Palestina (final).
O pensamento filosófico dos
hebreus está contido nos livros do Antigo Testamento (Bíblia, AT); pouco ou
nada tem de original, porque haurido em fontes egípcias, principalmente na
filosofia de Amenemope (1000
a.C.). Supondo alguma verdade no AT, verificar-se-á que
por duas vezes os hebreus viveram no Egito: a primeira ao tempo de Abrão e a
segunda ao tempo de Jacó (Israel). Nesta segunda vez, os hebreus lá ficaram por
430 anos. Ainda que por osmose, eles se integraram à cultura da nação mais
poderosa e civilizada. Os pensadores hebreus interessaram-se pelos problemas
relacionados com a vida e o destino dos homens. Para eles, bondade e beleza são
valores distintos (a beleza pode ser sedutora e pecaminosa); ética e estética
não se confundem. Riqueza e prosperidade são bênçãos divinas; o sucesso
material é compatível com a ética. A prudência se sobrepõe aos critérios do
certo e do errado. Prudência, honestidade, diligência, moderação, conduzem a
uma vida longa e próspera e ao bom nome do titular. Escarnecer do pobre e se
alegrar com a calamidade tipifica má conduta.
No livro do AT denominado Eclesiastes há idéias básicas sobre
mecanicismo, determinismo, ceticismo, pessimismo e moderação. Eclesiastes
significa assembléia ou aquele que comanda uma assembléia. Este
livro é uma coletânea de meditações sobre a vida humana atribuídas ao
personagem de nome Eclesiastes, possível alusão ao rei Salomão que, na
equivocada opinião comum, personificava a sabedoria. O livro começa com a
indicação: Palavras do Eclesiastes, filho de Davi, rei de Jerusalém.
Interessante: cita a cidade (rei de
Jerusalém) e não o país (rei da
Palestina) e nem o povo (rei dos
hebreus). Provavelmente, o autor quis imprimir conotação mística: Jerusalém, cidade santa, morada de deus.
No prólogo, a mais conhecida das máximas: Vaidade das vaidades, diz o
Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade. O livro expõe: (I) a
vaidade da sabedoria (o acúmulo de sabedoria é vento que passa; quem aumenta
a ciência, aumenta a dor); (II) a vaidade dos prazeres (ao pecador Deus
incumbe acumular bens que depois passará a quem lhe agradar; isto ainda é
vaidade, vento que passa); (III) a vaidade das riquezas (aquele que ama
o dinheiro nunca se fartará; aquele que ama a riqueza não tira dela proveito;
também isso é vaidade). Difícil acreditar que essas máximas sejam de um rei
sensual, amante da riqueza e do luxo. Outra máxima bem difundida: há tempo
para tudo, para cada coisa há um momento, debaixo dos céus: tempo para nascer,
tempo para morrer, tempo para plantar, tempo para colher. Há referência:
(1) ao igual destino dos homens: tudo que tua mão encontra para fazer, tu
faças com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde
vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria; o destino
dos homens é o mesmo dos animais: a morte; (2) à fraqueza humana: Deus
criou o homem reto, mas é o homem que procura os extravios; nada há de
melhor para o homem do que se alegrar com os frutos do seu trabalho; (3) ao
saber: a sabedoria vale mais que a força, mas a sabedoria do pobre é
desprezada e às suas palavras não se dão ouvidos; quem observa o vento não
semeia e quem examina as nuvens não sega – isto é, não ceifa, não corta;
(4) à submissão ao rei: juramento de fidelidade tendo Deus como testemunha.
Há outras passagens marcantes,
tais como: (1) o universo é mecanismo que funciona eternamente sem objetivo ou
fim; nada há de novo sob o sol; tudo
se repete: aurora e poente, nascimento e morte; (2) o sucesso não decorre do
esforço necessariamente, pois tudo acontece no seu tempo e conforme a sorte;
(3) o conhecimento das causas últimas é inacessível; (4) não há evidência de
existir alma ou vida depois da morte; (5) homens e animais vieram do pó e
voltam ao pó; (6) riqueza, fama e prazeres são armadilhas, pois no fim está a
desilusão; (7) os extremos no ascetismo e na indulgência devem ser evitados. No
epílogo, o autor sintetiza: teme a Deus e observa os seus preceitos; é este
o dever de todo o homem.
Do livro Sabedoria de Salomão vindo ao mundo no século que precedeu a era
cristã, consta que o espírito de deus é criador, sustentáculo do universo; que
os homens comungam parte da inteligência divina; que as mensagens dos profetas
resultavam dessa herança e não da comunicação direta e verbal de deus.
A originalidade da cultura hebraica é mínima e se
limita ao processo de adaptação da cultura alienígena ao modus vivendi do povo hebreu nas suas diferentes fases históricas (propriedade
do camaleão). Os hebreus copiaram quase tudo dos outros povos culturalmente
mais avançados, inclusive crenças religiosas. A situação geográfica ajudou. A
Palestina era passagem entre o Egito e as grandes civilizações da Ásia. Apesar
do mimetismo, foi significativa a influência dos hebreus sobre a civilização
cristã e islâmica. A arte e a literatura da Renascença foram inspiradas no AT,
que também serviu de fonte à lei e à teoria política calvinista do século XVI (1501 a 1600). As crenças dos
judeus (embora de segunda mão) estão entre os principais fundamentos do cristianismo
(catolicismo + protestantismo). No século XX, após a segunda guerra mundial, os
hebreus recomeçaram a sua vida política com a criação do Estado de Israel. Sem
a herança da cultura hebraica o mundo ocidental seria bem melhor. A cultura
cristã com seu hibridismo fez do ocidente um mundo infernal. O caldeirão
amornou graças aos livres pensadores e aos ateus que trouxeram progresso científico
e tecnológico ao ocidente.
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