Grécia (continuação).
Na idade áurea da civilização
grega surgem dois grandes historiadores: Tucídides, que narrou a guerra entre
Esparta e Atenas; Heródoto, cognominado “Pai da História”, que narrou a guerra
entre gregos e persas (luta épica entre oriente e ocidente). Heródoto menciona
um diálogo (provavelmente criado por ele mesmo) sobre o mérito das formas de
governo. Os personagens são três persas: Dario, Megabizo e Otanes.
Dario repudia tanto o governo da
elite como o governo da massa. Ele defende o governo de uma só pessoa
inteligente e moralmente bem qualificada. A elite traz em si o potencial de
discórdias intestinas e descamba em batalhas e assassinatos. A massa traz em si
a maldade, concílio de pessoas más, conspirações para destruir a coisa pública,
até surgir um salvador. A monarquia, pois, é melhor do que a aristocracia e a
democracia.
Megabizo coloca-se contra o
governo de uma só pessoa e contra o governo do povo. O rei exclusivo sujeita a
cidade aos abusos e excessos; a sua vontade soberana prevalece sobre todas as
vontades. A insolência de uma multidão imprestável e sem freios não serve para
governar a cidade; o povo não usa a razão. Ignorante e cego, o povo move-se
pela paixão numa torrente que tudo destrói. Os melhores cidadãos devem governar
a cidade (aristocracia).
Otanes coloca-se contra a
monarquia e a aristocracia. Não pode ser bom o governo de um rei com plena
liberdade para fazer o que quer sem prestar contas dos seus atos. Dispondo de
plenos poderes, mesmo o homem virtuoso não tardará a corromper-se. {Séculos
mais tarde, Montesquieu tocará nesta mesma tecla}. O arbítrio não respeita
leis; dele resultam violência e execuções sem prévio julgamento. O governo
popular, a isonomia, é superior às
outras formas. Os magistrados são eleitos por sorteio, prestam contas dos seus
atos e suas decisões são submetidas à apreciação do povo.
Equilíbrio, harmonia, moderação,
eram ingredientes da arte grega. A ética e a estética se confundiam; não havia
fronteira intransponível entre o bem
e o belo na arte grega (ateniense).
Essa arte expressava a vida nacional, com fins estéticos e políticos, como
exemplificam a estátua da deusa Atena e o seu magnífico templo. Havia pouco
interesse em retratar personalidades. As estátuas não representavam pessoa em particular,
mas um tipo humano, como a do discóbolo que representava o atletismo {esculpida
por Miron no século V (500 a
401 a.C.)}.
Fídias foi o grande nome da escultura grega (estátuas de Atena e de Zeus).
Na matemática, inúmeros teoremas
foram criados por Tales de Mileto. A escola pitagórica classificou os números
(par, primo, múltiplo), elaborou a teoria da proporção, provou que a soma dos
ângulos de qualquer triângulo é igual a dois ângulos retos e que o quadrado da
hipotenusa do triângulo retângulo é igual à soma do quadrado dos catetos (a
autoria desta última proposição geométrica é atribuída a Pitágoras). A biologia
recebeu atenção de Anaximandro, que elaborou uma teoria da evolução orgânica
desde as espécies mais elementares até a humana. Aristóteles estudou a
estrutura, o desenvolvimento e o comportamento de muitos animais. Aceitou a
teoria da evolução, porém defendia a geração espontânea de vermes e insetos. Na
“Poética”, obra de grande influência na historia da arte, Aristóteles discute a
tragédia e a poesia épica. O pitagórico Alcméon iniciou a técnica de dissecar
corpos de animais, descobriu o nervo ótico e a trompa de Eustáquio. Ele
considerava o cérebro centro do sistema nervoso. A saúde, segundo ele, é um
estado de equilíbrio entre elementos opostos; quando um deles prevalece,
sobrevém a doença. Empédocles, quiçá inspirado nas noções de quente e frio,
seco e úmido, elaborou a teoria dos quatro elementos fundamentais (fogo, ar, terra e água), cujos
princípios ativos eram amor que os
aglutina e ódio que os separa. Ele
descobriu o movimento do sangue de ida e volta ao coração, função dos poros na
respiração e a materialidade do ar. Adotou o conceito de saúde exposto por
Alcméon. Empédocles descobriu ainda que a luz gasta algum tempo ao se propagar
e que a luz da lua é indireta. Hipócrates refutou a teoria de que as doenças
tinham causas sobrenaturais: cada doença
tem uma causa natural e sem causas naturais nada acontece. Ele estabeleceu
diretrizes à clínica médica, contribuiu para o avanço técnico da cirurgia,
descobriu o papel da crise nas moléstias e além dos remédios, prescreveu dieta
e repouso no tratamento dos pacientes.
No período helenístico, foi
grande o progresso da ciência, graças ao incentivo de Alexandre da Macedônia e
à simbiose do conhecimento egípcio, caldeu e grego. Astronomia, matemática,
geografia, medicina, física, foram ciências que mais evoluíram. Aristarco
descobriu que a Terra e os planetas giravam em torno do Sol e que as estrelas
não eram fixas como se pensava na época (310 a 230 a.C.). Eratóstenes calculou a
circunferência da Terra, dividiu o globo em graus de latitude e longitude,
afirmou que todos os mares são partes de um único oceano e a possibilidade de
se alcançar a Índia navegando para o Oeste. Ptolomeu de Alexandria sistematizou
o trabalho dos astrônomos e expôs a teoria geocêntrica. Esta teoria respaldada
nos ensinamentos de Aristóteles prevaleceu até o século XVI da era cristã,
quando Copérnico, apoiado no precedente aberto por Aristarco, expôs a teoria
heliocêntrica, comprovada no século seguinte por Galileu. Na matemática
destacou-se Euclides com os seus Elementos
de Geometria (323 a
283 a.C.).
Arquimedes estabeleceu a relação entre o volume da esfera e o do cilindro,
formulou os princípios da alavanca, da roldana e do parafuso, descobriu a lei
da gravidade específica, além das suas invenções. Destacaram-se na medicina o
anatomista Herófilo e o fisiologista Erasístrato.
A literatura helenística se compõe de poemas, dramas,
utopias, biografias e história. As utopias tinham grande aceitação popular e de
um modo geral abordavam a vida em termos igualitários em uma região
desconhecida ou em uma ilha imaginária, sem ambição, opressão e desavença, onde
o comércio era proibido, a propriedade era comum e todos trabalhavam. Certamente
esse tipo de literatura refletia o descontentamento do povo com a situação
então vigente. Políbio destacou-se como grande historiador pelo esforço em
reproduzir com fidelidade os fatos políticos, econômicos e sociais. Na arte,
predominaram o realismo e a voluptuosidade (palácios luxuosos, mansões,
estátuas gigantes), tudo para enaltecer o poder e a riqueza, como testemunhava
o farol de Alexandria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário