quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

FILOSOFIA VII - D



Grécia (continuação).

Na idade áurea da civilização grega surgem dois grandes historiadores: Tucídides, que narrou a guerra entre Esparta e Atenas; Heródoto, cognominado “Pai da História”, que narrou a guerra entre gregos e persas (luta épica entre oriente e ocidente). Heródoto menciona um diálogo (provavelmente criado por ele mesmo) sobre o mérito das formas de governo. Os personagens são três persas: Dario, Megabizo e Otanes.
Dario repudia tanto o governo da elite como o governo da massa. Ele defende o governo de uma só pessoa inteligente e moralmente bem qualificada. A elite traz em si o potencial de discórdias intestinas e descamba em batalhas e assassinatos. A massa traz em si a maldade, concílio de pessoas más, conspirações para destruir a coisa pública, até surgir um salvador. A monarquia, pois, é melhor do que a aristocracia e a democracia.
Megabizo coloca-se contra o governo de uma só pessoa e contra o governo do povo. O rei exclusivo sujeita a cidade aos abusos e excessos; a sua vontade soberana prevalece sobre todas as vontades. A insolência de uma multidão imprestável e sem freios não serve para governar a cidade; o povo não usa a razão. Ignorante e cego, o povo move-se pela paixão numa torrente que tudo destrói. Os melhores cidadãos devem governar a cidade (aristocracia).
Otanes coloca-se contra a monarquia e a aristocracia. Não pode ser bom o governo de um rei com plena liberdade para fazer o que quer sem prestar contas dos seus atos. Dispondo de plenos poderes, mesmo o homem virtuoso não tardará a corromper-se. {Séculos mais tarde, Montesquieu tocará nesta mesma tecla}. O arbítrio não respeita leis; dele resultam violência e execuções sem prévio julgamento. O governo popular, a isonomia, é superior às outras formas. Os magistrados são eleitos por sorteio, prestam contas dos seus atos e suas decisões são submetidas à apreciação do povo.
Equilíbrio, harmonia, moderação, eram ingredientes da arte grega. A ética e a estética se confundiam; não havia fronteira intransponível entre o bem e o belo na arte grega (ateniense). Essa arte expressava a vida nacional, com fins estéticos e políticos, como exemplificam a estátua da deusa Atena e o seu magnífico templo. Havia pouco interesse em retratar personalidades. As estátuas não representavam pessoa em particular, mas um tipo humano, como a do discóbolo que representava o atletismo {esculpida por Miron no século V (500 a 401 a.C.)}. Fídias foi o grande nome da escultura grega (estátuas de Atena e de Zeus).
Na matemática, inúmeros teoremas foram criados por Tales de Mileto. A escola pitagórica classificou os números (par, primo, múltiplo), elaborou a teoria da proporção, provou que a soma dos ângulos de qualquer triângulo é igual a dois ângulos retos e que o quadrado da hipotenusa do triângulo retângulo é igual à soma do quadrado dos catetos (a autoria desta última proposição geométrica é atribuída a Pitágoras). A biologia recebeu atenção de Anaximandro, que elaborou uma teoria da evolução orgânica desde as espécies mais elementares até a humana. Aristóteles estudou a estrutura, o desenvolvimento e o comportamento de muitos animais. Aceitou a teoria da evolução, porém defendia a geração espontânea de vermes e insetos. Na “Poética”, obra de grande influência na historia da arte, Aristóteles discute a tragédia e a poesia épica. O pitagórico Alcméon iniciou a técnica de dissecar corpos de animais, descobriu o nervo ótico e a trompa de Eustáquio. Ele considerava o cérebro centro do sistema nervoso. A saúde, segundo ele, é um estado de equilíbrio entre elementos opostos; quando um deles prevalece, sobrevém a doença. Empédocles, quiçá inspirado nas noções de quente e frio, seco e úmido, elaborou a teoria dos quatro elementos fundamentais (fogo, ar, terra e água), cujos princípios ativos eram amor que os aglutina e ódio que os separa. Ele descobriu o movimento do sangue de ida e volta ao coração, função dos poros na respiração e a materialidade do ar. Adotou o conceito de saúde exposto por Alcméon. Empédocles descobriu ainda que a luz gasta algum tempo ao se propagar e que a luz da lua é indireta. Hipócrates refutou a teoria de que as doenças tinham causas sobrenaturais: cada doença tem uma causa natural e sem causas naturais nada acontece. Ele estabeleceu diretrizes à clínica médica, contribuiu para o avanço técnico da cirurgia, descobriu o papel da crise nas moléstias e além dos remédios, prescreveu dieta e repouso no tratamento dos pacientes.
No período helenístico, foi grande o progresso da ciência, graças ao incentivo de Alexandre da Macedônia e à simbiose do conhecimento egípcio, caldeu e grego. Astronomia, matemática, geografia, medicina, física, foram ciências que mais evoluíram. Aristarco descobriu que a Terra e os planetas giravam em torno do Sol e que as estrelas não eram fixas como se pensava na época (310 a 230 a.C.). Eratóstenes calculou a circunferência da Terra, dividiu o globo em graus de latitude e longitude, afirmou que todos os mares são partes de um único oceano e a possibilidade de se alcançar a Índia navegando para o Oeste. Ptolomeu de Alexandria sistematizou o trabalho dos astrônomos e expôs a teoria geocêntrica. Esta teoria respaldada nos ensinamentos de Aristóteles prevaleceu até o século XVI da era cristã, quando Copérnico, apoiado no precedente aberto por Aristarco, expôs a teoria heliocêntrica, comprovada no século seguinte por Galileu. Na matemática destacou-se Euclides com os seus Elementos de Geometria (323 a 283 a.C.). Arquimedes estabeleceu a relação entre o volume da esfera e o do cilindro, formulou os princípios da alavanca, da roldana e do parafuso, descobriu a lei da gravidade específica, além das suas invenções. Destacaram-se na medicina o anatomista Herófilo e o fisiologista Erasístrato.
A literatura helenística se compõe de poemas, dramas, utopias, biografias e história. As utopias tinham grande aceitação popular e de um modo geral abordavam a vida em termos igualitários em uma região desconhecida ou em uma ilha imaginária, sem ambição, opressão e desavença, onde o comércio era proibido, a propriedade era comum e todos trabalhavam. Certamente esse tipo de literatura refletia o descontentamento do povo com a situação então vigente. Políbio destacou-se como grande historiador pelo esforço em reproduzir com fidelidade os fatos políticos, econômicos e sociais. Na arte, predominaram o realismo e a voluptuosidade (palácios luxuosos, mansões, estátuas gigantes), tudo para enaltecer o poder e a riqueza, como testemunhava o farol de Alexandria.

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