terça-feira, 10 de dezembro de 2013

FILOSOFIA VII



Grécia (800 a.C. a 001 d.C.).

A área ao sul da Tessália era conhecida como Hélade, que a partir do século VII (700 a 601 a.C.) virou sinônimo de Grécia. Destarte, civilização helênica e civilização grega significam a mesma cultura; nomes diferentes para o mesmo período histórico (civilização = grau superior de cultura). Felipe da Macedônia conquistou a Grécia (338 a.C.). Depois da morte de Alexandre, filho e sucessor de Felipe (323 a.C.), a cultura grega é inseminada pela cultura oriental gerando nova civilização que se estendeu até o início da era cristã. Esta nova cultura recebeu o nome de civilização helenística e se estendia da península grega ao Egito e à parte ocidental da Índia. 
A cultura grega distinguiu-se pelo secularismo. A partir de determinado momento histórico, o laço político tornou-se mais forte do que o laço religioso. Os gregos assumem atitude laica, pragmática e racionalista. Buscam o bem-estar individual. Colocam o intelecto acima da fé e o estado acima da religião. Ressalvada a situação de Esparta, na Grécia havia um espírito de liberdade incompatível com o despotismo. Esse espírito se refletiu na cultura do mundo ocidental moderno e levou à queda do absolutismo e à conquista da democracia na Europa.
Civilização alguma surge do nada. Há heranças culturais. O pensamento filosófico e científico dos egípcios serviu de propedêutica à filosofia e à ciência dos gregos. Do alfabeto fenício derivou o alfabeto grego. Da cultura cretense os gregos herdaram o ideal de beleza, liberdade e igualdade. Esse ideal foi vivenciado com as nuances da realidade histórica daquela época (escravatura, estratificação social, politeísmo, guerra).
A civilização helênica foi precedida dos tempos homéricos (1200 a 800 a.C.). Homero, poeta grego, tratou dos ideais e dos costumes daquela época nos seus poemas Ilíada e Odisséia. Oriundos do vale do Danúbio, os helenos resultaram da mistura de raças alpina, nórdica e outras, desconheciam a escrita, eram bárbaros e se dedicavam à agricultura e à pecuária. O norte da península grega foi ocupado pelos jônios; o sul, pelos aqueus. Parte da Grécia continental, do Peloponeso e das ilhas do Egeu, foi ocupada pelos dórios que, finalmente, capturaram Cnossos, cidade que era o centro da civilização egéia.
Esses povos ainda não constituíam uma sociedade política com as características de estado. O rei de Ítaca, Ulisses, ausentou-se por 20 anos sem que fosse designado regente algum. Ao rei cabia o comando militar em tempo de guerra e a função sacerdotal, mas ele tinha de cultivar a terra e prover o seu próprio sustento como os demais membros da comunidade. Os costumes tinham força de lei. A justiça era privada. O homicídio era punido pela família da vítima. O papel do rei era de árbitro e não de juiz. O padrão de vida era simples, nobreza acessível a qualquer guerreiro que se destacasse por bravura. O trabalho manual era valorizado; não se notava ociosidade, nem escravatura. Havia alguns ofícios como a carpintaria, cutelaria, olaria e ourivesaria. A família providenciava seu próprio alimento, tecia roupas e fabricava os utensílios domésticos e instrumentos de trabalho. O escambo era o único meio de circulação de bens; o dinheiro só foi adotado depois de alguns séculos.
Os gregos dos tempos homéricos eram politeístas, indiferentes ao destino depois da morte, cremavam o corpo dos mortos e não acreditavam em recompensa ou punição no outro mundo. No reino espiritual dos Campos Elíseos moravam os escolhidos arbitrariamente pelos deuses. O reino espiritual do Tártaro era prisão das divindades rebeldes. Os deuses tinham as qualidades boas e más dos seres humanos, sem onipotência; deles os gregos esperavam obter benefícios materiais. Os deuses eram imortais porque se alimentavam de ambrósia e néctar. O templo era lugar sagrado que os deuses visitavam ou moravam ocasionalmente; a morada permanente era no Monte Olimpo (norte da Grécia, 3.000 metros de altura). Os deuses lutavam entre si, eram egoístas, vaidosos, transavam com as fêmeas humanas e geravam filhos. Zeus era considerado o pai dos deuses e dos homens. Apolo (deus do sol) e Atenéia (deusa da guerra) recebiam mais atenção do que Zeus. Não havia mandamentos, dogmas e rituais complicados. Sacrifícios eram feitos para agradar aos deuses, sem finalidade expiatória: o crente fazia a sua parte e o deus a dele, como se houvesse tácito contrato entre os deuses e os homens. O chefe de família conduzia o ritual doméstico e o rei celebrava para toda a comunidade. As pessoas eram livres para crer no que lhes conviesse, sem temer a ira de deus algum o que, certamente, facilitou o progresso intelectual e artístico das gerações que formaram a civilização grega.
