segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

FUTEBOL 2021

O campeonato brasileiro de futebol 2020/2021 aproxima-se do encerramento. Nota-se o fato curioso de, nesse esporte, a vitória nem sempre ser da equipe favorita. Nos últimos dias, o Flamengo perdeu para o Fluminense e para o Ceará; o São Paulo perdeu para o Bragantino e para os garotos do Santos. Exemplo internacional: a melhor seleção na copa de 1954 foi a húngara; na copa de 1974, a holandesa; na copa de 1982, a brasileira; todas perderam.

Durante as partidas, sejam de seleções nacionais, sejam de clubes, principalmente latino-americanos, há desentendimentos, empurrões, tapas, chutes, carrinhos, cabeçadas, palavras e gestos ofensivos. Isto acontece: [1] tanto entre jogadores da mesma equipe como entre jogadores de equipes adversárias [2] entre jogadores e árbitros [3] entre treinadores e jogadores [4] entre os treinadores das equipes em confronto. Às vezes, a confusão é geral, a polícia e o corpo de segurança entram em campo e a partida é suspensa. Lembro dois episódios emblemáticos, um ocorrido em clube brasileiro (Corinthians) e outro em clube estrangeiro (La Coruña) ambos envolvendo treinador x jogador. Certa vez, no clube paulista, o jogador Marcelinho Carioca cobriu de porradas o treinador. O motivo não veio a público, tampouco se houve ou se não houve punição disciplinar. O fato é que os dois permaneceram no clube não sei por quanto tempo. No clube espanhol, Djalminha, jogador brasileiro, deu uma cabeçada no treinador. O passe do atleta foi vendido para outro clube. Além disto, ele perdeu a chance de integrar a seleção brasileira na copa de 1998. Por solidariedade ao treinador espanhol, o treinador brasileiro castigou o craque brasileiro. Vira-lata brasileiro encontra-se não apenas nas elites e na massa popular de modo geral, mas também, de modo especial, na política, no jornalismo e nos esportes. 

Djalminha estava no rol dos maiores jogadores de futebol do mundo. No Brasil, lançou a moda “cavadinha”, embora não a tenha inventado. Jogou na seleção brasileira que venceu a Copa América (1997). Boa performance igual à sua, apenas a de alguns poucos jogadores entre aqueles convocados pela comissão técnica da seleção brasileira (1998). O seu destemor ao enfrentar qualquer equipe nacional ou estrangeira, a sua personalidade forte, o seu futebol alegre e eficiente, fizeram muita falta. A comissão técnica não apenas ignorou esse craque, como também afastou Romário e manteve Ronaldo que amarelou e foi parar no hospital. Com uma equipe apática em campo, a seleção brasileira perdeu para a seleção francesa comandada em campo pelo talentoso craque Zidane. Jamais um treinador europeu deixaria de convocar um craque para a sua seleção nacional por “solidariedade” a um treinador da seleção brasileira. 

Ao tempo das ditaduras militares, a disciplina era mais rigorosa nas seleções de futebol masculino da Argentina e do Brasil. Esse rigor prosseguiu, ainda que atenuado, no período democrático, inclusive de modo abusivo por alguns treinadores. Serve de exemplo, o recente e lamentável episódio durante o jogo SP x Braga, transmitido por televisão. O treinador do tricolor paulista, no curso da partida, dirigiu palavras e gestos agressivos contra um jogador do seu time. O jovem adolescente não revidou. Provavelmente, se o ofendido fosse um atleta adulto, experiente, forte, pavio curto, aquele treinador também teria levado algumas porradas. Fica a observação: o treinador vinha sendo endeusado pela imprensa esportiva. Ao ver que a sua excelente equipe levava um banho da equipe adversária, ele perdeu as estribeiras por temer cair dos cornos da Lua, altura em que foi colocado. Nada mais confortável e seguro para uma pessoa do que ser reconhecida e posta nas reais dimensões das suas qualidades físicas, morais, intelectuais e profissionais. A maturidade arreda elogiosas, porém, falsas e enganosas atribuições de virtudes inexistentes.     

As agressões no campo ou no vestiário, as vitórias, as derrotas, os empates, têm múltiplas causas: inveja, ciúme, rivalidade, estrelismo, frustração, egocentrismo, autoritarismo, problemas administrativos, financeiros e psicológicos, preparo físico insuficiente, jogadores que não rendem todo o seu potencial, substituições que não produzem o bom efeito desejado, erros táticos, desvio para outras competições, pressão da torcida e da imprensa esportiva. O acaso não entra por essa porta.

Se o Internacional conquistar a taça, o apresentador do programa “Donos da Bola” (Rede Band de TV) prometeu percorrer pelado as ruas de São Paulo. Nesse programa, os comentaristas têm liberdade de opinião. Certamente não a teriam se o assunto fosse política partidária. Os jornalistas curvam-se aos interesses e à posição política dos proprietários. Imaginemos um programa com o nome Estudo Y e 6 personagens: Mara Deltan, apresentadora, Toaldo Luz, Bidu Zaneri e Poliana Rosa, analistas políticos, Olavo Tregues e Vandré Cajueiro, comentaristas. Ver-se-á que, à menor divergência, a apresentadora interfere imediatamente, ameniza, salienta as concordâncias e enterra as discordâncias. Referências à esquerda? Só para denegrir.  


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