sábado, 21 de dezembro de 2013

FILOSOFIA VII - C



Grécia (continuação).

A Liga de Delos (união de estados gregos celebrada para resistir à invasão persa) prosseguiu depois da paz concluída. Atenas dela se serviu para empresa naval no Egeu e reconstrução da cidade que fora devastada pelos persas. Por ter sofrido danos ao defender a causa comum dos estados, Atenas entendeu justo usar o dinheiro comum em benefício próprio e transferiu o tesouro da ilha de Delos para o continente. Os outros membros da Liga foram tratados como vassalos. Além disto, os atenienses pretendiam dominar o Golfo de Corinto, rota de comércio com o sul da Itália. A cidade de Corinto reagiu e se aliou a Esparta. Os espartanos acusavam os atenienses de pretender: (I) dominar as cidades do norte do Peloponeso; (II) enfraquecer Esparta ao encorajar o conflito interno de classes (hilotas x cidadãos).
Tanto nas cidades do Peloponeso como nas do continente havia partidos aristocráticos que apoiavam Esparta e partidos populares que apoiavam Atenas. A Guerra do Peloponeso como foi chamada e que serviu de título à obra histórica de Tucídides, terminou com a vitória de Esparta (431 a 404 a.C.). Os espartanos dominaram a Hélade. A supremacia de Atenas chegou ao fim. Chefiada por Epaminondas, a cidade de Tebas derrotou o exército espartano (371 a.C.). A supremacia de Tebas durou menos de 10 anos. As demais cidades gregas se coligaram e venceram o exército de Tebas. Pouco depois, a Grécia perde a independência ao ser dominada pelo exército de Felipe da Macedônia. As cidades perdem a condição de estados soberanos. Resta-lhes autonomia administrativa (338 a.C.). A soberania agora é do imperador, do basileus (rei) considerado a encarnação da lei sagrada. Os gregos se vêem associados aos bárbaros sob um império que ofusca a cidade (polis), que nivela a todos e salienta a identidade universal da natureza humana. O valor próprio do homem (humanitas) sobrepõe-se ao valor cívico do cidadão (civitas).
A Cosmópolis utópica de alguns gregos sonhadores toma forma no império macedônio e assumirá forte colorido no império romano. Aliás, os grandes sonhadores (filósofos, cientistas, artistas, inventores) sempre foram insignificante minoria do ponto de vista numérico. Numa população mundial de bilhões de pessoas no curso dos milênios destacam-se poucas centenas de pensadores e produtores no campo da filosofia, da ciência, da arte e da técnica. A volumosa massa se beneficia do valioso trabalho dessa pequena elite.       
Após a morte de Alexandre da Macedônia, filho e sucessor de Felipe, os chefes militares disputaram o governo do império. Os vitoriosos fracionaram-no (301 a.C.): Pérsia, Mesopotâmia e Síria couberam a Seleuco; Ásia Menor e Trácia, a Lisímaco; Egito, Fenícia e Palestina, a Ptolomeu; Macedônia, a Cassandro. Decorridos cerca de 20 anos, Seleuco se apodera do reino de Lisímaco, depois de vencê-lo e matá-lo em batalha. No século seguinte, Roma submete todos esses territórios ao seu domínio (200 a 30 a.C.). A civilização helenística chega ao fim. A referida civilização distinguiu-se da grega por seu orientalismo, sua extravagância na arte, seus excessos nos costumes, pela selvagem competição por maiores lucros nos negócios e pela submissão da lógica à fé. Predominou o governo despótico por direito divino, como aconteceu no império selêucida (Ásia) e ptolomaico (Egito).
Alguns estados gregos se uniram em ligas, resistiram ao domínio da Macedônia e formaram uma confederação. Com exceção de Esparta e Elis, os demais estados do Peloponeso constituíram a Liga Aquéia. Com exceção de Atenas, os demais estados da Grécia central constituíram a Liga Etólia. Estas ligas tinham: (I) um conselho federal composto dos representantes dos estados (cidades) com poder de legislar sobre assuntos de interesse coletivo; (II) uma assembléia geral composta por cidadãos eleitos pelos estados com o poder de resolver questões de guerra, cunhagem, pesos e medidas e de nomear funcionários; (III) uma autoridade executiva exercida por general eleito para mandato anual. Questões atinentes à tributação e às forças armadas dependiam da aprovação dos governos locais.
