domingo, 15 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO III

Doutrinas, dogmas, liturgia, ritos de passagem (nascimento, casamento, morte), atividades pastorais e administrativas, hábitos, estruturam a instituição religiosa e o seu funcionamento. Algumas religiões são ortodoxas, outras, heterodoxas. Monoteístas algumas, politeístas outras. As religiões cristã, islâmica e judia participam do grupo monoteísta. A cristã se divide em católica e protestante, cada qual com subdivisões. Entre as religiões politeístas ainda vivas destaca-se o hinduísmo com sua divina trindade formada por Brahma, deus criador, Vishnu, deus conservador e Shiva, deus destruidor. 
O sonho de uma só religião para a humanidade está longe de se concretizar. A extinção das religiões prevista pelo filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) talvez jamais aconteça. A vida moderna indica a probabilidade do progressivo descrédito da religião institucionalizada. O espírito religioso, entretanto, permanecerá vivo enquanto a maioria da humanidade for medrosa, ignorante, crédula, volúvel e nutrir esperança de vida melhor em outra misteriosa dimensão.     
O poder propiciado pela religião institucionalizada submete povos civilizados por meios: [1] pacíficos (doutrina, catequese, seminário, propaganda, cultos públicos e privados) [2] violentos (guerra santa, terrorismo, lutas internas). Esse poder influi na política qualquer que seja o nível cultural da sociedade como, por exemplo, nas autocracias antigas (Egito, Babilônia, Pérsia) e medievais (França, Inglaterra, Itália) e nas democracias modernas (EUA, Brasil, México). 
Bençãos sacerdotais nas cerimônias oficiais em tempo de paz também precedem batalhas em tempo de guerra. Soldados recebem assistência religiosa. O ateísmo ideológico nos países comunistas como Rússia, China, Albânia, apesar da propaganda e educação oficiais, não erradicou o sentimento religioso do povo. No Tibet, o exército chinês não venceu o budismo tibetano. O fuzil não mata o espírito. 
Livres pensadores discordam do clericalismo e do conteúdo enganoso das escrituras “sagradas”. Presas a interesses econômicos e políticos, as instituições religiosas em nada contribuem para a evolução espiritual da humanidade. Prestam assistência social, porém, coniventes com o status quo, simulam combate à injustiça social. 
Do ponto de vista espiritual, cerca de 7 bilhões de pessoas ainda estão na Idade da Pedra, mentes e corações aprisionados nas cavernas do cristianismo, islamismo, hinduísmo, budismo, taoísmo, xintoísmo, mazdeísmo, judaísmo, espiritismo. A massa de prisioneiros é composta de pessoas de ambos os sexos, escolaridade básica e superior, ricas, remediadas e pobres, parlamentares, chefes de governo, magistrados, sacerdotes, pastores, missionários, rabinos, gurus, pais-de-santo, empresários, economistas, médicos, engenheiros, advogados, artistas, professores, cientistas, filósofos. Essa realidade indica que a evolução espiritual neste planeta tem sido lenta e que serão necessários mais alguns milênios para a humanidade alcançar luz maior, inobstante o formidável progresso científico e tecnológico. 
Nascido na Palestina, então sob domínio romano, o profeta Jesus, concorrendo com profetas daquela mesma época e no mesmo espaço geográfico, criou a sua própria seita ao divergir das outras seitas lá existentes. “Identificar o profeta com deus é idolatria”. [Isaac Newton, 1643-1727]. Jesus tinha afinidade com a seita dos essênios, mas antipatizava com as seitas dos fariseus e dos saduceus e com a classe dos escribas composta de judeus que sabiam ler, escrever, contar e que eram doutores e intérpretes da lei judaica (professores, advogados, juízes). O profeta discordava da rigidez dogmática (o homem não nasceu para o sábado e sim o sábado para o homem), da circuncisão, do ódio ao estrangeiro, do sacrifício, do apedrejamento, do comércio no templo, do espírito mercantil e hipócrita dos sacerdotes e escribas. Ele escolheu e doutrinou 12 judeus pobres e analfabetos. Instruiu-os a converter judeus e pagãos à nova doutrina. Ensinou-lhes a curar enfermidades. Eles deviam amar a deus e ao próximo, obter da caridade alheia o necessário para sustento próprio e da família, viver em comunhão, distribuir internamente os bens arrecadados, dedicar o seu tempo à missão evangelizadora e às tarefas domésticas.
Indagado sobre quem chefiaria a seita depois da sua morte, Jesus indicou seu irmão Tiago. Crucificado o líder, a seita se desvinculou da religião judaica, organizou-se, prosperou e se universalizou com o status de religião autônoma. Paulo, judeu fariseu, foi um dos fundadores da nova religião junto com os israelitas Pedro e dois irmãos de Jesus: Tiago e Judas Tadeu. Desertor das fileiras da milícia do templo judeu, Paulo seria preso se ficasse na Palestina. A catequese em terras estrangeiras coube a ele e a outros companheiros. 
Bibliografia: Após o sexto e último artigo desta serie. 

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