Para definir o pacto entre o ser
divino e o ser humano narrado na bíblia, o vocábulo aliança, do original hebraico, é mais apropriado do que o vocábulo testamento utilizado pela igreja cristã.
Fio condutor da primeira parte da bíblia (antigo testamento) o pacto entre
Jeová de um lado e Noé, Abraão, Isaac e Jacó de outro, sucessivamente,
constitui invenção dos autores daquele texto para enganar pessoas ingênuas, de
boa fé, tementes à divindade. O propósito era formar e manter um rebanho
obediente à classe sacerdotal e política. Historicamente, esse pacto jamais
existiu. Jeová é quimera, produto da imaginação daqueles escritores. Tratado em
diversas passagens da escritura judia como criador do mundo, poderoso, cruel,
vingativo, genocida, esse deus não necessitava de alianças nem celebraria
contrato com criaturas fadadas a uma existência efêmera e que um leve sopro
divino aniquilaria.
Contratos e pactos são atos da
cultura humana dos quais os escritores do texto bíblico conheciam a prática. O
Jeová criado por eles à imagem e semelhança do homem judeu só consegue apoio do
povo escolhido (?) mediante promessa
de abundância de bens materiais aos patriarcas e seus descendentes. Vaidoso e
egocêntrico, o deus imaginário pede aos mortais daquela minúscula tribo adoração
exclusiva. O seu poder limita-se ao curto espaço habitado por aquela gente.
Fora dos limites territoriais, o hebreu tinha de levar consigo punhado da terra
palestina para que o imaginário deus o acompanhasse. Através da ficção, os
autores judeus pretendiam: (i) engrandecer o pequeno e miserável povo hebreu
diante das potências daquela época: Egito, Babilônia, Caldéia, Pérsia; (ii)
justificar a invasão e posse do território que pertencia às tribos de Canaã
(Palestina), como se fora um direito outorgado por Jeová (terra prometida); (iii) sustentar a supremacia do seu deus nacional
sobre os deuses estrangeiros.
Espantoso como a quimera
inventada por aqueles sacerdotes e escribas ainda faz prosélitos nos dias
atuais, apesar do desenvolvimento científico e tecnológico alcançado pela
humanidade. Admirável a capacidade dos judeus e cristãos de defender como verdades sagradas as infantilidades e
falsidades contidas na bíblia. Isto indica que: (i) o tempo histórico é
ninharia perto do tempo cósmico; (ii) persistem a cegueira e a ignorância em
considerável parcela da população mundial, apesar dos múltiplos e modernos
meios de transmissão do conhecimento. Essa parcela guia-se mais pelos sentidos
do que pelo raciocínio. “Religião não se discute”, muge o rebanho. Doutores da
igreja, como Agostinho e Tomas de Aquino e filósofos, como Pascal e Descartes,
aprisionaram a razão. Os pensadores da época medieval temiam a violenta reação
da igreja e o braço secular que lhe prestava obediência (reis, senhores
feudais). Raciocínio e intuição foram separados, cada qual em âmbito próprio:
razão no mundo material, fé no mundo espiritual. Nessa linha separatista,
perde-se a integridade; corpo de um lado, alma de outro; via racional para
conhecer objeto natural e via intuitiva para conhecer objeto sobrenatural. Fica
bloqueada a análise racional que gera a fé lúcida. Conduzidos pela fé cega, os
crentes admitem os absurdos contidos nas escrituras “sagradas”. Isto
facilita o estelionato religioso.
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