sexta-feira, 3 de agosto de 2018

ELEIÇÕES 2018 II

“Graças, Marília, bela, graças, à minha Estrela”, repetia o poeta e magistrado português Tomas Antônio Gonzaga no seu longo e inspirado poema “Marília de Dirceu”. Essa obra poética serviu de inspiração ao batizado de uma cidade paulista: Marília, bela, amada, moderna e próspera. De modo semelhante, a musa de uma canção serviu de inspiração ao batizado de uma cidade paranaense: Maringá, bela, amada, moderna e próspera. A letra inicial coincide com a de Manuela. Meninas foram batizadas com esse nome: a célebre e saudosa atriz carioca que trazia uma fruta no sobrenome, ou a minha prima por afinidade que mora em Fortaleza com meu primo, ou a neta de saudoso político brasileiro domiciliada em Recife.
A tristeza deixada pela cabocla Maringá, retirante da cidade de Pombal, talvez seja a mesma deixada por Marília, retirante do pleito eleitoral pernambucano. Retiraram-na sem o lirismo do poema, sem a beleza da poesia, sem a doçura da canção, sem a sensibilidade do poeta e do compositor. Com a frialdade da navalha, a estupidez dos broncos cortou a trajetória da candidata para enfraquecer o candidato da cidade de Pombal à presidência da república.
Dulcinéia, Marília e Maringá eram as amadas mulheres dos sonhos dos poetas figurados no Quixote, no Dirceu e no caboclo que ficou. As outras Marília são mulheres reais, de carne e osso, com seus próprios encantos, virtudes, sonhos, ilusões e decepções. A que traz Arraes no sobrenome candidatara-se a governadora do seu estado. Recebera incentivo e apoio do partido político a que está filiada. No momento de oficializar a candidatura, o órgão máximo da direção do partido retira-lhe o apoio e se associa ao partido do candidato adversário. Honrando o nome do avô, Marília resistiu, manteve a sua candidatura e recebeu o apoio dos seus companheiros. Desafiou o diretório nacional e a decisão homologatória de Luiz Inácio que lançara no rosto dos correligionários o falso argumento de a aliança do PT com o PSB ser mais importante para a eleição presidencial. Com ou sem aliança, Luiz Inácio será o mais votado nas regiões Norte e Nordeste. O objetivo foi isolar o candidato pombalino. Manobra de cafajestes, dirá o público. Na verdade, mais uma evidência de que no jogo político partidário a ética não entra. Na estratégia entram o cálculo, a conveniência e a perspectiva do resultado. Moralidade é para os tolos e ingênuos, dirão em sua defesa.
Nas eleições para cargos públicos que dependem do voto popular nem sempre são escolhidos os mais bem qualificados do ponto de vista moral, intelectual e técnico, eis que a maioria do eleitorado se guia mais pelos sentimentos do que pela razão e se impressiona pela aparência. Ciro Gomes não seria eleito nem com apoio do PSB. Se ele mantiver a candidatura, terá boa votação, mas não o suficiente para se classificar. Poderá transferir parte dos seus votos a quem disputar o segundo turno. Inútil, pois, o sacrifício imposto pela direção nacional às candidaturas estaduais do PT em Pernambuco e do PSB em Minas Gerais. A aliança PT+PSB foi um desastre. Acarretou cisão interna nos dois partidos. Diretórios regionais descontentes com diretórios nacionais. Rebeldia dos candidatos estaduais sacrificados e de seus liderados contra o pacto firmado pelos caciques.
Ante esse novo quadro, que está parecendo lotérico, as projeções sobre o pleito eleitoral de 2018 seguem os movimentos da biruta, para desespero dos analistas políticos. Encorpa a candidatura de Manuela, que já era promissora. Além dos votos de jovens de ambos os sexos na faixa dos 16 aos 30 anos de idade, e dos votos das mulheres acima dessa faixa etária, Manuela poderá ainda ter os votos de parcela dos descontentes daqueles dois partidos. Especula-se com a chapa Lula/Manuela. As duas jovens senhoras (Gleisi + Manuela) acenavam para unidade das esquerdas no segundo turno. Todavia, pode haver confronto no segundo com dois candidatos da esquerda se não houver união no primeiro turno. Manuela de um lado e alguma (ou algum) petista de outro. Confronto também pode acontecer entre esquerda e direita. Os eleitores da extrema direita são fiéis e politizados, principalmente os do sul do país, mas os votos são insuficientes para classificar Bolsonaro. Mais votos do que ele, receberão Marina e Alckmin. Um desses dois candidatos poderá estar no segundo turno, caso o confronto não ocorra entre candidatos da esquerda. A vitória de Luiz Inácio no primeiro turno perdeu a certeza. A canoa virou. Quem não soube remar? Quem ficará no fundo do mar?   
Na hipótese de Luiz Inácio ficar impedido judicialmente de concorrer, cogita-se eleger uma/um petista, que renunciará em 2019 e provocará nova eleição com ele já em liberdade. Essa esperteza está mais para miragem do que para real probabilidade. Convém lembrar: os juízes, ativistas políticos partidários em grande número, mandaram os escrúpulos às favas. Embora notória e evidente a fraude processual que culminou na injusta e escandalosa prisão de Luiz Inácio, fato que comoveu até o Papa, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal podem retardar de 5 a 10 anos o exame dos recursos interpostos, fornecendo assim, ao Tribunal Superior Eleitoral, a “base jurídica” para impedir a candidatura do petista. Os jurisdicionados podem então perguntar: como ficam a razoável duração do processo e a celeridade da sua tramitação asseguradas pela Constituição da República? Os tribunais responderão: não vem ao caso.   
A história e a experiência nos lembram que o poder seduz e corrompe. Quem for eleito presidente da república não renunciará para ceder o cargo a outra pessoa, por mais companheira que seja. Outrossim, a Chefia de Estado e de Governo, em virtude da sua importância e alta relevância para a nação, não deve ser mero joguete nas mãos de gente ambiciosa e de caráter mal formado. Seria bom para o amadurecimento político do povo brasileiro e para o desenvolvimento social e econômico do Brasil, que não mais se repetissem episódios vergonhosos como o do fraudulento impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Nenhum comentário: