quarta-feira, 18 de julho de 2012

ECONOMIA SAGRADA


Em oposição ao judaísmo, Jesus trouxe culto a um novo deus que denominou Pai Celestial, com atributos diferentes do deus denominado Javé (ou Jeová). Essa novidade provocou a ira dos escribas, sacerdotes e presbíteros (anciãos). O novo profeta: (i) aboliu o sacrifício de animais; (ii) limitou a dois os mandamentos fundamentais; (iii) mandou amar os amigos e os inimigos enquanto o mandamento judeu era para amar o próximo (amigo) e odiar o distante (inimigo); (iv) tornou flexível o caráter sagrado do sábado; (v) enalteceu a pobreza e criticou os ricos enquanto os judeus consideravam a riqueza bênção divina; (vi) escandalizou a sociedade patriarcal ao cercar-se de mulheres no seu ministério e admiti-las ao apostolado; (vii) nivelou homens e mulheres na virtude e no pecado ao impedir os acusadores de apedrejarem a adúltera.

Jesus abalou a supremacia masculina inerente à cultura judaica. Os seus seguidores, entretanto, mantiveram a supremacia masculina ao organizar a igreja cristã sob influência de Paulo, fariseu desertor das fileiras judias, aninhado no movimento cristão. Depois da crucifixão, Paulo inventou o encontro com Jesus, a quem nunca vira, na estrada de Damasco e se intitulou apóstolo. A supremacia masculina na cultura judia e cristã vem explícita nos testamentos antigo e novo. Exemplos: (i) o mito da criação da mulher tirada de uma costela de Adão; (ii) o episódio narrado nos evangelhos sobre irmãos e irmãs de Jesus, onde apenas os nomes dos meninos são citados.

As instituições necessitam de receita para cobrir despesas com pessoal, material, obras e serviços. Tributos, tarifas, preços, contribuições, compõem a receita. Os levitas (tribo de Levi, encarregada do culto sagrado) recebiam do povo hebreu o dízimo consagrado à divindade e utilizado no culto. Na lei ditada por Javé (ou Jeová) a Moisés, o dízimo correspondia à décima parte da produção agrícola e pecuária. O pagamento podia ser em espécie e em moeda. Os levitas encaminhavam parcela dessa receita aos sacerdotes. Na comunidade de Jesus, a renda provinha de doações. Judas Iscariotes administrava as finanças do grupo. As igrejas fundadas pelos missionários enviavam parte da arrecadação à igreja de Jerusalém da qual Tiago, irmão de Jesus, foi o primeiro bispo. Em suas epístolas às igrejas, Paulo fazia recomendações sobre a receita e respectiva aplicação. Entre os judeus, o dízimo era fonte de riqueza da classe sacerdotal. Com o aumento dos seguidores de Jesus, o tesouro sacerdotal perdia parte dos seus contribuintes, o que reduzia a arrecadação. Era preciso eliminar o causador do prejuízo. O afastamento do líder, que se supunha morto após a crucifixão, não foi suficiente, pois os seus seguidores se organizaram e prosseguiram na catequese. Era preciso também eliminá-los. A perseguição foi implacável. Morticínio e crueldade ignóbeis.

O mercado da fé existe há milênios. No século XIII antes de Cristo (1399-1300), o faraó Aquenaton introduziu oficialmente o culto monoteísta no Egito, o que representou sério golpe nas finanças da conservadora e politeísta classe sacerdotal. O faraó foi morto pela astúcia dos sacerdotes, detentores de fórmulas de veneno e de métodos insidiosos. Tutankamon, sucessor de Aquenaton, restabeleceu o politeísmo. A igreja católica também teve suas finanças abaladas com a perda dos contribuintes que se baldearam para a igreja protestante a partir do século XVI (1501-1600) no movimento europeu de apostasia inaugurado na Alemanha por Lutero. Na Inglaterra do século XVII (1601-1700) o poderoso Cromwell manteve em vigor os dízimos civis e religiosos. 

Descoberta a mina, aguçada a cobiça, os protestantes louvaram a riqueza, justificaram o juro e o lucro nos negócios, entraram no mercado da fé, abriram dissidência e se ramificaram: luteranos, anglicanos, calvinistas, presbiterianos, quacres, batistas, metodistas, adventistas, mórmons, pentecostais. A disputa entre as igrejas por maiores fatias do mercado religioso prossegue até hoje.

Nenhum comentário: