terça-feira, 7 de agosto de 2018

ELEIÇÕES 2018 III

Carma & Política.
Revelada pelo hinduísmo, a lei do carma atua nas dimensões espiritual e material do universo. Isto inclui os setores político, econômico e social de qualquer país e a vida de cada indivíduo. Cuida-se de automatismo cósmico mais eficiente do que a mão invisível de Adam Smith. Na ordem natural das coisas, colhe-se o que se planta. Assim também é na ordem social, onde essa lei natural atua impregnada de inflexível justiça. Como diz o povo: a justiça divina tarda mas não falha. Os pensamentos, os sentimentos e a conduta dos humanos ativam o mecanismo dessa lei. A má conduta, ainda que vitoriosa no plano moral e jurídico, traz consequências desagradáveis no plano material e histórico. A ganância dos banqueiros combinada com as artimanhas dos economistas e cumplicidade dos governos acarretou crise mundial (2008). A disputa eleitoral também fornece exemplos da atuação dessa lei natural.
Campanha eleitoral nacional. No debate transmitido pela televisão, Collor feriu Lula naquilo que ele tinha de mais sagrado: a família. Apesar da crueldade, Collor venceu o pleito. Depois, perdeu o cargo, saiu desmoralizado e a sua família se dissolveu.
Campanha eleitoral fluminense. A candidata ao governo do estado (Denise Frossard) foi acusada de modo injusto e desleal por seu concorrente (Sérgio Cabral) de ter preconceito contra os deficientes físicos. O PT, que apoiava Cabral, no intuito de jogar a opinião pública contra a adversária, pinçou e utilizou fora do contexto, deturpando o real significado, trecho de um parecer em que a então deputada federal mencionava as chagas expostas por pedintes na via pública. Apesar da maldade, o leviano acusador, acumpliciado com o PT, venceu as eleições. No entanto, a safadeza gerou consequências. Cabral mostrou-se desonesto e medíocre. Desmoralizado, processado e condenado, ele está preso. O PT também recebeu troco. A sua então candidata à prefeitura de São Paulo (Marta Suplicy) foi acusada injustamente de preconceito contra homossexuais. Deturparam o que ela havia dito. O PT bebeu o seu próprio veneno.    
Campanha eleitoral carioca. Na disputa pela prefeitura do município do Rio de Janeiro, Eduardo Paes acusou Lula de ser chefe de quadrilha. Depois de eleito e na busca de apoio político, pediu desculpas. Lula aceitou. Este episódio mostra o que há de sujo no mundo político: a falta de brio, uma das características do cidadão vira-lata. Esse é o perfil de grande parcela dos políticos no Brasil. Atualmente, o ex-prefeito está sendo investigado por corrupção no seu período administrativo. 
A verdade é descartada quando desfavorece a vitória. Para gente sem escrúpulo, deturpar fatos, mentir, fingir, injuriar, atende ao interesse imediato de vencer o concorrente. Quando se trata de ganhar eleição, freios éticos não detêm candidatos e candidatas inescrupulosos. Nutrem a esperança de que a sua má conduta não trará consequências. Pensam apenas no presente e em safar-se com o apoio de autoridades coniventes no Legislativo, no Executivo e no Judiciário.
Quem aspira exercer função pública em cargo eletivo não deve se esconder sob o manto da privacidade e o véu da ilusão. O eleitor tem o direito de saber quem é o candidato, seu nome completo, estado civil, profissão, domicílio, se é boa pessoa como pai, mãe, esposo, esposa, se é bom vizinho, se cumpre as suas obrigações para com a família, a sociedade e o estado. O eleitor tem o direito de saber se o candidato acredita em deus, se é homossexual ou heterossexual, a favor ou contra o aborto, socialista ou capitalista e se, com honestidade e eficiência, exerceu atividade no setor público ou privado. Dizer que o passado não importa é escamotear princípios morais e jurídicos no propósito de manter o estado refém de quadrilheiros (CF 14, §9º).
