terça-feira, 16 de outubro de 2018

VERDE & AMARELO

Na década de 1940, quiçá por influência do nacionalismo de Vargas, os símbolos nacionais eram estudados na escola primária: o brasão, a bandeira, os hinos nacional, da bandeira e da independência. O brasão da república foi encomendado pelo primeiro presidente do Brasil, marechal Deodoro da Fonseca. O brasão era (e ainda é) um escudo na cor azul tendo ao centro o desenho da constelação Cruzeiro do Sul. O escudo descansa sobre uma estrela de cinco pontas, cada ponta bicolor: verde e amarela. A sustentá-la, uma espada em riste. Sob a estrela e circundando-a, um ramo frutificado de café, de um lado e, de outro, um ramo florido de fumo. Atrás, um resplendor dourado. Em baixo, o nome da república e a data da proclamação.
Leis disciplinam forma, cor e dimensão da bandeira nacional e as medidas dos seus componentes. A forma é a de um retângulo de cor verde. Dentro desse retângulo, um losango de cor amarela. No centro do losango e da bandeira, um círculo azul com estrelas. Atravessada no interior do círculo, uma estreita faixa branca com os dizeres em cor verde: “ordem e progresso”. As professoras explicavam que a cor verde significava a riqueza vegetal, a cor amarela a riqueza mineral, a cor azul o céu sobre o território, as estrelas representavam os estados federados e o distrito federal.  
Na década de 2010, os nazifascistas perderam a vergonha do horror provocado pelo fascismo e pelo nazismo na segunda guerra mundial, saíram do armário, mostraram a cara e assenhoraram-se das cores verde e amarela que ocupam o espaço maior da bandeira nacional. Mediante esse artifício, os nazifascistas associam ao seu movimento o nacionalismo, o patriotismo e as riquezas naturais do país. Eles pensam e agem como se fossem os donos exclusivos dos valores e princípios supremos da nação brasileira. Os excluídos são discriminados e agredidos.
Esse movimento tem forte e direto apoio do governo dos EUA, do empresariado nacional e internacional, dos barões da comunicação social, dos jornalistas amestrados e de considerável parcela do povo brasileiro inclinada à direita e à extrema-direita do espectro político. Sem lastro moral e jurídico, sem liderança visível, difuso na sociedade, esse movimento vibrou o golpe de 2016 (“made in USA”) e assumiu a direção do estado brasileiro e o destino da nação. Os seus integrantes no Congresso Nacional, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, exibiam as cores verde e amarela nas suas roupas. Alguns deles enrolavam a bandeira nacional nos seus corpos com inacreditável desfaçatez. Queriam mostrar patriotismo e convencer o povo de que derrubavam a presidente da república por amor à pátria brasileira quando, na verdade, fizeram-no por amor à pátria norte-americana e ao dinheiro.
A parcela nazifascista do povo brasileiro continua a exibir essas cores e a própria bandeira nacional na campanha do candidato Jair Bolsonaro à presidência da república (2018). O falso e enganador propósito dessa colorida exibição é o de mostrar patriotismo e de estar na defesa de um Brasil melhor, livre da corrupção e dos políticos profissionais e desonestos. Esse movimento de índole militarista não reconhece e nem respeita os direitos humanos, discrimina as mulheres, os homossexuais, os negros e os pobres. Opõe-se aos direitos sociais, entende vazia de sentido a expressão “justiça social”, defende o armamento da população e o livre comércio de armas. Pretende manter a dependência em relação ao governo dos EUA e afastar o Brasil do Mercosul, do Brics e dos países socialistas da América e de outros continentes. 
O movimento nazifascista é integrado por civis e militares, jovens e adultos, homens e mulheres de todas as camadas sociais (rica, remediada, pobre) e de diferentes níveis (intelectual, técnico, científico, artístico, acadêmico, colegial, alfabetizado, analfabeto). Depois da divulgação do resultado do segundo turno da eleição presidencial a sociedade brasileira e o mundo poderão calcular o tamanho do eleitorado nazifascista (28/10/2018). 
O círculo azul no centro da bandeira sugere a união espiritual dos brasileiros do passado, do presente e do futuro, a nação como entidade humana central e indivisa do país, acima da diversidade de origens, raças, sexos, cores, idades e dos interesses e aspirações particulares. As estrelas distribuídas dentro do círculo representam a união dos estados federados. Esse núcleo da bandeira é contrário ao propósito dos nazifascistas de fazer do Brasil um estado unitário (estados convertidos em províncias sem autonomia) e de submeter todos os brasileiros a uma só doutrina, a um só e hegemônico pensamento (como aconteceu em 1937/1945 e 1964/1985).
A cor branca da faixa no interior do círculo azul significa paz, o propósito da nação de viver em paz, a preferência pela solução pacífica dos conflitos. O caráter do movimento nazifascista (bélico, agressivo, raivoso, rancoroso, fanático) colide com a paz simbolizada na bandeira nacional. 
O lema contido na faixa branca foi retirado da síntese positivista de Augusto Comte: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”. Os criadores da bandeira nacional omitiram o “amor” talvez por considerarem-no sinal de fraqueza ou de pieguice no contexto machista daquela época. O ódio é mais forte, viril, ativo e dominador. Combina com a mentalidade nazifascista segundo a qual o ódio e a violência são necessários e mais eficazes à preservação da ordem. Evidente que não se há de combater o crime com flor e perfume, pelo menos em países como o Brasil. Mas, também, é evidente que não se deve tratar as pessoas a tiros, facadas e porradas por serem democratas antifascistas, ou por admirarem Churchill e Roosevelt e não Hitler e Stalin. 
O nazi-fascismo brasileiro instituiu, no plano dos fatos, a sua própria ordem à revelia do estado democrático de direito criado pela assembleia nacional constituinte. A ordem nazifascista caracteriza estado de exceção, assegura o domínio da elite econômica e a submissão ao governo dos EUA a quem já entregou pedaço do território brasileiro. Progresso para os brancos ricos às custas da exploração da massa popular. Empresas estrangeiras incorporando empresas estatais privatizadas. Petróleo e outras riquezas naturais entregues ao estrangeiro, debilitando a potencialidade estratégica nativa.
A elite civil e militar de mentalidade nazifascista se considera a única de superior capacidade para comandar a “plebe rude”, garantir a segurança e promover o desenvolvimento do estado. Parcela do corpo eleitoral brasileiro acredita nisso e dá o seu voto a um energúmeno. A responsabilidade não é exclusiva de quem votou validamente. Os eleitores omissos (abstenção, voto nulo ou em branco) também contribuem para o resultado. Todo o povo sente os efeitos do processo eleitoral.     

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