Em alguns livros da primeira
parte da bíblia (antigo testamento) como Gênesis, Isaías, Ezequiel, e da
segunda parte (novo testamento) como nos quatro evangelhos e nas epistolas de
Pedro e Paulo, há referência a entidades angelicais. No século I da era cristã,
estas entidades foram organizadas em graus hierárquicos por Dionísio, grego que
aderiu ao cristianismo depois de ouvir discurso de Paulo no Areópago (tribunal
de Atenas). Ele organizou um governo
sagrado composto de três coros ou escalões, cada qual com três grupos de
entidades: (i) o escalão ou coro baixo formado por grupos de anjos, de arcanjos
e de principados; (ii) o escalão ou coro médio formado por grupos de
potestades, de virtudes e de dominações; (iii) o escalão ou coro alto formado
por grupos de tronos, de querubins e de serafins. Os entes angelicais são
mensageiros e executores da vontade soberana da divindade. A imagem de todos é
masculina, reflexo da cultura patriarcal daquela época. Tais entidades se manifestam
como puro espírito ou em corpo de homem. A exclusão da mulher do coro angélico
provocou debates em assembléias eclesiásticas sobre o sexo dos anjos.
Se for imaginada forma piramidal
a essa hierarquia celeste, o primeiro escalão ocupará a base, o segundo o meio,
o terceiro a parte alta e Deus a cúspide. Personalidades sem corpo (almas) no
mundo espiritual, formam o povo do Estado divino sob esse governo sagrado. As autoridades angelicais atuam nas dimensões material
e espiritual do mundo. Cumprem e fazem cumprir as leis divinas. Guiam o povo, orientam
e protegem personalidades encarnadas e desencarnadas. Prometem recompensas. Seduzem
e engravidam mulheres. Infligem castigos. Participam de batalhas terrenas.
Destroem cidades. Exterminam gente e animais. Tudo em obediência à “vontade do
Senhor”.
Do mesmo modo que atribuíram
castigos a Adão, Eva e descendência, fundados no conhecimento vulgar, os
escritores bíblicos também transplantaram para a cidade de deus o modelo político terreno. Imaginaram um governo
celeste semelhante ao governo dos países daquela parte do globo terrestre cuja história
eles conheciam: Egito, Babilônia, Pérsia e a própria Palestina do tempo de Davi
e Salomão. O faraó era considerado ser divino; enquanto governava, sua pessoa
era sagrada. Havia hierarquia civil, militar e religiosa naqueles reinos. Governantes
em diferentes épocas e países também se consideravam divinos, como os
imperadores japoneses e os monarcas europeus absolutos. Depois de partir da
Terra para o Céu, o modelo hierárquico retorna do Céu para a Terra a fim de cobrir
com o véu divino o poder dos governantes. O modelo imperial de Roma foi adotado
pela igreja: pontífice máximo (Papa), bispos no alto escalão, padres no médio
escalão e povo na base. Os monarcas europeus do período absolutista afirmavam
governar por direito divino. Ao se desvencilharem da jurisdição do Papa, eles
afirmaram receber o poder diretamente de Deus.
No mundo contemporâneo, na vigência de constituições
democráticas, governantes conservam atitude imperial e divina. O presidente
Bush (EUA), por exemplo, foi admoestado pelo Papa por usar o nome de Deus para
justificar invasões no Afeganistão e Iraque. Governantes dinásticos, ou
oriundos de golpes militares, vestem a capa de missionários divinos, submetem e
exploram a nação. Governantes antigos consultavam oráculos. Governantes modernos
consultam bruxos, videntes e astrólogos; usam a razão natural, mas não
descartam o poder sobrenatural.
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