quinta-feira, 12 de julho de 2012

MUNDO SAGRADO


Rotula-se de sagrado o mundo espiritual. Entretanto, não há certeza da sua existência. Trata-se de crença e de experiência pessoal. Objetivamente, nenhum mortal o conhece; ninguém sabe se é organizado ou caótico; se nele há ou não há forma, tempo, espaço, movimento e habitantes. Alma, destino após a morte, sentido da existência humana, constituem problemas desde as culturas primitivas até a civilização contemporânea.

Energia fundamental, a alma gera a si própria e o universo. Dela emanam as forças gravitacional, eletromagnética e nuclear. Sob ótica mística, a alma é vista como expressão da divindade. O universo nela está mergulhado e dela recebe movimento evolutivo e expansivo. Assim como os demais seres da natureza, o humano está mergulhado neste vibratório oceano cósmico (plasma, em linguagem figurada). Paradigma racional diferente do religioso: a alma (ou plasma) não está no interior do humano; o humano é que está no interior da alma (ou plasma). O corpo humano é animado por esta essencial e vibratória energia. Disto resulta a denominada alma humana, personalidade imaterial construída pela experiência física e psíquica de cada indivíduo. Corpo e personalidade formam um ser único. O indivíduo não tem um corpo e uma personalidade; o indivíduo é o corpo e a personalidade.

Na concepção materialista, o ser humano (corpo e personalidade) se desintegra com a morte. A força de coesão que mantinha o corpo íntegro volta ao estado livre e natural. Na concepção espiritualista, o corpo se decompõe no oceano de energia vibratória em que a matéria é formada, conservada e modificada, enquanto a personalidade se mantém integra. A morte é vista como transição do mundo visível para o invisível. Os budistas acreditam que a personalidade reencarna em ciclos até o estado sublime do nirvana. Os espíritas também acreditam na reencarnação. Os católicos rejeitam essa doutrina e acreditam nas três estações do mundo invisível: a purgatória, a infernal e a celestial. A personalidade aguarda no mundo invisível o juízo final proferido por Jesus: se aprovada, terá vida eterna venturosa; se reprovada, padecerá no inferno.

Os humanos buscam um sentido para a sua curta existência. Não se conformam com a brevidade. Inventam retorno após a morte e vida eterna após juízo divino. Temem a figura que desenham: Lúcifer. Criam o problema no mundo visível e procuram solução no invisível. A resposta está no coração de cada indivíduo. A justiça, a bondade e a beleza impregnam de sentido a existência humana. O homem é o artífice do seu destino, afirma-se alhures. O grupo humano traça o seu destino visando objetivos comuns fincado em princípios e aspirações. O sentido da existência individual não é dado a priori e sim construído à medida que potencialidades físicas, intelectuais e morais se expressam. Estímulos internos e externos podem comprimir a existência individual ao lhe dar caráter messiânico, confiná-la a um só propósito, ou podem ampliá-la em múltiplas possibilidades. Conforme a reação do indivíduo ao feitio cultural da sociedade em que vive, o sentido da sua existência se delineia.   

O conhece-te a ti mesmo filosófico recebeu notáveis contribuições da ciência: anatomia e fisiologia do corpo, operação da inteligência, comportamento individual e coletivo. Psicanálise, hipnose, meditação, estudo, observação dos costumes, ajudam o indivíduo a se conhecer e a imprimir sentido à sua existência. Diante do espelho, o olhar superficial enxerga a imagem humana; o olhar profundo enxerga o ser humano.

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