Grécia (800 a.C.
a 001 d.C.).
A área ao sul da Tessália era
conhecida como Hélade, que a partir
do século VII (700 a
601 a.C.)
virou sinônimo de Grécia. Destarte, civilização
helênica e civilização grega
significam a mesma cultura; nomes diferentes para o mesmo período histórico (civilização = grau superior de cultura).
Felipe da Macedônia conquistou a Grécia (338 a.C.). Depois da morte de Alexandre, filho
e sucessor de Felipe (323 a.C.),
a cultura grega é inseminada pela cultura oriental gerando nova civilização que
se estendeu até o início da era cristã. Esta nova cultura recebeu o nome de civilização helenística e se estendia da
península grega ao Egito e à parte ocidental da Índia.
A cultura grega distinguiu-se
pelo secularismo. A partir de determinado momento histórico, o laço político
tornou-se mais forte do que o laço religioso. Os gregos assumem atitude laica,
pragmática e racionalista. Buscam o bem-estar individual. Colocam o intelecto
acima da fé e o estado acima da religião. Ressalvada a situação de Esparta, na
Grécia havia um espírito de liberdade incompatível com o despotismo. Esse
espírito se refletiu na cultura do mundo ocidental moderno e levou à queda do
absolutismo e à conquista da democracia na Europa.
Civilização alguma surge do nada.
Há heranças culturais. O pensamento filosófico e científico dos egípcios serviu
de propedêutica à filosofia e à ciência dos gregos. Do alfabeto fenício derivou
o alfabeto grego. Da cultura cretense os gregos herdaram o ideal de beleza,
liberdade e igualdade. Esse ideal foi vivenciado com as nuances da realidade
histórica daquela época (escravatura, estratificação social, politeísmo,
guerra).
A civilização helênica foi
precedida dos tempos homéricos (1200 a 800 a.C.). Homero, poeta
grego, tratou dos ideais e dos costumes daquela época nos seus poemas Ilíada e Odisséia. Oriundos do vale do Danúbio, os helenos resultaram da
mistura de raças alpina, nórdica e outras, desconheciam a escrita, eram
bárbaros e se dedicavam à agricultura e à pecuária. O norte da península grega
foi ocupado pelos jônios; o sul, pelos aqueus. Parte da Grécia continental, do
Peloponeso e das ilhas do Egeu, foi ocupada pelos dórios que, finalmente,
capturaram Cnossos, cidade que era o centro da civilização egéia.
Esses povos ainda não constituíam
uma sociedade política com as características de estado. O rei de Ítaca,
Ulisses, ausentou-se por 20 anos sem que fosse designado regente algum. Ao rei
cabia o comando militar em tempo de guerra e a função sacerdotal, mas ele tinha
de cultivar a terra e prover o seu próprio sustento como os demais membros da
comunidade. Os costumes tinham força de lei. A justiça era privada. O homicídio
era punido pela família da vítima. O papel do rei era de árbitro e não de juiz.
O padrão de vida era simples, nobreza acessível a qualquer guerreiro que se
destacasse por bravura. O trabalho manual era valorizado; não se notava
ociosidade, nem escravatura. Havia alguns ofícios como a carpintaria,
cutelaria, olaria e ourivesaria. A família providenciava seu próprio alimento,
tecia roupas e fabricava os utensílios domésticos e instrumentos de trabalho. O
escambo era o único meio de circulação de bens; o dinheiro só foi adotado
depois de alguns séculos.
Os gregos dos tempos homéricos
eram politeístas, indiferentes ao destino depois da morte, cremavam o corpo dos
mortos e não acreditavam em recompensa ou punição no outro mundo. No reino
espiritual dos Campos Elíseos moravam
os escolhidos arbitrariamente pelos deuses. O reino espiritual do Tártaro era prisão das divindades
rebeldes. Os deuses tinham as qualidades boas e más dos seres humanos, sem
onipotência; deles os gregos esperavam obter benefícios materiais. Os deuses
eram imortais porque se alimentavam de ambrósia e néctar. O templo era lugar
sagrado que os deuses visitavam ou moravam ocasionalmente; a morada permanente
era no Monte Olimpo (norte da Grécia, 3.000 metros de
altura). Os deuses lutavam entre si, eram egoístas, vaidosos, transavam com as
fêmeas humanas e geravam filhos. Zeus era considerado o pai dos deuses e dos
homens. Apolo (deus do sol) e Atenéia (deusa da guerra) recebiam mais atenção
do que Zeus. Não havia mandamentos, dogmas e rituais complicados. Sacrifícios
eram feitos para agradar aos deuses, sem finalidade expiatória: o crente fazia
a sua parte e o deus a dele, como se houvesse tácito contrato entre os deuses e
os homens. O chefe de família conduzia o ritual doméstico e o rei celebrava
para toda a comunidade. As pessoas eram livres para crer no que lhes conviesse,
sem temer a ira de deus algum o que, certamente, facilitou o progresso
intelectual e artístico das gerações que formaram a civilização grega.
