domingo, 8 de julho de 2012

PALAVRA SAGRADA


Ao tratarem do aspecto espiritual do mundo, os escritores bíblicos atribuem ao deus do seu povo a autoria das palavras utilizadas. Afirmam que o livro contém a palavra de deus, por isso mesmo, sagrada. Dizem que a receberam do espírito santo. Os escritores manipulam nas trevas e exploram a ignorância da massa; escrevem condicionados pelos costumes do seu tempo visando a mantê-los, modificá-los ou extingui-los em proveito da sua classe social. Sirva de exemplo o Pentateuco, coleção dos cinco primeiros livros da bíblia que judeus e cristãos incluem na palavra sagrada. O conteúdo desses livros relaciona-se à experiência humana: vicissitudes, terrores, esperanças, necessidades e interesses individuais e coletivos, tudo colocado em forma escrita durante o exílio na Babilônia por minúscula e privilegiada minoria que sabia ler e escrever, liderada por Esdras, Neemias, Zorobabel (séculos V e IV, antes de Cristo).

Ao mencionarem castigos impostos pela divindade aos homens e mulheres porque Adão e Eva comeram o fruto da árvore da ciência do bem e do mal (ética) esses autores apenas reproduziram a fisiologia do organismo humano e o labor dos seres humanos (Gênesis 3: 14/19). Eles utilizaram o conhecimento vulgar. O parto natural da mulher sempre foi precedido de dores e os humanos sempre trabalharam para obter alimento, abrigo e fogo. A idéia da existência de um primeiro casal brota do raciocínio elementar. Nada a ver com verdade sagrada. Tudo a ver com suposição e engodo. Adão e Eva são criações infantis da mente primária; o papai e a mamãe da humanidade. O universo surgiu da explosão de energia condensada que gerou a natureza e instaurou um processo evolutivo. Antes da primeira explosão e do primeiro universo, o nada físico, a energia imaterial, a plenitude divina. Como os demais seres vivos, os humanos surgiram desse processo evolutivo em diferentes pontos do planeta onde e quando as condições ambientais se mostraram favoráveis. Cada tipo humano apresentava características raciais específicas (capacidade do crânio, epiderme, altura, dimensões do tronco e dos membros). O movimento e progresso que se eternizam incluem a miscigenação dos humanos operada no curso de milênios.

O propósito dos autores daqueles livros sagrados que compõem a primeira parte da bíblia (antigo testamento) foi o de estabelecer uma crença da qual a sua casta (sacerdócio) se beneficiasse. A estratégia consistia em manter a massa na ignorância e nela infundir o temor a um deus severo e cruel. Quatro séculos depois, Jesus adotou estratégia semelhante, porém, mudou: (i) o caráter do deus: de cruel, vingativo e sanguinário para misericordioso, bondoso e humanitário; (ii) o nome do deus, de Jeová para Pai Celestial. Ensejou nova religião e nova doutrina. Ao fazer apologia da pobreza, Jesus serviu ao status quo econômico: amorteceu o espírito de revolta contra a injustiça social. Pregou a nova doutrina ao contingente de pobres, miseráveis e ignorantes; reservou-lhes sermões no mundo natural e esperança de felicidade no mundo sobrenatural. Com a classe abastada dos escribas, sacerdotes e presbíteros (anciãos) pequena elite que sabia ler e escrever, Jesus limitou-se a discutir e ofender, conforme se depreende dos evangelhos. Essa elite e os fiéis do judaísmo viam em Jesus um pecador que ousava contrariar as escrituras. Irritavam-se com o fato de Jesus afirmar que viera para confirmar a lei (Pentateuco) quando, na realidade, a modificava. A elite sentia-se depreciada na sua inteligência, na sua capacidade mental de perceber a manobra daquele que consideravam impostor.

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