Rotula-se de sagrado o mundo espiritual. Entretanto, não há certeza da sua
existência. Trata-se de crença e de experiência pessoal. Objetivamente, nenhum
mortal o conhece; ninguém sabe se é organizado ou caótico; se nele há ou não há
forma, tempo, espaço, movimento e habitantes. Alma, destino após a morte, sentido
da existência humana, constituem problemas desde as culturas primitivas até a
civilização contemporânea.
Energia fundamental, a alma gera
a si própria e o universo. Dela emanam as forças gravitacional, eletromagnética
e nuclear. Sob ótica mística, a alma é vista como expressão da divindade. O
universo nela está mergulhado e dela recebe movimento evolutivo e expansivo.
Assim como os demais seres da natureza, o humano está mergulhado neste vibratório
oceano cósmico (plasma, em linguagem figurada).
Paradigma racional diferente do religioso: a alma (ou plasma) não está no
interior do humano; o humano é que está no interior da alma (ou plasma). O corpo
humano é animado por esta essencial e vibratória energia. Disto resulta a
denominada alma humana, personalidade
imaterial construída pela experiência física e psíquica de cada indivíduo.
Corpo e personalidade formam um ser único. O indivíduo não tem um corpo
e uma personalidade; o indivíduo é o corpo e a personalidade.
Na concepção materialista, o ser
humano (corpo e personalidade) se desintegra com a morte. A força de coesão que
mantinha o corpo íntegro volta ao estado livre e natural. Na concepção espiritualista,
o corpo se decompõe no oceano de energia vibratória em que a matéria é formada,
conservada e modificada, enquanto a personalidade se mantém integra. A morte é
vista como transição do mundo visível para o invisível. Os budistas acreditam
que a personalidade reencarna em ciclos até o estado sublime do nirvana. Os espíritas também acreditam
na reencarnação. Os católicos rejeitam essa doutrina e acreditam nas três estações
do mundo invisível: a purgatória, a infernal e a celestial. A personalidade aguarda
no mundo invisível o juízo final proferido por Jesus: se aprovada, terá vida
eterna venturosa; se reprovada, padecerá no inferno.
Os humanos buscam um sentido para
a sua curta existência. Não se conformam com a brevidade. Inventam retorno após
a morte e vida eterna após juízo divino. Temem a figura que desenham: Lúcifer.
Criam o problema no mundo visível e procuram solução no invisível. A resposta
está no coração de cada indivíduo. A justiça, a bondade e a beleza impregnam de
sentido a existência humana. O homem é o artífice do seu destino, afirma-se alhures. O grupo humano traça o seu destino
visando objetivos comuns fincado em princípios e aspirações. O sentido da
existência individual não é dado a priori
e sim construído à medida que potencialidades físicas, intelectuais e morais se
expressam. Estímulos internos e externos podem comprimir a existência
individual ao lhe dar caráter messiânico, confiná-la a um só propósito, ou
podem ampliá-la em múltiplas possibilidades. Conforme a reação do indivíduo ao feitio
cultural da sociedade em que vive, o sentido da sua existência se delineia.
O conhece-te a
ti mesmo filosófico recebeu notáveis contribuições da ciência: anatomia e
fisiologia do corpo, operação da inteligência, comportamento individual e
coletivo. Psicanálise, hipnose, meditação, estudo, observação dos costumes, ajudam
o indivíduo a se conhecer e a imprimir sentido à sua existência. Diante do
espelho, o olhar superficial enxerga a imagem humana; o olhar profundo enxerga
o ser humano.
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