Trinta anos, bela idade da mulher, seu ápice poético,
segundo palavras de Honoré de Balzac, escritor francês (1799-1850). Daí, a
mulher, nessa idade, ter recebido o apelido de “balzaquiana”. No Brasil, a
“mulher de trinta” também é homenageada no cancioneiro popular, música gravada
por Miltinho na década de 1960: "Você mulher/ que já sofreu/ que já viveu/ não minta/ nos olhos teus/ um triste adeus/ eu e você/ mulher de trinta".
Trinta anos completa hoje, 05/10/2018, a musa dos
juristas poetas brasileiros: a Constituição da República Federativa do Brasil,
promulgada em 05/10/1988. Ao nascer, a musa trouxe esperança de um novo e feliz
período na vida dos brasileiros, longe da opressão do governo autocrático. Morria
o fascismo. Renasciam a democracia e o estado do bem-estar social trazidos à
luz pela “Constituição Cidadã”.
A euforia dos primeiros dias logo passou. O aborto
passou a rondar a genetriz. A direita, que viu derrotada, na assembleia
nacional constituinte, a sua proposta de liberalismo econômico, não se
conformou, reagiu e começou a retaliar. Através de emendas, principalmente sob
o governo Cardoso, a direita conseguiu introduzir no texto constitucional,
paulatinamente, as normas rejeitadas na assembleia constituinte.
A balzaquiana foi estuprada centena de vezes por
deputados, senadores, presidentes da república, ministros de estado, agentes do
ministério público, juízes, desembargadores, ministros de tribunais superiores.
O guardião, ele próprio um estuprador, abre a porta dos aposentos da
balzaquiana e permite que neles penetrem os demais estupradores.
No dia 4 de outubro de 2018 (ontem), estupradores
reuniram-se no supremo tribunal federal para homenagear a balzaquiana
estuprada. Alguns no palco, outros na plateia. Jogo de cena, pois não
demonstravam arrependimento e sim hipocrisia e cinismo. Juras de amor eterno à
mulher violada. Vestiram-na de seda, pintaram-na com os cosméticos mais sofisticados.
Simbolismo perverso. A homenageada está em frangalhos, esterilizada,
agonizando, à beira da morte, gélida como um cadáver, toda retalhada por
seguidos e traiçoeiros golpes.
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