No período helenístico, o estado era o principal capitalista. O império criado por Alexandre (a Cosmópolis sonhada por alguns pensadores gregos, embora não exatamente como eles a imaginavam) permitiu a circulação de bens dentro de uma vasta área que ia da Índia ao Egito. Houve incremento dos empréstimos e das especulações com a entrada no meio circulante do tesouro dos persas (ouro e prata) e a criação de bancos estatais e particulares. Para aumentar suas rendas, o estado estimulava a indústria e o comércio em toda essa área. Os governantes do império selêucida e do império ptolomaico regulamentaram a economia em benefício do estado (preços tabelados, participação nos lucros dos particulares, juros, seguro, tributação). Da abundância de capital resultou baixa cota de lucro: 12% (300 a 201 a.C.) e 7% (200 a 101 a.C.). Esses dois séculos foram de prosperidade para o estado e para os comerciantes e de pobreza para os camponeses e trabalhadores urbanos. Contratar trabalhadores com salários baixos era mais vantajoso do que comprar e manter escravo. O custo de vida era elevado. O estado fornecia trigo de graça às famílias dos desempregados. A pesada servidão no campo, a expansão comercial e a crescente burocracia estatal provocaram a migração das famílias campesinas para a vida urbana. Os sucessores de Alexandre confiscaram a grande propriedade rural e alugaram as terras aos rendeiros. Construíram estradas, canais e navios para policiar os mares e proteger o seu comercio contra a pirataria; buscaram novas rotas para lugares distantes a fim de criar novos mercados.
A cidade de Alexandria (Egito) recebia em seu porto: ouro da Abissínia e da Índia, especiarias da Arábia, tapetes da Ásia Menor, estanho da Bretanha, seda da China, cobre de Chipre, prata do Egeu e da Espanha, marfim da Núbia. Nenhuma outra cidade da idade antiga ou da idade clássica a sobrepujou em tamanho e esplendor: ruas bem traçadas e pavimentadas, grandes edifícios e parques públicos, museu, biblioteca com 750 mil volumes, maior centro de pesquisa científica da época, vida luxuosa para governantes, sacerdotes e mercadores.
Na literatura grega destacou-se a obra de Homero: o amor e o ódio de Aquiles, a perfídia de Helena, a guerra de Tróia, as aventuras de Ulisses (Odisseu), narrados nos seus poemas Ilíada e Odisséia. Amor, idealismo, desilusão, lamento, também eram temas de poemas menores (elegias) nos quais se sobressaíram os poetas Sólon (também legislador), Mimnermo e Teógonis. Cantada ao som da lira ganha espaço a poesia (lírica) expressando paixões, beleza, graça, em que eram mencionadas frequentemente a primavera e as estrelas. Seus expoentes foram Píndaro, Alceu e Safo. O primeiro teceu loas às vitórias dos atletas e à civilização helênica. Com raízes fincadas na religião e nas lendas populares surge outro produto literário: a tragédia. O tema era o conflito entre o homem e o universo, o delito de alguém contra a sociedade e a respectiva punição, a saída de situação angustiante, o triunfo da justiça. Os grandes nomes da tragédia grega foram Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, que escreveram dezenas de peças. Entre as obras do primeiro podem ser citadas: Os Persas, Os Sete contra Tebas e Prometeu Acorrentado, sendo a culpa e a punição o tema comum. Entre as obras do segundo contam-se: Rei Édipo, Antígona e Eletra, notando-se nelas o ideal de moderação, harmonia, paz, tolerância com a fraqueza humana. Entre as obras do terceiro citam-se: Alceste, Medéia e As Mulheres Troianas. Em suas peças, Eurípedes gostava de exaltar a humildade e censurar o orgulho; colocar no enredo e em posição simpática o camponês, o mendigo e o homem comum; protestar contra a exclusão das mulheres da vida social e intelectual; condenar a guerra e a escravatura. A comédia também derivou dos festivais dionisíacos. Atingiu o seu auge no século V (500 a 401 a.C.), com Aristófanes. Entre suas obras incluem-se: Os Cavaleiros, As Rãs e As Nuvens. Na primeira dessas peças o alvo era o político ambicioso e incompetente; na segunda, era Eurípedes, ridicularizado pelas inovações que trouxe ao drama; na terceira, era o sofista, visto como malicioso (inclusive Sócrates).

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