A ética não derivava da religião
e sim da mentalidade guerreira. A bravura, o autodomínio, a astúcia, o
devotamento aos amigos e o ódio aos inimigos eram as virtudes mais estimadas.
Na busca da auto-realização o grego daquela época rejeitava a mortificação do
corpo e não via mérito algum em se humilhar; cultivava o finito e o natural;
era humanista e não considerava o homem um ser depravado e pecador.
A formação das cidades seguia um
padrão no evolver social: as famílias se reuniam em fratrias (gens); estas se reuniam em tribos. A cidade (polis) era a congregação das tribos para
fins de defesa e realização de tarefas comuns sob um comando geral. Concomitante
a esse desiderato pragmático, havia o propósito moral de se unir para o bem de todos. Isto exigia regras de
cumprimento obrigatório. Daí a importância de legisladores hábeis na
organização política como Licurgo (Esparta), Sólon e Clístenes (Atenas)
venerados como heróis. Cada uma dessas coletividades (família, fratria, tribo e
cidade) conservava os seus próprios deuses e cultos que ao lado dos costumes
criavam fortes laços sociais. A fundação da cidade era um ato santificador
praticado num rito religioso na área escolhida para ser o núcleo sagrado:
demarcação, assentamento do lar (altar) onde era aceso o fogo sagrado, oferta
de sacrifício, invocação dos deuses protetores (heróis e antepassados), oração,
hino e procissão. Em local alto construía-se a acrópole (cidadela) para fins
estratégicos; em torno dela, a população com suas casas e os logradouros
públicos. Atenas, Tebas e Megara, no continente; Esparta e Corinto, no
Peloponeso; Mileto na costa da Ásia Menor; Mitilene e Cálcis, nas ilhas do Mar Egeu,
eram as cidades mais importantes. Atenas com 3.000 quilômetros
quadrados e Esparta com 8.000 quilômetros quadrados, abrigavam cerca de
400 mil habitantes cada uma, no auge do seu desenvolvimento, enquanto as outras
cidades, em média, tinham 300 quilômetros quadrados e população inferior
a 100 mil habitantes.
A partir da cidade, com seu
governo central, a civilização grega tem o seu começo (800 a.C.). Em busca de terra
para cultivar muitos gregos criaram colônias em regiões ainda não habitadas da
Itália, da Espanha e dos mares Egeu, Jônio e Negro. A procura de novas rotas
para o comércio contribuiu para a expansão grega e seu desenvolvimento
econômico. Indústria e comércio se tornaram mais importante do que agricultura
e pecuária no mundo dos negócios. Mais do que pensada, a polis (cidade)
era sentida e querida como associação física e moral gerada no processo
histórico. A partir de determinado momento, a polis passa a ser objeto de reflexão filosófica matriz de um
pensamento político.
Do ponto de vista político, a exceção de Esparta, as
cidades seguiram aproximadamente a mesma trilha: monarquia, oligarquia, tirania
e democracia, com as oscilações próprias do mundo social. Monarquia, nos tempos
homéricos. Depois, oligarquia composta por latifundiários que ocuparam o lugar
do monarca e formaram um conselho governante denominado Areópago. O conflito de
interesses entre a camada social média (urbana e rural) e os latifundiários
abriu espaço para governo pessoal de líderes carismáticos e astutos que
assumiam o poder. Os gregos chamavam esse tipo de governo de tirania, independente de ser ou não ser
opressivo. Por derradeiro, veio a democracia. A cidade passou a ser governada
pelo povo. Apenas parcela da população
(conceito demográfico) compunha o povo
(conceito político). Inicialmente, só os homens proprietários desfrutavam da
cidadania ativa; depois, todos os homens livres. As mulheres não participavam
da política. Não havia igualdade entre homem e mulher. O casamento interessava
ao estado como fonte de futuros cidadãos. Regularmente, a esposa ficava reclusa
no lar, sem aparecer em
público. Nas famílias bem situadas economicamente, o dote era
o meio de o pai atrair marido para a filha. O arranjo político e econômico
ocupava o lugar da amorosa chama no casamento. O homem de negócios costumava
passar muito tempo longe da família e as esposas nem sempre se mantinham castas
como Penélope.
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