A ética não derivava da religião e sim da mentalidade guerreira. A bravura, o autodomínio, a astúcia, o devotamento aos amigos e o ódio aos inimigos eram as virtudes mais estimadas. Na busca da auto-realização o grego daquela época rejeitava a mortificação do corpo e não via mérito algum em se humilhar; cultivava o finito e o natural; era humanista e não considerava o homem um ser depravado e pecador.
A formação das cidades seguia um padrão no evolver social: as famílias se reuniam em fratrias (gens); estas se reuniam em tribos. A cidade (polis) era a congregação das tribos para fins de defesa e realização de tarefas comuns sob um comando geral. Concomitante a esse desiderato pragmático, havia o propósito moral de se unir para o bem de todos. Isto exigia regras de cumprimento obrigatório. Daí a importância de legisladores hábeis na organização política como Licurgo (Esparta), Sólon e Clístenes (Atenas) venerados como heróis. Cada uma dessas coletividades (família, fratria, tribo e cidade) conservava os seus próprios deuses e cultos que ao lado dos costumes criavam fortes laços sociais. A fundação da cidade era um ato santificador praticado num rito religioso na área escolhida para ser o núcleo sagrado: demarcação, assentamento do lar (altar) onde era aceso o fogo sagrado, oferta de sacrifício, invocação dos deuses protetores (heróis e antepassados), oração, hino e procissão. Em local alto construía-se a acrópole (cidadela) para fins estratégicos; em torno dela, a população com suas casas e os logradouros públicos. Atenas, Tebas e Megara, no continente; Esparta e Corinto, no Peloponeso; Mileto na costa da Ásia Menor; Mitilene e Cálcis, nas ilhas do Mar Egeu, eram as cidades mais importantes. Atenas com 3.000 quilômetros quadrados e Esparta com 8.000 quilômetros quadrados, abrigavam cerca de 400 mil habitantes cada uma, no auge do seu desenvolvimento, enquanto as outras cidades, em média, tinham 300 quilômetros quadrados e população inferior a 100 mil habitantes.
A partir da cidade, com seu governo central, a civilização grega tem o seu começo (800 a.C.). Em busca de terra para cultivar muitos gregos criaram colônias em regiões ainda não habitadas da Itália, da Espanha e dos mares Egeu, Jônio e Negro. A procura de novas rotas para o comércio contribuiu para a expansão grega e seu desenvolvimento econômico. Indústria e comércio se tornaram mais importante do que agricultura e pecuária no mundo dos negócios. Mais do que pensada, a polis (cidade) era sentida e querida como associação física e moral gerada no processo histórico. A partir de determinado momento, a polis passa a ser objeto de reflexão filosófica matriz de um pensamento político.
Do ponto de vista político, a exceção de Esparta, as cidades seguiram aproximadamente a mesma trilha: monarquia, oligarquia, tirania e democracia, com as oscilações próprias do mundo social. Monarquia, nos tempos homéricos. Depois, oligarquia composta por latifundiários que ocuparam o lugar do monarca e formaram um conselho governante denominado Areópago. O conflito de interesses entre a camada social média (urbana e rural) e os latifundiários abriu espaço para governo pessoal de líderes carismáticos e astutos que assumiam o poder. Os gregos chamavam esse tipo de governo de tirania, independente de ser ou não ser opressivo. Por derradeiro, veio a democracia. A cidade passou a ser governada pelo povo. Apenas parcela da população (conceito demográfico) compunha o povo (conceito político). Inicialmente, só os homens proprietários desfrutavam da cidadania ativa; depois, todos os homens livres. As mulheres não participavam da política. Não havia igualdade entre homem e mulher. O casamento interessava ao estado como fonte de futuros cidadãos. Regularmente, a esposa ficava reclusa no lar, sem aparecer em público. Nas famílias bem situadas economicamente, o dote era o meio de o pai atrair marido para a filha. O arranjo político e econômico ocupava o lugar da amorosa chama no casamento. O homem de negócios costumava passar muito tempo longe da família e as esposas nem sempre se mantinham castas como Penélope.

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