sábado, 25 de novembro de 2017

CREDULIDADE

Filósofos e cientistas das idades média e moderna ajustam os seus estudos, as suas pesquisas e as suas ideias às escrituras “sagradas” ao invés de prosseguirem fielmente no caminho racional e honesto. Não só o vulgo, mas a elite intelectual também é composta de pessoas crédulas. Em todas as camadas sociais prevalece a credulidade. Poucos atendem à razão.
“O sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se pelo espaço de quase um dia inteiro”. (Bíblia. Antigo Testamento. Josué 10:13). Cientistas do século XXI dizem que se tratava de um eclipse do sol ao tempo do faraó que sucedeu Ramsés, no antigo Egito. Só não explicam: [1] o eclipse durar o dia inteiro [2] o sol estar num lugar (cidade de Gabaon) e a lua em outro (vale de Ajalon) [3] o planeta continuar girando.   
“Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes”. (Gênesis 3:20). Quem deu ao primeiro homem o nome de Adão? O criador? A criatura? O escritor? A Bíblia é omissa a respeito. Conforme o relato, o casal habitava um jardim no Éden (= estepe) situado na Ásia morena (Gênesis 2: 8/14). Adão e Eva eram morenos. Cientistas do século XX dizem que a África foi o berço do homem. Adão e Eva eram negros. Portanto, a humanidade é coisa de preto
Religião e ciência equivocam-se. Adão e Eva jamais existiram. Houve muitos casais distribuídos pelo orbe. A vida vegetal e animal (portanto a humana inclusive) surgiu em diversos pontos do planeta tão logo reunidas as condições ambientais, físicas e químicas para o seu nascimento.
Admita-se a linha religiosa: Deus (ideia metafísica) proveu de sentidos os animais (realidade física) e acrescentou razão ao animal humano. Qual a finalidade do acréscimo? Para o animal humano: (i) fazer uso da razão a fim de conhecer a si próprio e ao mundo que o cerca e assim melhor atender às suas necessidades e utilidades (ii) sair das trevas da ignorância para a luz do conhecimento (iii) perceber a realidade e afastar a ilusão.
Os primeiros homens inventaram espantosas religiões nas quais passaram a acreditar fantasiando deuses criando uma teogonia natural. A fantasia é tanto mais robusta quanto mais débil for o raciocínio. [Giambattista Vico (1668-1774). Ciência Nova. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. 2005, p. 10 + 126].
O primitivismo poético (criatividade condutora das vicissitudes humanas ao imaginário mundo dos deuses e heróis, início fabuloso da história humana) é uma característica atávica da humanidade que se encontra na base das civilizações antigas e clássicas (Egito, Mesopotâmia, Pérsia, Índia, China, Grécia, Roma).
A razão e a sensatez rejeitam as narrativas da Bíblia sobre a gênese do mundo, os milagres e prodígios contrários às leis da natureza, saídos da imaginação dos escritores bíblicos para impressionar a massa ignara. Entretanto, a emoção que essas narrativas despertam contribui para a crença de que os seus conteúdos são verdadeiros. O fantástico, o extraordinário e o maravilhoso, assombram e seduzem os humanos. A crença afasta a evidência, a metafísica supera a física. Tudo o que é ignorado é considerado magnífico. Tácito (55-120 d.C.).
Os textos do judaísmo hebraico [gênesis + êxodo + levítico + números + deuteronômio = pentateuco e outros livros da Bíblia considerados históricos, sapienciais, proféticos] próprios da comunidade dos hebreus, referiam-se: [1] a um povo bárbaro, ignorante, iletrado e supersticioso [2] a episódios supostamente ocorridos muitos séculos antes da época em que foram escritos, sem qualquer prova fidedigna. Os textos do judaísmo cristão (evangelhos + atos dos apóstolos + epístolas + apocalipse) seguem essa tradição mistificadora do povo hebreu ao qual pertenciam os membros da primitiva seita cristã. Esses textos alicerçaram – não pela via racional e sim pela via fiduciária – a cultura de uma Europa ainda povoada por bárbaros, ignorantes, iletrados e supersticiosos (reis + nobres + soldados + plebeus + escravos). O dogma religioso sufocou a tese científica e ofuscou a luz da razão (obscurantismo).

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