terça-feira, 24 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO VI

O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) inovou no estudo da natureza ao adotar o método indutivo segundo o qual a busca do conhecimento deve começar objetivamente pelos fatos e seguir passos logicamente ordenados: observação, questionamento, formulação de hipótese, realização de experimentos, análise racional e conclusão. O filósofo francês René Descartes (1596-1650) com o seu artificioso ceticismo metódico ensejou o racionalismo: o sujeito deve duvidar de tudo ao iniciar a pesquisa e o estudo, prevenir-se contra o emocional e se apoiar firmemente na razão. Isaac Newton (1643-1727) eleva a matemática, no método científico, de elemento descritivo para elemento explicativo do funcionamento do mundo físico.   
Adquire-se a certeza do conhecimento, ainda que provisória, após o resultado de experimentos relacionados com o objeto da pesquisa e do estudo; aquisição a posteriori e não a priori. Os maiores filósofos do Reino Unido, como os ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), o irlandês George Berkeley (1685-1753), o escocês David Hume (1711-1776) e o galês Bertrand Russell (1872-1970), são caudatários do pensamento de Bacon e Descartes. Filósofos europeus como Karl Marx (1818-1883), Emile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920), considerados fundadores da Sociologia, aplicaram o método científico na pesquisa e no estudo dos fatos sociais. 
A essência do conhecimento científico reside: (i) no método, aspecto formal, caminho para se chegar à explicação e à compreensão dos fenômenos naturais e culturais (ii) no sistema, aspecto material, conjunto ordenado dos conteúdos do objeto. O conhecimento resulta das apreensões sensorial, intelectual e intuitiva. Os tipos de raciocínio (dedução, indução, analogia) são empregados na pesquisa e no estudo. No método científico há procedimentos especiais conforme a natureza do objeto e o propósito do sujeito; ora prepondera a quantificação (número), ora a qualificação (palavra). O método adequado ao objeto natural pode não ser para o cultural. A aplicação do método das ciências naturais às ciências sociais gera equívocos e provoca disputas ideológicas com pretensões hegemônicas. O fato cultural pode ser examinado sob ângulos distintos e método próprio. Exemplos: [1] O direito, sob perspectivas sociológica, normativa, axiológica [2] O estado, sob perspectivas histórica, sociológica, econômica. 
Rigoroso empirista, David Hume não admitia incursões metafísicas na busca do conhecimento. Considerava a Metafísica reino da fantasia criado pela imaginação humana. Três séculos depois de Bacon e Descartes e dois séculos depois de Isaac Newton, advém a teoria da relatividade de Einstein sobre a força gravitacional e a estrutura do universo. Partindo da observação do astrônomo estadunidense Edwin Hubble (1889-1953) de que as galáxias estão se afastando da Via Láctea, o cientista inglês Stephen Hawking (1942-2018) externou a opinião de que o universo tem forma esférica e limite máximo. Adeptos dessa teoria afirmam que, atingido tal limite, o movimento regredirá até a máxima concentração quando, então, explodirá e abrirá espaço a um novo universo. No hinduísmo, há crença semelhante: expansão x contração do universo = a grande respiração de Brahma (deus da trindade hindu).
A Astrofísica calcula a existência de 100 bilhões de galáxias. Nesse imenso número certamente haverá lugar para planetas cujas condições atmosféricas propiciam vida vegetal e animal e a existência de seres inteligentes, dotados de razão, sentimento e vontade. 
A Neurociência calcula em 100 bilhões a quantidade de neurônios do cérebro, coordenadores da visão, audição, olfato, paladar, tato e de outros eventuais sentidos humanos. Assemelham-se a um computador que usa fluxo de corrente elétrica para realizar associações e comunicações entre si e equilibrar excitação x inibição. Esse estudo científico da estrutura e do funcionamento do cérebro ajuda a desvendar mistérios e afastar superstições. 
Por sedutora analogia com esses 100 bilhões de células do cérebro humano podemos aventar a hipótese de os 100 bilhões de galáxias serem as células de um magno e vivo organismo em perpétuo movimento no tempo/espaço, dotado de cérebro cósmico com funções semelhantes às do cérebro humano (controle, associação, informação, comunicação). Esse possível e hipotético cérebro cósmico seria a fonte das leis fundamentais do mundo físico e mental. Considerando que o método científico tem sido aplicado não só no estudo do mundo da natureza como também no estudo do mundo da cultura, afigura-se válido aplicar na investigação do mistério cósmico a experiência própria e alheia, a pesquisa histórica, analogia, intuição, reflexão e análise crítica. 

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