cortesã e o clero organizado 2. A valorização do capitalista e o derretimento do nobre 3. A prevalência da tríade liberdade + igualdade + fraternidade sobre a autoridade absoluta do governo deposto. 4. Monarquias e repúblicas estruturadas por constituições escritas pelos representantes do povo, funcionando à luz do direito burguês e sob o manto da igualdade de todos perante a lei 5. Deslocamento do poder soberano do monarca para o povo 6. Novos costumes 7. Nova cultura. 
No Brasil, além de movimentos regionais, os maçons participaram dos movimentos políticos nacionais [i] pela independência (1822) [ii] pela república (1889) [iii] pela implantação da ditadura militar (1964).
A maçonaria foi progressista nos séculos XVIII e XIX. Todavia, após a Revolução Russa (1917), posicionou-se como instituição política de direita e conservadora. Durante a ditadura militar brasileira (1964-1985) a maçonaria apoiou os presidentes militares. Agora, confirma a sua posição, à direita do espectro político, ao ceder sua loja ao presidente nazifascista de formação militar, candidato à reeleição. Sistema e ordem formam a base da organização maçônica. Hierarquia e disciplina formam a base da organização militar. Daí, a afinidade dos maçons com os militares. Portanto, nestas eleições (outubro/2022) os maçons provavelmente votarão no candidato nazifascista. Não custa lembrar: o nazismo alemão tinha o seu círculo interno secreto nos moldes maçônicos.  
Há evangélicos incomodados com essa proximidade do inimigo da sua religião. A maçonaria visa a iluminação espiritual e o desenvolvimento do eu interior de cada pessoa; propõe-se a livrar as pessoas das trevas da ignorância. A religião institucionalizada, por seu turno e para sobreviver, necessita manter as pessoas nas trevas da ignorância. Daí, a visceral incompatibilidade (i) da verdade esotérica com a crença religiosa (ii) da ciência com a religião.
Sentindo-se aviltados na sua fé religiosa pela conduta do presidente, o cristão protestante e o cristão católico provavelmente votarão no concorrente dele, caso não resolvam anular o voto.  
A ordem rosacruz, fundada na Europa do século XVII, precede a maçonaria. Suas raízes estão nas antigas escolas de mistérios egípcia, cretense, judaica, grega e romana. Sistema e ordem formam a base da sua organização. Seu propósito é a iluminação espiritual e a expansão do eu interior de cada buscador, na linha socrática do “conhece-te a ti mesmo”. Nasce nos estertores da Idade Média ocidental. Abre-se aos novos conhecimentos científicos, aos novos costumes, à nova cultura renascentista. Conserva a herança mística recebida das matrizes orientais.
Homens e mulheres representativos integraram a fraternidade rosacruz, que se ocupa mais com as questões espirituais e menos com as questões materiais. A doutrina rosacruz é transmitida oralmente aos membros da organização nas lojas (locais físicos de reuniões privadas) e também por escrito nos lares. Essa ordem defende a liberdade de crença; não funciona como religião institucionalizada. Admite pessoas adultas de ambos os sexos, independente da crença religiosa, desde que acreditem na existência de deus, sejam alfabetizadas e disponham de renda para ajudá-la a se manter. 
No passado, a ordem rosacruz e a ordem maçônica, por motivo de segurança, funcionavam em segredo. A partir do fim da segunda guerra mundial (1945) passaram a funcionar publicamente nos estados laicos e democráticos. O sigilo ficou restrito aos ensinamentos e rituais privativos dos seus membros. A loja maçônica continua a ser local de conspirações, tal como no passado. 

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