terça-feira, 5 de janeiro de 2021

RELATIVIDADE

Na Física, Einstein foi um gênio e Pelé uma besta ao quadrado. No Futebol, Pelé foi um gênio e Einstein uma besta ao quadrado. Nem todos têm os mesmos dons e interesses. Alguns se destacam na arte (Van Gogh) outros na ciência (Descartes), na filosofia (Kant), na religião (Agostinho). A lucidez do indivíduo varia conforme o meio que o envolve, o trabalho a que se dedica, o objeto dos seus cuidados. Há inventores sem título acadêmico. Há pessoas com título acadêmico que nada inventaram e apenas copiam e repetem; às vezes, douram a pílula ou criam falsas teorias. Descobertas acontecem por acaso. Eureka! 

Ninguém sabe tudo, resmunga o sensato. Desconhece a extensão da ignorância, Duvida da extensão do saber. Ignora coisas invisíveis como o coronavírus objeto de pesquisa e estudo. A ciência busca o método adequado para conhecer e combater o vírus e suas mutações. Alicerçados na lógica vulgar e nas ocorrências do passado, os leigos consideram a pandemia um fenômeno natural de duração limitada. Outros, sem estribo na lógica, supersticiosos, encaram a pandemia como castigo divino decorrente dos pecados da humanidade. A dimensão sobrenatural da vida não se explica plenamente pela razão. Apesar disto, o avanço científico e tecnológico da humanidade criou uma envolvente atmosfera artificial. As ondas e partículas eletromagnéticas componentes dessa atmosfera vibram em diferentes frequências e carregam significados. O acesso ocorre por meio de aparelhos como o rádio, o televisor, o telefone celular, o computador. Captadas pelos aparelhos, as ondas revelam sons, imagens, mensagens, palavras escritas, cenários do mundo da natureza e do mundo da cultura. 

O mundo espiritual pode ser comparado a esse campo eletromagnético. A atividade física e mental dos humanos vibra e irradia. Essa força não se perde. Conforme disse o cientista francês Lavoisier, “em a natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Mutatis mutandi, isto se aplica ao dinamismo físico e mental da humanidade. O produto desse dinamismo fica registrado em faixas vibratórias envolvendo o planeta (teorias, doutrinas, dogmas, mitos, história, cenários, relações). Essa memória se mantém alimentada e disponível desde priscas eras. Ao se colocar em favorável condição de passividade (ajustamento do aparelho receptor) a pessoa se conecta com essa memória, apreende dados ali contidos, reage emocionalmente e interpreta o que foi intuído. O acesso ocorre [I] de modo involuntário, quando o sujeito está relaxado sem premeditação [II] de modo voluntário: (i) individualmente, quando o sujeito se vale de técnicas de meditação com o propósito de obter ajuda, adquirir informação, experiência, conhecimento, paz interior (ii) coletivamente, em sessões espíritas, convocações ritualísticas, reuniões de estudos práticos e teóricos sobre espiritualidade. 

O mundo espiritual assim concebido tem existência virtual. Não se trata de uma réplica do mundo terreno como a teoria dos arquétipos de Platão leva a supor. Tal como o vírus, esse mundo espiritual é invisível, existe, funciona e vibra nas cercanias da Terra. A fantasia dos humanos, porém, concebe outro mundo espiritual autônomo, hierarquicamente organizado sob o rigor de uma legislação eterna, com as características do mundo terreno, habitado por deuses, anjos, santos, mestres e espíritos de pessoas desencarnadas. Diferente da humana, a justiça desse mundo sobrentural é inflexível tanto para premiar como para castigar. A contabilidade celeste dos erros e acertos é exata, sem malícia no cálculo. Conforme o saldo positivo ou negativo, o indivíduo terá, em momentos distintos, vida curta ou longa, feliz ou infeliz, dolorosa ou prazerosa. Cessa de reencarnar quando atinge o nirvana. Os manipuladores aproveitam-se da crença nesse mundo fantasioso para explorar, em benefício próprio, o medo, a ignorância, a credulidade da maioria da população e assim obter bom padrão de vida e posição dominante ou de relevo na sociedade. 

No Brasil, servem de exemplo as igrejas pentecostais fundadas para enriquecer suas lideranças com o dinheiro dos crentes aplicado no mercado de capitais e em negócios lucrativos. Elas arrebanham os pobres de espírito presentes nas classes sociais (rica, remediada, pobre). Os bispos, pastores, missionários, agem como estelionatários. Esses pilantras utilizam os nomes de Deus e de Jesus e se dizem receptores do Espírito Santo, a fim de realizar as suas metas patrimoniais. Exibem-se como terapeutas imitadores de Cristo. Dizem conversar com Deus e receber instruções diretas. Se todos acreditam que Moisés ficou frente à frente com Deus, conversou com Deus, abraçou Deus e deu tapinhas nas costas de Deus, não há motivo para duvidar do desfrute do mesmo privilégio pelos pastores, humildes servos de Deus. [Não foi à toa que Einstein, judeu de nascimento, assim se referiu à Bíblia: “contos da carochinha”]. Citam a Bíblia, ótimo instrumento do estelionato, anunciada como “escritura sagrada”, “palavra de Deus”, quando, na verdade, essa coleção de livros brotou da esperteza e da malícia de judeus e cristãos para enganar os incautos e dominar a massa popular. A Bíblia justifica [I] a supremacia do homem em relação à mulher e da igreja em relação ao estado [II] a violência "em nome do Senhor" (invadir, dominar, explorar, escravizar, torturar, matar) [III] o sustento do clero pelo povo [IV] a servidão humana. 


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