domingo, 18 de março de 2018

VIOLÊNCIA

Caso Marielle. Tipo: homicídio doloso. Autoria: desconhecida até o momento. Modo: execução a tiros, de emboscada, sem possibilitar defesa à vítima. Local: Estácio (bairro da cidade do Rio de Janeiro). Motivo: torpe. Causa imediata: denúncia feita pela vítima de crimes praticados por policiais militares em determinada favela (Acari). Causa remota: ativismo político e social da vítima: [i] em defesa das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos favelados, dos pobres [ii] em oposição ao governo de direita, à intervenção federal no estado e à administração estadual e municipal.  
Violência evoca a ideia de força impetuosa e intensa contra coisas, pessoas e instituições. Força natural como a dos ciclones e a dos animais. Na sociedade, a violência provém da natureza demoníaca do animal humano e ocorre entre indivíduos (crianças, adultos), famílias, grupos e nações rivais. A violência pode ser: [i] verbal, física e moral [ii] local, nacional e internacional [iii] contra o desafeto, o inimigo, o estado, o governo, o povo, a igreja, a classe, a etnia, a arte, a ciência, a vida, a liberdade, a igualdade, a propriedade, os direitos sociais, econômicos e políticos [iv] provocada por medo, frustração, vingança, desejo de dominar, de fazer silenciar [v] estimulada pelo ódio, raiva, rancor, inveja, senso do dever.
No regime autocrático (China) e no democrático (EUA), combate-se o divergente [i] no plano intelectual (ataque às ideias, aos programas e projetos) [ii] no plano moral (ataque à honra) [iii] no plano dos fatos (agressão física, prisão, assassinato). Tanto na extrema esquerda como na extrema direita, a palavra de ordem é matar os opositores sem pestanejar.
No Brasil, há inúmeros exemplos de violência social e estatal (invasão de lares, espancamentos, lesões, prisões ilegais, assassinatos de líderes sindicais, comunitários, ambientalistas). O revoltante caso de Marielle é o mais recente. Não se trata de um “cadáver como outro qualquer” e sim de uma pessoa cuja vida foi ceifada de modo brutal, inesperado e à traição. Essa pessoa tinha alma, sentimento, pensava e agia. Segundo o noticiário, ela buscava não só o seu bem-estar como também o das outras pessoas e das comunidades. De origem pobre, conhecia por experiência própria as aflições daquelas pessoas e comunidades semelhantes a ela e à comunidade na qual nasceu e cresceu. Trabalhou, estudou, ingressou na universidade, formou-se em Sociologia, colocou em prática os ensinamentos, filiou-se a um partido político e se dedicou à causa pública como vereadora. O seu futuro auspicioso acabou no presente crivado de balas de pistola.
Os eleitores cariocas viram os seus votos irem para a sepultura. Não há prova alguma da cumplicidade da vereadora com a bandidagem. Ao contrário, há evidência de que ela combatia o crime e lutava por maior segurança e melhor qualidade de vida nas comunidades. Lamentáveis as opiniões levianas e caluniosas manifestadas por parlamentar e por magistrada do Rio de Janeiro. Esqueceram que, nos termos da lei brasileira, a calúnia contra os mortos é crime (CP 138, 2º).
Compreensível a reação popular no Rio de Janeiro e em outros estados da federação. A maioria do povo está descontente com o governo federal. Daí, também, a revolta contra a intervenção federal. As forças armadas pagam o pato sem merecer. Desde o restabelecimento da democracia, a partir de 1985, as forças armadas atuam dentro da legalidade. Fazem-no com galhardia, pois não lhes é fácil engolir governos de esquerda e tampouco obedecer as ordens de um delinquente posto na chefia da nação por um golpe civil. Atuam fielmente com base na hierarquia e na disciplina.
O efeito do trágico episódio Marielle na esfera política afigura-se natural. A esquerda enaltece a pessoa da vítima, apoia as bandeiras por ela defendidas enquanto vivia, participa das manifestações populares e acusa o governo federal. A direita defende o governo, nega a motivação política do assassinato e atua nas redes sociais e nos três poderes do estado para desqualificar a vítima. O trágico episódio aumentou a tensão entre esquerda e direita gerada pela expectativa da prisão do ex-presidente. Cresce a efervescência da massa popular. A fim de evitar derramamento de sangue, o Tribunal Regional Federal de Porto Alegre poderá, em nome da prudência, suspender a execução da pena e aguardar a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria.
O brutal assassinato de Marielle torna mais aguda a sensibilidade do povo em relação à desestruturação política e econômica do Brasil promovida pelos derrotados nas eleições de 2014. Até 2010, o governo da esquerda fazia do Brasil uma potência. O governo dos EUA não podia tolerar uma segunda potência no continente americano. Planejou e patrocinou a obra do desmonte. Recrutou agentes no Brasil para a sórdida tarefa, entre eles, o inquisidor da República de Curitiba.

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