No campo da física, da química, da biologia, a lei do carma é conhecida como lei de causa e efeito ou lei da causalidade. No campo das relações humanas a lei do carma expressa-se: (i) entre os profanos, como lei da responsabilidade (ii) entre os religiosos, como lei da compensação.
Na esfera civil, essa lei natural recebe conotação ética. Do ponto de vista moral, crianças e adultos são responsáveis por suas ações e omissões. Do ponto de vista jurídico, são responsáveis somente os adultos que tenham discernimento, capacidade mental para distinguir o lícito do ilícito. Destarte, quem causa dano a terceiro tem a obrigação de reparar; quem comete delito, deve sofrer a pena cominada (privação da liberdade, multa, restrição de direitos).
Na esfera religiosa, a lei do carma se manifesta de dois modos: (i) positivo, quando o bons pensamentos, os bons sentimentos e a boa conduta são recompensados com bem-estar e bem-aventurança (ii) negativo, quando os maus pensamentos, o maus sentimentos e a má conduta são castigados com padecimentos. Na contabilidade do carma, compensam-se a bondade e a maldade praticadas pelo mesmo indivíduo ou pelo mesmo grupo. O saldo positivo atenua; o negativo agrava.
As decisões tomadas pelos caciques dos partidos políticos trazem consequências pessoais e coletivas dentre as quais consta a debilidade anímica do grupo gerada pela perda do líder, tal como aconteceu com o PTB sem Vargas, o PSP sem Ademar, o PDC sem Montoro, o PSD sem Kubitscheck, a UDN sem Lacerda, o MDB sem Ulysses, a ARENA sem os militares, o PFL sem Magalhães, o PSB sem Arraes, o PDT sem Brizola, o PSDB sem Covas, e acontecerá com o PT sem Lula.
As recentes decisões de Lula foram erradas ou só ele viu o goleiro adiantado? Ser bom estadista não significa ser bom no jogo eleitoral. No momento, Lula mais parece um técnico mediano que conduz a sua equipe a maus resultados. Com suas atitudes, ele deixou transparecer a estrutura autocrática do partido, o contraste com o modelo democrático, a disciplina estalinista, o culto à personalidade do líder carismático, a obediência cega aos seus mandamentos. Tem-se a impressão de que a curva descendente da sua trajetória política está se desenhando.  
Diante do panorama que ora se descortina, grande é a probabilidade de Manuela ter embarcado em canoa furada ao celebrar acordo com pessoas não confiáveis. Melhor teria feito se mantivesse sua candidatura à presidência da república. Exibiria o seu valor próprio e mediria o pulso do seu eleitorado cujos dados concretos estariam registrados no tribunal eleitoral depois das eleições. Os atuais parceiros poderão fazer com ela o mesmo que fizeram com Marília Arraes. Chegada a hora (setembro?) ela será afastada. Registrado na chapa de Lula, o vice Haddad não renunciará para dar lugar a ela, porque não é da índole desses políticos a renúncia altruísta e tampouco honrar a palavra empenhada. Refeita a chapa com Haddad na cabeça (caso a candidatura de Lula seja cassada), o vice será alguém do PT ou do PSB. Manuela ficará a ver navios. Os enganadores apresentarão justificativas fundadas no pragmatismo. Miséria da vida política. 
Por linhas tortas, deus escreve certo. Lula errou ao aceitar a provocação dos críticos, entrar na competição eleitoral e se apresentar como salvador da pátria. Sossegado na sua casa, reconhecido como o maior estadista do período republicano da história do Brasil, promovendo palestras no país e no exterior, teria contribuído mais para a maturidade política do povo brasileiro. Vistos por outro ângulo, a sua candidatura e o processo judicial fraudulento que propiciou a sua injusta e desumana prisão serviram para expor publicamente ao mundo as vísceras putrefatas do corpo político nacional e do jornalismo amestrado, as relações de ódio entre brasileiros, o imenso número de cidadãos e cidadãs vira-latas (governantes e governados) a face corrupta dos poderes da república, o volume e o vigor da onda nazifascista.

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