Grécia (continuação).
A Liga de Delos
(união de estados gregos celebrada para resistir à invasão persa) prosseguiu
depois da paz concluída. Atenas dela se serviu para empresa naval no Egeu e
reconstrução da cidade que fora devastada pelos persas. Por ter sofrido danos
ao defender a causa comum dos estados, Atenas entendeu justo usar o dinheiro
comum em benefício próprio e transferiu o tesouro da ilha de Delos para o
continente. Os outros membros da Liga foram tratados como vassalos. Além disto,
os atenienses pretendiam dominar o Golfo de Corinto, rota de comércio com o sul
da Itália. A cidade de Corinto reagiu e se aliou a Esparta. Os espartanos
acusavam os atenienses de pretender: (I) dominar as cidades do norte do
Peloponeso; (II) enfraquecer Esparta ao encorajar o conflito interno de classes
(hilotas x cidadãos).
Tanto nas cidades do Peloponeso como nas do continente havia
partidos aristocráticos que apoiavam Esparta e partidos populares que apoiavam
Atenas. A Guerra do Peloponeso como
foi chamada e que serviu de título à obra histórica de Tucídides, terminou com
a vitória de Esparta (431 a
404 a.C.).
Os espartanos dominaram a Hélade. A supremacia de Atenas chegou ao fim.
Chefiada por Epaminondas, a cidade de Tebas derrotou o exército espartano (371 a.C.). A supremacia de
Tebas durou menos de 10 anos. As demais cidades gregas se coligaram e venceram
o exército de Tebas. Pouco depois, a Grécia perde a independência ao ser
dominada pelo exército de Felipe da Macedônia. As cidades perdem a condição de
estados soberanos. Resta-lhes autonomia administrativa (338 a.C.). A soberania agora
é do imperador, do basileus (rei)
considerado a encarnação da lei sagrada. Os gregos se vêem associados aos
bárbaros sob um império que ofusca a cidade (polis), que nivela a todos e salienta a identidade universal da
natureza humana. O valor próprio do homem (humanitas)
sobrepõe-se ao valor cívico do cidadão (civitas).
A Cosmópolis
utópica de alguns gregos sonhadores toma forma no império macedônio e assumirá
forte colorido no império romano. Aliás, os grandes sonhadores (filósofos,
cientistas, artistas, inventores) sempre foram insignificante minoria do ponto
de vista numérico. Numa população mundial de bilhões de pessoas no curso dos
milênios destacam-se poucas centenas de pensadores e produtores no campo da
filosofia, da ciência, da arte e da técnica. A volumosa massa se beneficia do
valioso trabalho dessa pequena elite.
Após a morte de Alexandre da Macedônia, filho e sucessor de
Felipe, os chefes militares disputaram o governo do império. Os vitoriosos
fracionaram-no (301 a.C.):
Pérsia, Mesopotâmia e Síria couberam a Seleuco; Ásia Menor e Trácia, a Lisímaco;
Egito, Fenícia e Palestina, a Ptolomeu; Macedônia, a Cassandro. Decorridos
cerca de 20 anos, Seleuco se apodera do reino de Lisímaco, depois de vencê-lo e
matá-lo em batalha. No
século seguinte, Roma submete todos esses territórios ao seu domínio (200 a 30 a.C.). A civilização
helenística chega ao fim. A referida civilização distinguiu-se da grega por seu
orientalismo, sua extravagância na arte, seus excessos nos costumes, pela
selvagem competição por maiores lucros nos negócios e pela submissão da lógica
à fé. Predominou o governo despótico por direito divino, como aconteceu no
império selêucida (Ásia) e ptolomaico (Egito).
Alguns estados gregos se uniram em ligas, resistiram ao
domínio da Macedônia e formaram uma confederação. Com exceção de Esparta e
Elis, os demais estados do Peloponeso constituíram a Liga Aquéia. Com exceção
de Atenas, os demais estados da Grécia central constituíram a Liga Etólia.
Estas ligas tinham: (I) um conselho
federal composto dos representantes dos estados (cidades) com poder de
legislar sobre assuntos de interesse coletivo; (II) uma assembléia geral composta por cidadãos eleitos pelos estados com o
poder de resolver questões de guerra, cunhagem, pesos e medidas e de nomear
funcionários; (III) uma autoridade
executiva exercida por general eleito para mandato anual. Questões
atinentes à tributação e às forças armadas dependiam da aprovação dos governos
locais.
