sábado, 7 de dezembro de 2013

FILOSOFIA VI - C



Palestina (final).

O pensamento filosófico dos hebreus está contido nos livros do Antigo Testamento (Bíblia, AT); pouco ou nada tem de original, porque haurido em fontes egípcias, principalmente na filosofia de Amenemope (1000 a.C.). Supondo alguma verdade no AT, verificar-se-á que por duas vezes os hebreus viveram no Egito: a primeira ao tempo de Abrão e a segunda ao tempo de Jacó (Israel). Nesta segunda vez, os hebreus lá ficaram por 430 anos. Ainda que por osmose, eles se integraram à cultura da nação mais poderosa e civilizada. Os pensadores hebreus interessaram-se pelos problemas relacionados com a vida e o destino dos homens. Para eles, bondade e beleza são valores distintos (a beleza pode ser sedutora e pecaminosa); ética e estética não se confundem. Riqueza e prosperidade são bênçãos divinas; o sucesso material é compatível com a ética. A prudência se sobrepõe aos critérios do certo e do errado. Prudência, honestidade, diligência, moderação, conduzem a uma vida longa e próspera e ao bom nome do titular. Escarnecer do pobre e se alegrar com a calamidade tipifica má conduta.
No livro do AT denominado Eclesiastes há idéias básicas sobre mecanicismo, determinismo, ceticismo, pessimismo e moderação. Eclesiastes significa assembléia ou aquele que comanda uma assembléia. Este livro é uma coletânea de meditações sobre a vida humana atribuídas ao personagem de nome Eclesiastes, possível alusão ao rei Salomão que, na equivocada opinião comum, personificava a sabedoria. O livro começa com a indicação: Palavras do Eclesiastes, filho de Davi, rei de Jerusalém. Interessante: cita a cidade (rei de Jerusalém) e não o país (rei da Palestina) e nem o povo (rei dos hebreus). Provavelmente, o autor quis imprimir conotação mística: Jerusalém, cidade santa, morada de deus. No prólogo, a mais conhecida das máximas: Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade. O livro expõe: (I) a vaidade da sabedoria (o acúmulo de sabedoria é vento que passa; quem aumenta a ciência, aumenta a dor); (II) a vaidade dos prazeres (ao pecador Deus incumbe acumular bens que depois passará a quem lhe agradar; isto ainda é vaidade, vento que passa); (III) a vaidade das riquezas (aquele que ama o dinheiro nunca se fartará; aquele que ama a riqueza não tira dela proveito; também isso é vaidade). Difícil acreditar que essas máximas sejam de um rei sensual, amante da riqueza e do luxo. Outra máxima bem difundida: há tempo para tudo, para cada coisa há um momento, debaixo dos céus: tempo para nascer, tempo para morrer, tempo para plantar, tempo para colher. Há referência: (1) ao igual destino dos homens: tudo que tua mão encontra para fazer, tu faças com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria; o destino dos homens é o mesmo dos animais: a morte; (2) à fraqueza humana: Deus criou o homem reto, mas é o homem que procura os extravios; nada há de melhor para o homem do que se alegrar com os frutos do seu trabalho; (3) ao saber: a sabedoria vale mais que a força, mas a sabedoria do pobre é desprezada e às suas palavras não se dão ouvidos; quem observa o vento não semeia e quem examina as nuvens não sega – isto é, não ceifa, não corta; (4) à submissão ao rei: juramento de fidelidade tendo Deus como testemunha.
Há outras passagens marcantes, tais como: (1) o universo é mecanismo que funciona eternamente sem objetivo ou fim; nada há de novo sob o sol; tudo se repete: aurora e poente, nascimento e morte; (2) o sucesso não decorre do esforço necessariamente, pois tudo acontece no seu tempo e conforme a sorte; (3) o conhecimento das causas últimas é inacessível; (4) não há evidência de existir alma ou vida depois da morte; (5) homens e animais vieram do pó e voltam ao pó; (6) riqueza, fama e prazeres são armadilhas, pois no fim está a desilusão; (7) os extremos no ascetismo e na indulgência devem ser evitados. No epílogo, o autor sintetiza: teme a Deus e observa os seus preceitos; é este o dever de todo o homem.
Do livro Sabedoria de Salomão vindo ao mundo no século que precedeu a era cristã, consta que o espírito de deus é criador, sustentáculo do universo; que os homens comungam parte da inteligência divina; que as mensagens dos profetas resultavam dessa herança e não da comunicação direta e verbal de deus.   
A originalidade da cultura hebraica é mínima e se limita ao processo de adaptação da cultura alienígena ao modus vivendi do povo hebreu nas suas diferentes fases históricas (propriedade do camaleão). Os hebreus copiaram quase tudo dos outros povos culturalmente mais avançados, inclusive crenças religiosas. A situação geográfica ajudou. A Palestina era passagem entre o Egito e as grandes civilizações da Ásia. Apesar do mimetismo, foi significativa a influência dos hebreus sobre a civilização cristã e islâmica. A arte e a literatura da Renascença foram inspiradas no AT, que também serviu de fonte à lei e à teoria política calvinista do século XVI (1501 a 1600). As crenças dos judeus (embora de segunda mão) estão entre os principais fundamentos do cristianismo (catolicismo + protestantismo). No século XX, após a segunda guerra mundial, os hebreus recomeçaram a sua vida política com a criação do Estado de Israel. Sem a herança da cultura hebraica o mundo ocidental seria bem melhor. A cultura cristã com seu hibridismo fez do ocidente um mundo infernal. O caldeirão amornou graças aos livres pensadores e aos ateus que trouxeram progresso científico e tecnológico ao ocidente.

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