terça-feira, 12 de julho de 2022

MARCHAS

Os evangélicos repetiram no sábado (09/07/2022), pelas ruas da cidade de São Paulo, a “Marcha para Jesus”, inventada há dois anos por um pastor protestante. As finalidades desse tipo de marcha são perceptíveis: (i) manter os fiéis unidos (ii) garantir o recebimento do dízimo (iii) aumentar a visibilidade, a importância e a credibilidade da igreja protestante e dos seus pastores (iv) abrir caminho para a conquista do poder político (v) usar a imagem de Jesus para obter êxito nos negócios mundanos.  
A igreja católica também organiza marchas (procissões internas e externas) para solidificar a fé na sua doutrina, em Jesus, na Virgem Maria e nos santos. Na Antiguidade, com suas nuances culturais e suas crenças monoteístas e politeístas, os povos também faziam marchas ou procissões. Poder-se-ia, então, falar em: [i] Marcha para Aquenaton (Amenhotep IV) faraó egípcio que instituiu o monoteísmo durante o seu reinado [ii] Marcha para Moisés, príncipe egípcio introdutor desse monoteísmo no povo hebreu tradicionalmente politeísta que habitava o Egito por 450 anos (judeus + israelitas) [iii] Marchas para as divindades das civilizações antigas como a egípcia, a mesopotâmica, a chinesa, a indiana, a grega, a romana [iv] Marchas para avatares como Krishna e Buda [v] Marchas para líderes políticos religiosos como Maomé e Gandhi.
Fora do campo religioso também há marchas. A militar serve de exemplo. A marcha militar fortalece o vínculo psicológico e o sentimento patriótico no seio da tropa. O desfile militar nas ruas aproxima o exército do povo, alegra as crianças, provoca a admiração do público e o respeito de outras nações pela ordem unida e pelo poderio bélico exibidos. A Companhia do Quartel General do Exército, então sediada na praça Ruy Barbosa, em Curitiba/PR, onde eu prestava serviço militar (1958/1959), de vez em quando botava a tropa a marchar na rua. Numa dessas ocasiões, coube-me tocar o tambor-surdo que marcava a cadência. Iniciei com batidas fortes e ritmo acelerado. Depois, comecei a diminuir o ritmo, molengando a marcha. Batida compassada. Os soldados rasos (como eu) divertiram-se à beça. O curioso foi que o jovem encorpado e temível primeiro-tenente que comandava a marcha não interferiu, nem me admoestou. Talvez, não tenha percebido o amolecimento do passo, a languidez do movimento. Se percebeu, compreendeu e não se importou. 
Há marchas cívicas reunindo a população, organizadas por ocasionais lideranças. Os objetivos variam: (i) defesa da democracia, de um governo, de uma classe ou de uma pessoa (ii) protesto contra a carestia, os maus costumes, a má aplicação do dinheiro público, a má prestação dos serviços públicos, a má execução das obras públicas (iii) celebração fúnebre de alguma pessoa representativa (iv) assim por diante. Em geral, essas caminhadas pelas vias públicas são ordeiras, seguem um trajeto previamente combinado com a autoridade pública e visam ao êxito das suas pretensões. O passo é lento, cadenciado, com ou sem tambor e instrumentos musicais, com ou sem cantorias e palavras de ordem. A atmosfera reinante no grupo pode ser de alegria ou de tristeza, de guerra ou de paz. Conforme a ocasião e o contexto social, econômico e político, pode haver confronto entre grupos opostos ou entre os caminhantes e as forças de segurança do estado. Então, a marcha pacífica descamba para a violência. 
Importante não é só a marcha para Jesus, mas, também, as marchas para todos os demais seres iluminados que viveram antes e depois dele. Mais importante do que todas essas marchas, sem exceção alguma, é a presença de Deus em nossos corações. Menos importante é o nome com o qual diferentes povos batizam a divindade. Importante é abrir as portas do coração à divindade, dar passagem à Luz Maior. Assim, as mentes e o caminho para a paz ficarão iluminados. Entretanto, isto é mais fácil almejar do que fazer. A humanidade ainda levará 100 séculos para chegar a esse elevado estágio da espiritualidade [caso, antes disto, não destrua as condições propiciadoras de vida neste planeta].   

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