No período helenístico, o estado era o principal
capitalista. O império criado por Alexandre (a Cosmópolis sonhada por alguns pensadores gregos, embora não
exatamente como eles a imaginavam) permitiu a circulação de bens dentro de uma
vasta área que ia da Índia ao Egito. Houve incremento dos empréstimos e das
especulações com a entrada no meio circulante do tesouro dos persas (ouro e
prata) e a criação de bancos estatais e particulares. Para aumentar suas
rendas, o estado estimulava a indústria e o comércio em toda essa área. Os
governantes do império selêucida e do império ptolomaico regulamentaram a
economia em benefício do estado (preços tabelados, participação nos lucros dos
particulares, juros, seguro, tributação). Da abundância de capital resultou
baixa cota de lucro: 12% (300
a 201 a.C.)
e 7% (200 a
101 a.C.).
Esses dois séculos foram de prosperidade para o estado e para os comerciantes e
de pobreza para os camponeses e trabalhadores urbanos. Contratar trabalhadores
com salários baixos era mais vantajoso do que comprar e manter escravo. O custo
de vida era elevado. O estado fornecia trigo de graça às famílias dos
desempregados. A pesada servidão no campo, a expansão comercial e a crescente
burocracia estatal provocaram a migração das famílias campesinas para a vida
urbana. Os sucessores de Alexandre confiscaram a grande propriedade rural e
alugaram as terras aos rendeiros. Construíram estradas, canais e navios para
policiar os mares e proteger o seu comercio contra a pirataria; buscaram novas
rotas para lugares distantes a fim de criar novos mercados.
A cidade de Alexandria (Egito) recebia em seu porto: ouro da
Abissínia e da Índia, especiarias da Arábia, tapetes da Ásia Menor, estanho da
Bretanha, seda da China, cobre de Chipre, prata do Egeu e da Espanha, marfim da
Núbia. Nenhuma outra cidade da idade antiga ou da idade clássica a sobrepujou
em tamanho e esplendor: ruas bem traçadas e pavimentadas, grandes edifícios e
parques públicos, museu, biblioteca com 750 mil volumes, maior centro de
pesquisa científica da época, vida luxuosa para governantes, sacerdotes e mercadores.
Na literatura grega destacou-se a obra de Homero: o amor e o
ódio de Aquiles, a perfídia de Helena, a guerra de Tróia, as aventuras de
Ulisses (Odisseu), narrados nos seus poemas Ilíada
e Odisséia. Amor, idealismo,
desilusão, lamento, também eram temas de poemas menores (elegias) nos quais se
sobressaíram os poetas Sólon (também legislador), Mimnermo e Teógonis. Cantada
ao som da lira ganha espaço a poesia (lírica)
expressando paixões, beleza, graça, em que eram mencionadas frequentemente a
primavera e as estrelas. Seus expoentes foram Píndaro, Alceu e Safo. O primeiro
teceu loas às vitórias dos atletas e à civilização helênica. Com raízes
fincadas na religião e nas lendas populares surge outro produto literário: a
tragédia. O tema era o conflito entre o homem e o universo, o delito de alguém
contra a sociedade e a respectiva punição, a saída de situação angustiante, o
triunfo da justiça. Os grandes nomes da tragédia grega foram Ésquilo, Sófocles
e Eurípedes, que escreveram dezenas de peças. Entre as obras do primeiro podem
ser citadas: Os Persas, Os Sete contra
Tebas e Prometeu Acorrentado,
sendo a culpa e a punição o tema comum. Entre as obras do segundo contam-se: Rei Édipo, Antígona e Eletra, notando-se nelas o ideal de
moderação, harmonia, paz, tolerância com a fraqueza humana. Entre as obras do
terceiro citam-se: Alceste, Medéia e As Mulheres Troianas. Em suas peças,
Eurípedes gostava de exaltar a humildade e censurar o orgulho; colocar no
enredo e em posição simpática o camponês, o mendigo e o homem comum; protestar
contra a exclusão das mulheres da vida social e intelectual; condenar a guerra
e a escravatura. A comédia também derivou dos festivais dionisíacos. Atingiu o
seu auge no século V (500 a
401 a.C.),
com Aristófanes. Entre suas obras incluem-se: Os Cavaleiros, As Rãs e As
Nuvens. Na primeira dessas peças o alvo era o político ambicioso e
incompetente; na segunda, era Eurípedes, ridicularizado pelas inovações que
trouxe ao drama; na terceira, era o sofista, visto como malicioso (inclusive
Sócrates).
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