terça-feira, 14 de novembro de 2017

BRASILIDADE

ORIGEM. 
Portugueses e espanhóis colonizaram a América do Sul habitada por silvícolas. Trouxeram europeus brancos como colonos e africanos negros como escravos. A colônia portuguesa prosperou com a chegada da rainha e família (1808). A colônia foi promovida a reino, porém unido ao de Portugal e Algarve (1815). Ao romper-se a união, nasce o Brasil como estado soberano e monárquico (1822). O território dividia-se em províncias, sendo que ao Norte, as do Grão-Pará e Bahia eram leais ao rei lusitano e ao Sul, as de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo eram leais ao jovem e impetuoso príncipe lusitano. A nação foi se formando, pouco a pouco, no compasso das experiências sociais e políticas. A forte presença lusitana durante o primeiro império (1822/1831) retardou o desabrochar do espírito nacional. Aos nascidos no Brasil faltavam o sentimento de nacionalidade e a noção de unidade territorial própria. Com a integração do território estatal (Norte + Sul) a unidade física começa a ser percebida como união espiritual (valores e aspirações comuns), apesar das desigualdades sociais e econômicas quer entre pessoas, quer entre regiões. As rebeliões internas e as guerras do período da regência (1831/1840) e do segundo império (1840/1889) contribuíram para despertar o espírito nacional e provocar a noção de pátria, fortalecidos a partir da primeira república (1889/1930).

MISCIGENAÇÃO.
As culturas dos silvícolas e dos africanos suportaram o peso da dominante cultura dos colonizadores. Houve influência recíproca. Sem discriminar, os brancos transavam sexualmente com as índias e as negras. Nasciam os mestiços (caboclos e mulatos). Os índios e os negros não transavam com as brancas. Nos puteiros do período republicano, as brancas aceitavam transar com mulatos e negros desde que pagassem. Os índios não frequentavam o meretrício. Durante o segundo império e a primeira república, levas de imigrantes ajudaram a povoar o país (italianos, alemães, ucraínos, poloneses, holandeses, russos). Os imigrantes achavam os brasileiros preguiçosos e malandros. Eles trouxeram para cá os seus costumes, idiomas, conceitos, preconceitos e a sua força de trabalho. No início, mantiveram-se fechados nas respectivas colônias, mas paulatinamente foram se relacionando com os nativos, inclusive sexualmente. Seus descendentes integram a nação brasileira, prestam serviço militar, frequentam escola pública, exercem funções públicas e privadas. Muitos deles integraram a força expedicionária brasileira na segunda guerra mundial e lutaram na Itália contra italianos e alemães. Negros e mulatos lutaram não só nesta como também nas guerras anteriores contra a Argentina, o Uruguai e o Paraguai   

PERFIL.
Brasileiro: quem nasce no Brasil ou se naturaliza. Por sua condição humana, todo brasileiro necessita de ar, água, alimento, abrigo e amor. Tipo único de brasileiro não existe. Há diversidade: [1] física: estatura alta, média e baixa, robusto e raquítico, cabelos lisos, crespos, ondulados, castanhos, loiros e ruivos, olhos castanhos, azuis e verdes, pele escura e clara, feio e bonito; [2] cultural: artista, cientista, bacharel, literato, alfabetizado sem curso superior e analfabeto; [3] racial: descendente de indígenas, africanos, europeus e asiáticos; [4] religiosa: cristão, judeu, muçulmano, budista; [5] social: patriota (tipo militar), filho da puta (tipo numeroso no governo), nacionalista, entreguista, autodeterminado, colonizado, legalista, rebelde, trabalhador, vagabundo, justo, criminoso, honesto, pilantra, bondoso, cruel, veraz, mentiroso, leal, traidor, corajoso, covarde, brioso, vira-lata. Dessa diversidade e miscelânea não se extrai padrão típico de brasileiro, salvo para enfeitar, louvar ou criticar.  

RACISMO.
Com a miscigenação apareceram os mestiços, mas não desapareceram os brancos, negros e índios, nem tampouco o preconceito. “Negro quando não caga na entrada, caga na saída”. “Serviço de negro”. “Preto de alma branca”. “Coisa de preto”. “Programa de índio”. “Vá procurar a sua tribo”. Expressões bem conhecidas no Brasil, reveladoras das ideias e dos sentimentos discriminatórios que pulsam na alma brasileira e se manifestam em diversas ocasiões por todo o território nacional. Ideias e sentimentos que também habitam corações e mentes de outros povos. Todos negam ser preconceituosos. Herdeiros da cultura europeia, os brancos brasileiros continuaram a discriminar os negros e os índios, considerando-os seres inferiores, ignorantes, incultos, de baixa ou nenhuma inteligência, desprovidos de dignidade. Essa forma de pensar caracteriza o racismo, cuja tese central é a existência de raças superiores puras e de raças inferiores impuras.
Discriminar é operação própria da razão. Graças a essa capacidade os humanos classificam as coisas para melhor conhece-las, estuda-las e explicá-las. A ciência classifica os seres da natureza em três reinos: mineral, vegetal e animal. Os seres do reino animal são classificados em dois grupos: racional e irracional. Em cada grupo há diversidade de tipos chamados raças. O grupo racional integrado pelos humanos compreende essa pluralidade de raças. Não existe, pois, a raça humana, salvo no sentido figurado. Existem raças humanas, ou seja, a espécie humana e seus tipos. A existência dessa pluralidade, entretanto, não justifica o preconceito. O fenômeno natural não autoriza o fato cultural. A raça é fato natural (criado pela natureza). O racismo é fato cultural (criado pelo homem). Da desvirtuada transposição do fenômeno da natureza para o mundo da cultura resultou a teoria do racismo (de funestas consequências quando social e politicamente aplicada).
Sob efeito de duas guerras mundiais (1914 e 1939) a consciência dos povos civilizados reconheceu a humanidade dos negros e dos índios. O preconceito explícito sofreu o anátema do estado. Na vigente ordem jurídica brasileira, o racismo figura como crime grave e o preconceito racial é vedado. No entanto, o preconceito implícito permanece latente na sociedade e no espírito dos brasileiros. Basta surgir a ocasião e ele se manifesta. Na escolha de empregados, os brancos têm preferência. Os mestiços ficam com as sobras. Os negros, nem com as sobras. Os fatos são notórios, constatados por ouvidos e olhos atentos nas lojas, repartições públicas, escolas, fábricas, empresas comerciais e nos mais elevados postos da república.
Negros e mulatos normalmente exibem temperamento alegre, dançante e musical. Eles se destacam nos esportes. O maior jogador de futebol do mundo é um brasileiro negro. O segundo, um brasileiro caboclo. Há heróis índios, negros e mulatos. O patrono das letras brasileiras era mulato.       

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